A Polícia Federal afirma em documento enviado ao TSE que a rede de apoiadores de Jair Bolsonaro envolvida na difusão de desinformação sobre as urnas eletrônicas se vale de uma estratégia de comunicação utilizada nas eleições de 2016 nos EUA e creditada a Steve Bannon, ex-estrategista de Donald Trump. As informações são da coluna Painel, da Folha.
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Espécie de guru da campanha do ex-presidente americano, Bannon foi conselheiro da consultoria Cambridge Analityca, envolvida no escândalo do uso de dados de usuários do Facebook na campanha eleitoral, e comandava o site Breitbart News, conhecido por disseminar desinformação.
O mesmo modelo, diz a PF, teria sido empregado ainda nas eleições de 2018, quando Bolsonaro foi eleito.
Nele, explica o pedido da polícia, múltiplos canais na internet procuram eliminar a figura dos intermediários formadores de opinião, desqualificar as posições contrárias e promover “ataque aos veículos tradicionais de difusão de informação (jornais, rádio, TV, etc)”.
O objetivo seria chegar ao público de forma “direta, horizontal, ao dissipar a distinção entre o que é informação e o que é opinião”.
“É um modelo exitoso de influência baseado na forma como os indivíduos percebem, aprendem, absorvem e difundem as informações que outros fornecem no processo de comunicação (psicologia cognitiva)”, diz a polícia no pedido enviado ao TSE para suspender pagamentos das redes sociais a canais que propagam mentiras.
Segundo a PF, duas investigação que miram Bolsonaro e seus apoiadores, a das fake news e a de organização criminosa oriunda do inquérito do atos antidemocráticos, apontam para idealizadores, produtores, difusores e financiadores de conteúdo utilizado para espalhar desinformação nos moldes vistos nos EUA.
Essas pessoas e suas respectivas páginas, afirma a PF, formam uma rede de disseminação de notícias falsas ou “propositalmente apresentadas de forma parcial” que visa angariar “vantagens político-partidárias e/ou financeiras”.
Ainda de acordo com a PF, esse modelo já foi descrito por estudiosos e se sustenta uma rede de multicanais, rápida, contínua e repetitiva que tem como foco a “formação de uma primeira impressão duradoura” em quem recebe o conteúdo.
Além dessas características, o método de atuação não teria compromisso com a verdade tampouco com a consistência do discurso ao longo do tempo.
“Identificou-se referida prática, convergente com o modo de agir aqui descrito, em relação à difusão de supostas fraudes no processo eleitoral com o emprego de urnas eletrônicas, tendo como figura central, neste caso específico, o Exmo. Sr. Presidente da República Jair Bolsonaro”, diz a PF.
O modo de atuação, diz a PF, se dá em um processo de “dupla sustentação” no qual os canais “que repercutem as insinuações ganham com o número de visualizações geradoras da monetização” e narrativa falsa sobre as irregularidades se fortalece “pela multiplicidade de canais que reiteram a mensagem”.
“Quanto mais polêmica e afrontosa às instituições for a mensagem, maior o impacto no número de visualizações e doações, reverberando na quantidade de canais e no alcance do maior número de pessoas, aumentando a polarização e gerando instabilidade por alimentar a suspeição do processo eleitoral, ao mesmo tempo que promove a antecipação da campanha de 2022”, afirma a PF.