Quem passa na Rua Enfermeira Bernadete Gonçalves, no bairro São Miguel, no Crato, avista de forma curiosa uma mesa de madeira colocada na calçada. Acima dela, um cartaz com uma singela frase que tem feito a diferença na vida de dezenas de famílias: “Doe alimento e, se precisar, pegue um”. Essa ação, que parece simples, é fundamental para ajudar pessoas em vulnerabilidade social que, desde o início da pandemia da Covid-19, enfrentam dificuldades.
A iniciativa é da universitária Carolina Sena, de 23 anos. Tudo começou com uma postagem que ela viu nas redes sociais sobre doação de alimentos e a necessidade que muitas pessoas estão passando durante este período. “Num momento de reflexão, decidi criar uma mesinha solidária na calçada de minha casa com intuito de arrecadar alimentos para famílias mais carentes da rua em que moro e das proximidades”, conta. Com ajuda de sua família e, em especial, sua tia, a educadora física Paulina Melo, o projeto foi se consolidando.
A princípio, a ideia era que as pessoas que pudessem doar alimentos, e, as que precisassem, poderiam pegar o necessário. “Minha tia postou nas redes sociais para os amigos poderem ajudar, alguns até de fora do País, vendo nossa ação, ajudaram mandando um valor em dinheiro”, lembra a estudante.
A quantia foi utilizada para comprar uma boa quantidade de alimentos que foram distribuídos por 30 famílias de bairros mais vulneráveis da cidade. Além disso, o projeto recebeu kits de higiene pessoal e 100 máscaras de um empresário de Iguatu. Tudo isso foi distribuído junto com as cestas dispostas na mesinha para quem precisasse pegar.
“As pessoas se acostumam a procurar o que já não têm em casa e que não podem comprar no momento. Às vezes é arroz, feijão, macarrão, óleo, sabonete, pasta de dente, o que tiver na mesinha e a pessoa precisar ela pode se sentir à vontade para pegar. Tudo é doado com muito amor”, enfatiza Carolina.
Uma das beneficiadas desta iniciativa foi Joana d’Arc Caetano, de 38 anos, catadora de materiais recicláveis. Mãe de três filhos, ela viu sua renda cair mais da metade com a pandemia. Se antes conseguia entre R$ 80 a R$ 100 por semana com a venda do que colhia nas ruas, agora apura cerca de R$ 30 a R$ 40.
“No começo, foi muito difícil. As empresas pararam de comprar. Quando voltou, o preço do quilo caiu pela metade. Essa iniciativa me ajudou muito e ainda ajuda. Agradeço todos os dias o bem que esse trabalho está fazendo. Se não fosse ele, não sei como estaria minha situação”, conta.
Até agora, 80 cestas básicas já foram entregues, mas, em geral, somando os alimentos deixados na mesinha, é impossível mensurar o quanto já circulou e quantas famílias já foram beneficiadas. Para ampliar a divulgação e alcançar mais pessoas, Carolina e Paulina criaram um perfil no Instagram. Batizado de “Regando Sorrisos”, a página detalha como as pessoas podem doar.
Por Antonio Rodrigues
Fonte: Diário do Nordeste