O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou hoje a comentar o desaparecimento do repórter Dom Phillips e do indigenista Bruno Araújo Pereira na área do Vale do Javari, no Amazonas — ambos foral vistos pela última vez em 5 de junho. Em entrevista ao canal da apresentadora Leda Nagle no YouTube, ele afirmou que o jornalista era “mal visto na região” por fazer “muita matéria contra garimpeiro” e/ou com foco em conflitos ambientais. Também classificou a presença do britânico no local como uma “excursão”.
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Dom e Bruno sumiram depois de uma pausa em uma comunidade ribeirinha, quando estavam fora da terra indígena do Vale do Javari e voltavam para a cidade de Atalaia do Norte, no oeste do Amazonas. O trajeto tem cerca de 70 km. Colaborador do jornal inglês The Guardian, o repórter percorre a região para produzir reportagens.
“Os dois resolveram entrar numa área completamente inóspita sozinhos, sem segurança e aconteceu problema. Desde primeiro dia estamos buscando as pessoas na região e não estamos tendo sucesso”, disse.
O presidente, que tem sido pressionado publicamente por opositores, por autoridades e pela mídia internacional, afirmou que a região do Vale do Javari é “bastante isolada” e que “muita gente não gostava” de Dom. Para Bolsonaro, o jornalista, a quem chamou de “esse inglês”, deveria “ter segurança mais que redobrada consigo próprio”.
“Esse inglês, ele era mal visto na região. Porque ele fazia muita matéria contra garimpeiro, a questão ambiental… Então, aquela região lá, que é bastante isolada, muita gente não gostava dele. Ele tinha que ter mais do que redobrado a atenção para consigo próprio. E resolveu fazer uma excursão.”
Jair Bolsonaro
Essa não é a primeira vez que Bolsonaro tenta relacionar o desaparecimento [decorrente de um possível ato de violência, ainda não confirmado pelas autoridades policiais] com um suposto descuido de Dom Phillips e de Bruno Pereira. Em 7 de junho, dois dias depois que o sumiço foi relatado, o presidente afirmou publicamente que ambos estavam em uma “aventura” “não recomendável” pela Amazônia.
Ao ilustrar o que considera ser um ambiente inóspito no Javari, Bolsonaro disse que “lá tem pirata no rio”, “tem tudo”, e reforçou o argumento de que, para ele, Phillips não teria tomado os devidos cuidados de segurança.
“(…) A gente não sabe se, quando ele saiu do porto, só dois, alguém viu e foi atrás dele. Se foi… Lá tem pirata no rio. Tem tudo o que se possa imaginar lá. E é muito temerário você andar naquela região sem estar devidamente preparado, né… Física, mente e também com armamento. Devidamente autorizado pela Funai e, pelo que parece, não estavam.”
Bolsonaro comentou ainda a iniciativa de parlamentares da oposição que recorreram à Justiça com o objetivo de responsabilizar o governo federal. Segundo o presidente, 60 mil pessoas desaparecem por ano no país. “Imagina, Leda, você… Nós termos um filho pequeno desaparecido… Como fica a vida da gente. E desapareceu como, né, o que fizeram com essa criança, com esse adulto com esse idoso.”
Região tem escalada de violência
Localizada na fronteira com o Peru e a Colômbia, com acesso restrito por vias fluviais e aéreas, a região do Vale do Javari abriga a maior concentração de povos indígenas isolados no mundo.
De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, houve um crescimento de 9,2% na violência letal entre 2018 e 2020 em cidades de floresta na região Norte do país. Isso inclui uma guinada na ocupação da área demarcada, no avanço do tráfico de drogas, da caça clandestina, da extração ilegal de madeira e da mineração de ouro.
Ontem, o prefeito de Atalaia do Norte, Denis Paiva (União Brasil), falou que o sumiço pode ter relação com a “máfia dos peixes”, conforme mostrou a agência de notícias norte-americana AP (Associated Press): “O motivo do crime é uma briga pessoal pela fiscalização da pesca”, afirmou.
O ex-presidente da Funai (Fundação Nacional do Índio) Sydney Possuelo disse ontem acreditar que Bruno e Dom foram vítimas de uma emboscada. À PF, o procurador da Univaja, Eliésio Marubo, afirmou ter recebido uma mensagem de Bruno alertando que “corria risco de vida”.
Fonte: UOL