Longe dos holofotes, voltados nos últimos anos para a vitamina D, outro nutriente, ou a falta dele, entrou no radar de cientistas. Um novo estudo, realizado por pesquisadores da Universidade Flinders, na Austrália, indica que o comprometimento cognitivo pode estar relacionado à deficiência de vitamina C.
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A descoberta alerta para os baixos níveis dessa vitamina, especialmente entre idosos. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), entre 25% e 30% de pessoas nesta faixa etária têm deficiência do nutriente.
“Pesquisas anteriores mostraram que a vitamina C desempenha um papel significativo no funcionamento do cérebro, e sua a deficiência pode estar associada ao comprometimento cognitivo, depressão e confusão mental”, diz o autor principal do estudo, Yogesh Sharma, professor de medicina na universidade. O comprometimento cognitivo provoca dificuldade em lembrar coisas, se concentrar ou tomar decisões, por exemplo.
A pesquisa, que envolveu 160 pacientes internados com mais de 75 anos, mostrou que os escores da função cognitiva foram significativamente menores entre os pacientes com deficiência de vitamina C, chegando a quase três vezes mais chances de desenvolver problemas do que nos idosos bem nutridos.
A vitamina C é um poderoso antioxidante, participando de um processo de limpeza do organismo ao atuar na retirada dos radicais livres. Assim, tem papel importante contra o envelhecimento, não só da pele, pelo qual é mais conhecido, mas também na proteção das células cerebrais.
Para o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição, o médico nutrólogo Helio Vannucchi, o novo estudo reforça pesquisas europeias que indicam a importância da vitamina na saúde do cérebro, com destaque para os mais velhos.
— A vitamina C faz parte de um sistema enzimático. Um deles promove a formação de colágeno, uma substância que funciona como um ligamento entre uma célula e outra na camada que envolve os vasos. Se faltar esse colágeno, as células não se juntam adequadamente, aí ocorre extravasamento do sangue para fora dos vasos, provocando micro-hemorragias, que levam também a uma fragilidade muscular, um quadro também típico do idoso — explica o nutrólogo.
A deficiência não é tão comum em adultos jovens. O idoso, porém, corre mais risco de uma má alimentação. Por trás disso, há fatores socioeconômicos, já que frutas, verduras e legumes são mais caros, dificuldade de locomoção para adquirir produtos frescos, problemas de mastigação que atrapalham a absorção e a própria falta de apetite provocada pela idade. Tudo isso contribui para a falta de vitamina C no organismo.
Pele ressecada, cabelo quebradiço, dificuldade de cicatrização, envelhecimento intenso da pele e gengiva sangrando são alguns dos sinais da falta da vitamina C. Mas, para atestar a deficiência, é preciso que seja realizado um exame de sangue.
Melhora na alimentação
Helio Vannucchi afirma que a suplementação dessa vitamina só deve ser feita com prescrição médica, já que, normalmente, não é necessária e pode ser tóxica:
— A minha máxima é que vitamina a gente compra na quitanda e não na farmácia. As pessoas compram frascos de vitamina C, vão tomando sem orientação e correm risco de quadros tóxicos, com diarreia e formação de cálculos urinários. A recomendação é de 75 mg por dia para a mulher e 90 mg para o homem. Se recebe isso está ok, não precisa de mais. O limite é 1 g e, acima disso, corre risco de ter complicações.
A nutricionista Priscilla Primi também defende que o primeiro passo é melhorar a alimentação. Segundo ela, no caso da vitamina C, quanto mais tomar, menos o organismo vai absorver. E, como é hidrossolúvel, ela é excretada, ou seja, o corpo não armazena para depois, como faz com a vitamina D.
— Quantidades muito altas, acima de 1 grama, que é o que está nas pastilhas efervescentes, pode sobrecarregar o sistema renal e ocasionar até pedra no rim em pessoas com tendência. Se ela tem ingestão boa de fruta, uma ou duas por dia, não precisa suplementar. Já é a quantidade suficiente— explica.
A maior oferta de vitamina C vem das frutas. Laranja, limão, acerola, goiaba, mamão, kiwi, caju e tangerina são chamadas de alimento fonte.
— Mas se a pessoa tem dieta rica em outras frutas, verduras e legumes, não vai ter deficiência, porque a maioria tem vitamina C, ainda que em quantidades menores — diz.
Além das frutas citadas, essa vitamina pode ser encontrada em outros alimentos, menos reconhecidos pelo nutriente, como pimentão, agrião, brócolis, couve-flor, rúcula, couve, tomate e até na alface. Há frutas também, para todos os gostos, acrescentando à lista maracujá, abacaxi, morango, manga, uva, maçã e banana.
A nutricionista alerta para o consumo dos sucos. Como esse nutriente, especificamente, é sensível à luz, à medida que o suco é armazenado, há diminuição na quantidade da vitamina. Nas bebidas prontas, é preciso consultar o rótulo para ver se há adição.
Para aquele toque de vitamina C na dieta, dá para temperar a salada com um pouquinho de limão, espremer um pedacinho dele na água ou até mesmo, aquela rodelinha de no refrigerante.
Fonte: O Globo