E eis que o messias se movia sobre a face das águas sujas dos esgotos do Congresso e o crime organizado da política nacional disse: “Vai! Espalha as trevas sobre o presente e o futuro do Brasil. Haverá um golpe sem misericórdia e a grande imprensa erguerá o teu nome e transformará a velha bandidagem em boa nova. Os tribunais validarão a tua falta de dignidade e punirão com a insolência da podridão todo aquele que questione a Constituição rasgada no chão, onde a escória pisa, cospe e mija. Falanges e legiões de fanáticos te seguirão, farfalhando suas asas fedidas, em nome de Deus e da família. Vai, que é garantido.”
Desde então o evangelho segundo a pilantragem está sendo escrito e pregado, sendo posto nos bolsos da vergonha alheia, com o brilho e o tilintar das moedas de Judas. Essa cruzada contra a dignidade nacional tem nome e endereço, tem golpe fixo e péssimos antecedentes. Os discípulos fazem seguidores com a mesma facilidade com que multiplicam peixes e pão em dízimos, com o poder da extorsão da palavra de Deus. A leitura tosca do Velho Testamento serve para garantir a multiplicação da imbecilidade e da estupidez, em um terreno preparado para o cultivo do fracasso escolar, da pobreza e do servilismo moral. A típica família brasileira é destituída de discernimento raso, pois ocupada demais em sobreviver onde a falta perene de recursos mínimos serve de pedra fundamental de palanques e altares de araque.
Das grandes fortunas construídas na bandidagem emana o poder que invade o poder do Supremo Tribunal Federal, que se põe possuído pelo espírito de Pôncio Pilatos e lava as mãos e assina a fatura do golpe e a continuidade do golpe. Embora pareça, a utilização do santo nome não é em vão, tem propósito definido, busca o milagre da manutenção do poder. O primitivismo é a forja da barbárie, que por si só alimenta o ódio que divide o país. Para que o povo escolhido não reconheça o crime organizado do falso profeta é necessário criar uma série de cortinas de fumaça. O apelo de inocência do submundo recai sobre a ignorância. Assim o lado sombrio da alma humana se torna evangelizador. Dessa forma ser corja é motivo de honra e orgulho ideológico. A atual ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos Damares Alves é um dos exemplos de como funciona a maquinaria religiosa da bandidagem.
Ela é advogada formada em uma universidade extinta por seus crimes educacionais, integra a Associação Nacional de Juristas Evangélicos, que defende o projeto Escola Sem Partido. É pastora e mentirosa, disse em uma pregação que viu Jesus numa goiabeira, sendo multiplicadora do estelionato da fé. Defende a postura submissa da mulher perante o machismo. Recentemente, em estado absoluto de sordidez, culpou a menina de 10 anos por engravidar por estupro, absolvendo no átrio o tio estuprador, por suas habilidades sexuais em saber tocar o corpo da criança. Foi contra o aborto desse fruto, defendeu a divindade desse feto e proclamou o estupro como consequência da porção diabólica da mulher. Essa é a forma do governo Bolsonaro defender a Mulher, a Família e os Direitos Humanos em nome de Deus.
Um outro exemplo de retidão de caráter e de pulsão arrebatadora da fé vem de outra pastora, Flordelis, apoiadora de Bolsonaro, elogiada por Damares e pelo clã Bolsonaro, apontada como exemplo a ser seguida, pela honestidade e por ser terrivelmente evangélica. Mandou matar o marido, que era seu filho adotivo, que foi marido da sua filha e que agora está sentado ao lado direito do absurdo, esperando ser ressuscitado pela justiça brasileira, após o fim da imunidade parlamentar da pastora bandida. Não seria surpresa se essa flor maligna apelasse para o ministro da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça, capataz de Bolsonaro e terrivelmente evangélico, ele pode muito bem garantir um habeas corpus ou uma demonização de esquerda de um possível corpo de jurado, uma vez que ele tem um dossiê de subversivos da fé cristã.
Já o pastor Everaldo é um exemplo à parte da fé miliciana. Com o poder ungido de todos os canalhas ele batizou Bolsonaro no rio Jordão. Não é para qualquer um. Não é um rio qualquer. Não é um presidente qualquer. Isso é história pura e cotidiana: os apóstolos da bandidagem protagonizando atos de conversão do crime em milagre. Do alto da sua autoridade divina o pastor Everaldo vem roubando religiosamente o dinheiro público carioca há mais de dez anos, professando, discipulando, evangelizando, no templo das falcatruas, em nome de Jesus. Mesmo com toda a vidência divina, com todo o espírito de pureza angelical, mesmo com toda a autoridade espetacular dos cultos eletrônicos, o pastor Everaldo decepciona. Para sacrilégio da via sacra, ele se recusa a responder o motivo de Queiroz ter depositado 89 mil na conta da primeira dama. E o culto segue.
Por Marcos Leonel – Escritor e cidadão do mundo
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