O 5G chegou oficialmente no Brasil, começando pela cidade de Brasília na última quarta (6), com promessa de grandes vantagens tanto para o consumidor final quanto para a indústria e os setores de serviços. Porém, pesquisas indicam que o brasileiro ainda sabe muito pouco sobre essa nova tecnologia de transmissão de sinal.
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Ainda há muita confusão sobre os benefícios, os problemas ou mesmo as etapas e dificuldades para a implementação no país. Confira algumas das dúvidas mais comuns:
Quando o 5G vai chegar em todo o Brasil?
Ainda deve demorar. Há problemas na instalação da infraestrutura e também na frequência utilizada para esse sinal. A faixa de 3,5 GHz, a mais comum em países que já possuem 5G, precisa ser “limpada” para que essa internet móvel seja oferecida. Atualmente, no Brasil, ela é utilizada por antenas parabólicas.
“Milhões de famílias acessam a TV aberta pública por meio da TV parabólica. Nós não podemos ainda ligar o 5G porque, se ligar, derrubamos esse sinal”, explica Marcos Ferrari, presidente-executivo da Conexis, entidade que reúne as operadoras de telecomunicação Claro, Vivo, Oi e Tim.
A operação das parabólicas está sendo transferida para outra faixa, mas essa dificuldade já levou a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) a prorrogar o prazo de lançamento do 5G nas capitais até setembro. Apesar disso, Ferrari afirma que a indústria já está pronta em várias cidades.
O 5G vai precisar de mais antenas?
Vai, mas provavelmente não é o tipo de antena que você está imaginando. E esse é um dos principais entraves na expansão da tecnologia.
Embora a aplicação do 5G tenha coordenação federal, a implantação das antenas exige uma licença municipal. E, dentre as 27 capitais, apenas 12 estabeleceram leis adequadas para isso.
“Nós temos 5.570 leis municipais de antenas no país, cada uma falando uma coisa diferente”, explica Ferrari. “A maioria são da década de 90, quando antena de celular era uma coisa muito maior, de 3 ou 4 metros. Com o 5G, estamos falando de uma antena que é menor que um split de ar condicionado.”
Para o presidente da Conexis, a legislação defasada já era “um gargalo” para o 4G e será ainda pior na nova geração de sinal. “Se a gente não conseguir botar antena, não tem milagre. Se não tem antena, não tem sinal de celular.”
E, por falar no tamanho reduzido das antenas, ele desmente outro mito: o de que o 5G causaria mais poluição visual.
Por que as antenas de 4G não são o suficiente?
Primeiro, porque o 4G ainda será mantido. Segundo, por uma questão técnica, explicada pelas leis da física.
De acordo com Flávia Bartkevicius Cruz, coordenadora da Divisão Técnica de Telecomunicações e Conectividade do Instituto de Engenharia, basta levar em conta que a frequência é inversamente proporcional ao comprimento de onda.
“Quanto maior a frequência, menor o comprimento de onda. Como a frequência do 5G é alta, a onda dele é curta”, afirmou, fazendo referência à faixa de 3,5 GHz, que será a principal para operação da tecnologia. Com ondas mais curtas, é preciso de mais antenas — mais do que as que já existem para o 4G.
“Senão, praticamente qualquer parede vai travar o sinal. Pense no wi-fi da sua casa, há lugares em que ele não pega tão bem”, completa Cruz
Tanta antena não faz mal para a saúde?
Outro mito sobre o qual existem muitas fake news: a radiação emitida pelas antenas do 5G supostamente causaria problemas à saúde humana. Não é verdade, garante Bartkevicius Cruz. Ela diz que nós já nos expomos à radiação todos os dias, sem qualquer complicação decorrente disso.
Embora a palavra “radiação” assuste, é preciso diferenciar entre radiação ionizante e não ionizante. A primeira possui alta energia e necessita de cuidados especiais (como os equipamentos que usamos para fazer um raio-X, por exemplo). A segunda tem energia baixa e está presente na luz, no calor e nas ondas do rádio. E é essa que é emitida pelas antenas do 5G.
A quantia emitida pelo 5G está bem abaixo dos padrões estabelecidos pelo ICNIRP, sigla em inglês para Comissão Internacional de Proteção contra a Radiação Não Ionizante. Esse é o órgão que determina os limites de exposição humana aos campos eletromagnéticos usados por aparelhos como telefones celulares.
Além disso, como já dito, a frequência a ser usada pelo 5G já era ocupada pelas antenas parabólicas e nunca causou qualquer dano à saúde.
Bartkevicius Cruz recorre à uma analogia para explicar, mais uma vez, uma questão básica da física.
“Mais antenas e as antenas emitem ondas. Mas você já jogou pedra no rio? Ela gera uma onda que vai crescendo. Agora, você já jogou duas pedras, uma de cada lado? As ondas se anulam. Onde elas se encontram, elas começam a diminuir de novo. O mesmo vai acontecer com as ondas de 5G”, afirma.
O 5G vai mesmo causar uma revolução?
Essa é uma das questões mais difíceis de se responder e exige um pouco de futurismo. Em tese, como sua velocidade é cerca de cem vezes maior que a do 4G, o 5G tem tudo para transformar completamente a maneira como fazemos as coisas. Mas, pelas questões já expostas acima, essa mudança não será imediata.
De qualquer forma, se no 4G o celular foi a grande estrela, no 5G, ele ainda vai se beneficiar muito, mas será mais coadjuvante.
“Haverá infinitas aplicações industriais, comerciais, agrícolas, médicas, educacionais, sobre as quais não estamos nem acostumados a pensar ainda”, diz, apostando em grandes mudanças nos setores econômicos da sociedade em decorrência da nova tecnologia.
Um dos exemplos que Ferrar cita será a supervisão de lavouras por meio de drones, que vão ajustar o tempo de irrigação do solo e o tempo de colheita. Ou também o controle de rebanhos, com transmissão de informação para avaliar com facilidade o peso, a altura e a alimentação de cada animal. Na indústria, as fábricas poderão ser totalmente automatizadas, sem intervenção humana.
Mas, apesar disso tudo, Ferrari diz que é preciso ter calma, apostando que o 4G ainda servirá a maioria dos brasileiros por muitos anos.
Cruz concorda, e diz que a grande transformação se dará na escala industrial, e não pessoal. Para ela, quem espera muito da tecnologia talvez se decepcione. “Quase tudo que o 5G promete, já dá para fazer com 4G. Não dá para sentir muita diferença entre baixar um vídeo em dez segundos, ou baixar em um segundo.”
Fonte: Tilt/UOL