A cúpula da CPI da Covid considera que já foi demonstrada a existência de gabinete paralelo , para aconselhamento alternativo sobre saúde no Palácio do Planalto, durante a pandemia do novo coronavírus. Para reforçar a ideia, foi divulgado na sexta-feira vídeo de uma reunião em setembro do ano passado no Palácio do Planalto, organizada pelo deputado e ex-ministro Osmar Terra (MDB-RJ), apontado pela CPI da Covid como um dos integrantes do “gabinete paralelo” que patrocinou o uso da cloroquina no governo. Nenhum dos participantes usava máscara de proteção.
Relembre o que a CPI já ouviu sobre a gestão informal da pandemia:
Conselheiros e mudança de bula
Em depoimento, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta disse que integrantes do governo e médicos, entre eles Nise Yamaguchi, participaram de uma reunião no Planalto sobre a alteração da bula da cloroquina por decreto . A proposta era incluir o tratamento da Covid-19 entre as indicações previstas. Mandetta disse que viu uma minuta de documento e que Bolsonaro parecia ouvir “outras fontes” que não o ministério. Segundo o ex-ministro, os filhos do presidente, os irmãos Weintraub, o deputado Osmar Terra (MDB-RS) e Nise eram os principais conselheiros de Bolsonaro.
Falta de autonomia do ministro da Saúde
O ex-ministro da Saúde Nelson Teich ressaltou em depoimento à CPI da Covid que deixou o governo por não ter autonomia e liderança na pasta, além da insistência de Bolsonaro na implementação do uso da cloroquina contra a Covid-19. Teich também contou aos senadores que algumas decisões a respeito do uso do remédio não passaram pelo Ministério da Saúde. Segundo o ex-ministro, não houve nenhuma solicitação de sua pasta e que nem chegou a ter conhecimento do aumento da produção de cloroquina pelo Laboratório Químico do Exército.
Negociação de vacinas com Carlos
O depoimento do ex-chefe da Secom Fabio Wajngarten reforça que ações do governo contra a pandemia passavam por fora do Ministério da Saúde. O ex-secretário confirmou à CPI que se reuniu com a Pfizer para tratar da compra de vacinas, após uma carta da farmacêutica endereçada ao presidente e ao então ministro Eduardo Pazuello oferecendo imunizantes ser ignorada . O gerente da Pfizer para a América Latina, Carlos Murillo, informou em depoimento que o vereador Carlos Bolsonaro e o assessor especial da Presidência Filipe Martins participaram da reunião.
Reuniões com integrantes do gabinete
Supostos integrantes do gabinete paralelo tiveram ao menos 29 agendas oficiais do presidente e de integrantes do governo, segundo documentos entregues à CPI, entre eles Nise Yamaguchi. O depoimento da médica também reforçou a suspeita. Embora tenha negado que tenha havido uma minuta para mudar a bula da cloroquina em uma das reuniões, ela confirmou que houve discussão do tema. Ela também entregou uma troca de mensagens na qual afirma que o decreto como estava feito não era a forma correta de fazer a mudança “porque exporia muito o presidente”.
Fonte: Agência O Globo