O técnico em informática Danilo Maurício Alves Xavier, 30, morreu após receber uma descarga elétrica em sua residência, em Nova América, cidade a 245 km de Goiânia. O componente incomum dessa história, ocorrida no último sábado (3), é que em tese a corrente elétrica chegou a Xavier pelo fone de ouvido que ele usava. A perícia sobre o caso está prevista para ficar pronta em 30 dias, mas, até lá, fica a pergunta: fones de ouvidos são perigosos?
Segundo especialistas consultados, é praticamente impossível que os fones, sozinhos, tenham sido os vilões dessa história. Rudolf Bühler, professor de engenharia elétrica do Centro Universitário FEI, acredita que não seja caso para pânico e é preciso esperar o laudo para confirmar se a origem do problema foi o fone.
O mais provável é que a fonte do problema seja algo externo, como um raio ou falha na rede elétrica. Como houve parada cardíaca no acidente, a vítima foi submetida a uma grande corrente, e aparelhos como fones de ouvido trabalham com correntes bem baixas, em miliamperes, insuficientes para causar problemas ao corpo humano.
“O fone estava ligado ao computador e, mesmo com o relato de que não houve raio, pode acontecer da rede elétrica sofrer oscilações. Não é preciso um raio para haver a queima de eletrodomésticos em uma casa”, explica.
Mesmo com relatos dizendo o contrário, a hipótese de um raio não deve ser descartada. Não é nem preciso que ele caia muito próximo do local do problema. “Por vezes, um raio na rede elétrica pode causar problemas a mais de meio quilômetro de distância”, diz Edval Delbone, coordenador do curso de Engenharia Elétrica do Instituto Mauá de Tecnologia.
Mesmo que o risco de acidentes causados por fones seja baixo, a recomendação é que se compre apenas modelos de marcas conhecidas e evite ao máximo produtos piratas ou de procedência duvidosa. Além de garantirem a sua segurança, os produtos oficiais seguem os mínimos padrões de qualidade.
Rede elétrica pode influenciar
Se a origem da descarga for externa e tenha chegado ao ouvido de Xavier por outras consequências, isso indica que a instalação elétrica da casa poderia não estar dentro das normas. Alguns aparelhos obrigatórios da rede, como o interruptor de diferencial residual (DR), o dispositivo de proteção contra surtos (DPS) e, principalmente, o aterramento correto da instalação, ajudam a evitar acidentes e a proteger equipamentos em caso de tempestades.
Edson Martinho, diretor executivo da Abracopel (Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade), sugere uma hipótese. A vítima pode ter tocado algum objeto energizado —a carcaça metálica do computador, por exemplo— o que levaria a corrente pelo corpo até o fone de ouvido. Se foi o caso, o aterramento e os aparelhos de proteção da rede elétrica evitariam a tragédia.
Mesmo com a obrigatoriedade desses equipamentos, eles ainda não são comuns nos lares brasileiros. Segundo Martinho, é possível encontrar DR instalados em 21% das residências. “Já aterramento é um caso à parte. Em 40% dos lares há algum tipo de aterramento, mas feito de maneira localizada, em aparelhos como geladeiras e chuveiros. Já o aterramento correto, feito para toda a instalação, ainda é raro e deve estar presente em 5% a 10% das moradias”, conclui.
Além disso, a obrigatoriedade das tomadas de três pinos, em 2011, deveria ser um incentivo para ajustar as instalações elétricas residenciais, já que o terceiro pino é o fio terra, que leva para a terra qualquer descarga elétrica fora do normal. Por isso um sistema de aterramento é fundamental para este pino da tomada.
Mas parte da população achou “jeitinhos” de driblar isso, que incluem desde o corte do terceiro pino até a instalação de tomadas de três pinos sem conexão a um sistema de aterramento ou, ainda, ao uso de adaptadores que não atendem aos padrões de segurança. Segundo a Abracopel, em 2020 foram 203 mortes no Brasil decorrentes de choques elétricos dentro de residências.
Fonte: Tilt/UOL