Dos 23 municípios que possuem leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) para atender pacientes com quadros mais graves de Covid-19 no Ceará, 13 ou 56,52% registram taxa de ocupação igual ou superior a 90%.
Dentre as 13 cidades, seis apresentam situação ainda mais crítica, com taxa de ocupação de 100%. É o caso de Caucaia, Juazeiro do Norte, Canindé, Crato, Icó e Brejo Santo. Os dados são da plataforma IntegraSUS, gerida pela Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) e atualizada às 16h04 desta quarta-feira (28).
Em Juazeiro do Norte, há 64 leitos ativos disponíveis para adultos em UTIs do Hospital Regional do Cariri (HRC). Já em Caucaia, há 20 leitos UTI ativos para adultos no Hospital Municipal Abelardo Gadelha da Rocha. Todos ocupados.
De acordo com a infectologista e professora da faculdade de Medicina da UFC, Mônica Façanha, já é esperado que em cidades polos como Caucaia e Juazeiro do Norte a maioria ou todos os leitos de UTI estejam ocupados, pois elas costumam receber pacientes de municípios próximos.
Estas cidades também concentram um número elevado de habitantes. Consequentemente, os registros de aglomerações são mais comuns, fazendo crescer as infecções pela doença e a procura por assistência médica.
Dentre os municípios cearenses com leitos de UTI ativos, Tauá (76,92%), Maranguape (80%) e Redenção (80%) são aqueles que apresentam as menores taxas de ocupação. No Ceará, como um todo, a taxa de ocupação em UTIs chegou a 91,25% no início da noite desta quarta. Já a de enfermaria, ficou em 75,47%.
Ocupação prolongada
Na Capital cearense, a taxa de ocupação de UTIs Covid – de 89,7% – ficou abaixo dos 90%, mas ainda muito próxima deste percentual. A justificativa da queda, aponta Mônica Façanha, está associada à atual tendência de redução na curva de transmissão do vírus. Além disso, Fortaleza soma uma maior quantidade de leitos UTI ativos.
Embora o cenário pareça positivo, com uma tendência de redução da transmissão e das filas de internação, haverá um processo lento e gradual até a queda significativa de casos e na ocupação de leitos.
“A gente pode comemorar que a expectativa é de redução. Isso realmente é uma boa notícia, mas ainda dentro de um panorama de gravidade. Estávamos em um patamar muito alto. Até voltar para a etapa pré-segunda onda vai levar um pouquinho de tempo.”
Mônica Façanha, infectologista e professora da UFC
Na opinião da especialista, a predominância de uma alta taxa de ocupação de leitos no território cearense tem como justificativas o atual momento da pandemia e a própria forma como a Covid-19 vem se manifestando.
Devido à nova variante, a transmissibilidade do vírus se tornou maior, assim como o tempo de internação dos pacientes. Por isso, mesmo que haja uma redução no número de pessoas diagnosticadas com a doença, “ainda vai ter um tempo das que já se infectaram ficarem graves e das que ficaram graves saírem da internação”.
Essa tendência, segundo a infectologista, deve perdurar por algum tempo. Por isso, é importante manter as medidas de proteção contra a Covid e, assim, evitar ao máximo a necessidade de ocupar um leito hospitalar.
Primeira onda x segunda onda
Professora do curso de Enfermagem da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e pesquisadora do CNPq Thereza Maria Magalhães Moreira endossa que a segunda onda alterou o “padrão” da Covid-19. Agora, boa parte dos idosos estão vacinados e os jovens são os pacientes mais acometidos pela doença.
Somado a esses fatores, há menor rotatividade dos leitos devido ao maior tempo de internação e o tempo de agravamento da doença foi alterado da primeira onda para a segunda.
“Na primeira onda, as pessoas geralmente complicavam até o dia 12 [após o diagnóstico]. Agora, a gente já pegou pacientes sendo intubados no dia 19. Então, isso já mostra uma maior agressividade dessa conformação atual do vírus”.
A agressividade, aponta a pesquisadora, pode ser vista no grau de complexidade da doença quando acomete pacientes jovens. E ainda nos casos de infarto e AVC súbitos, que demandam investigação, mas que podem, sim, ter relação com o vírus.
Por esses complicadores, Thereza acredita que as taxas de ocupação de leitos de UTI tendem a permanecer altas no Ceará. “Elas não vão baixar logo não. O que vai provavelmente baixar, considerando que passamos pelo pico, é o número de novo infectados. Na medida em que houver menos infectados, eu começo a descer a onda”.
UTIs instaladas
Embora a Sesa aponte que São Gonçalo do Amarante, Quixadá, Itapipoca e Iguatu estão entre os 23 municípios do Estado a dispor de UTIs, os dados sobre a ocupação de leitos não aparecem contabilizados na plataforma.
A instalação de UTIs nos municípios, segundo a pasta, considera aqueles que têm hospitais polos e localizados em cidades com mais de 50 mil habitantes. Cada um, pode receber 10 leitos de UTI, pelo menos.
Confira a lista dos municípios com taxa de ocupação igual ou superior a 90%:
• Brejo Santo
• Canindé
• Caucaia
• Crateús
• Crato
• Eusébio
• Icó
• Juazeiro do Norte
• Limoeiro do Norte
• Maracanaú
• Quixeramobim
• Sobral
• Tianguá
Por Lígia Costa
Fonte: Diário do Nordeste