A recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que permite a responsabilização de plataformas digitais por postagens de terceiros, reacendeu discussões sobre a opacidade e os impactos dos algoritmos nas redes sociais. Especialistas apontam que os sistemas de recomendação, baseados em curadoria algorítmica, favorecem a desinformação, criam bolhas de opinião e dificultam o acesso a conteúdos jornalísticos e confiáveis.
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Esses algoritmos operam com base em padrões de comportamento digital, definindo o que aparece no feed de cada usuário. No entanto, não há controle público nem mecanismos de transparência que permitam entender como essas escolhas são feitas.
🔄 Curadoria algorítmica: engajamento acima da qualidade
O modelo adotado pelas plataformas tem como prioridade maximizar o tempo de permanência e o engajamento do usuário, e não necessariamente entregar conteúdos de interesse público ou de alta qualidade. A curadoria invisível dos algoritmos:
• Agrupa usuários por padrões de consumo;
• Recomenda conteúdos com maior chance de retenção;
• Desconsidera critérios como diversidade de fontes ou relevância jornalística;
• Amplifica publicações sensacionalistas ou de baixa credibilidade.
A consequência é uma internet cada vez mais fragmentada, com informações de baixa qualidade ganhando destaque enquanto conteúdos relevantes ficam invisíveis.
📉 Criadores perdem espaço e controle
A lógica dos algoritmos também afeta diretamente quem produz conteúdo. Sem acesso aos critérios de recomendação, dados de exibição e métricas de alcance, criadores se veem reféns de um sistema opaco e concentrado nas mãos das plataformas.
Quem chama atenção para esse cenário é a professora Rose Marie Santini, da Escola de Comunicação da UFRJ e diretora do NetLab. Em artigo publicado no The Conversation, ela destaca:
“Os sistemas de recomendação não preveem o gosto individual, mas o da comunidade de gosto à qual o usuário pertence.”
Segundo Santini, os algoritmos associam cada pessoa a um grupo com preferências semelhantes e, com base nesse agrupamento, determinam o que será exibido. A pesquisadora explica que esse tipo de curadoria tem origem nos antigos sistemas de recomendação de música:
“Foi o primeiro tipo de conteúdo a sofrer os impactos da internet e atrair esforços de inovação tecnológica.”
🚨 Desinformação e manipulação do debate público
A falta de transparência nos algoritmos abre espaço para ações coordenadas de desinformação, alertam pesquisadores. Grupos políticos, econômicos e até criminosos se aproveitam das brechas do sistema para:
• Disseminar conteúdo falso em grande escala;
• Utilizar bots e perfis falsos para criar engajamento artificial;
• Distorcer a percepção pública sobre o que é relevante;
• Manipular o debate político, especialmente em períodos eleitorais.
Segundo Santini, combater esse cenário exige ações coordenadas em três frentes:
• Cultural: fomentar a educação midiática e digital;
• Política: criar regulação efetiva para as plataformas;
• Econômica: responsabilizar quem lucra com a desinformação.
“É preciso regulamentar as plataformas, garantir transparência nos algoritmos e responsabilizar quem lucra com a desinformação”, conclui Santini.
Por Bruno Rakowsky










