Pesquisadores do MD Anderson Cancer Center, da Universidade do Texas, e da Universidade da Flórida descobriram que vacinas de mRNA contra a Covid-19 — como as da Pfizer/BioNTech e Moderna — podem tornar tumores resistentes mais sensíveis a tratamentos de imunoterapia. O estudo, publicado na revista Nature, foi descrito como uma vitória para a ciência e abre caminho para avanços no tratamento oncológico.
Curta, siga e se inscreva nas nossas redes sociais:
Facebook | X | Instagram | YouTube | Bluesky
Sugira uma reportagem. Mande uma mensagem para o nosso WhatsApp.
Entre no canal do Revista Cariri no Telegram e veja as principais notícias do dia.
A pesquisa analisou 880 pacientes com câncer de pulmão e melanoma tratados entre 2015 e 2022 com bloqueadores de checkpoint imunológico — medicamentos que “soltam os freios” do sistema imunológico para que ele volte a atacar o tumor.
Os resultados mostraram que pacientes vacinados com imunizantes de mRNA contra a Covid até 100 dias antes ou depois do início da imunoterapia apresentaram aumento expressivo na sobrevida.
🫁 Câncer de pulmão avançado: sobrevida média passou de 20,6 para 37,3 meses;
🧴 Melanoma: aumento de 26 para mais de 36 meses;
💪 Taxa de sobrevivência em 3 anos: 30,8% entre não vacinados contra 55,7% entre vacinados;
☑️ Em casos de melanoma metastático, o risco de morte caiu quase 60%.
Comportamentos semelhantes não foram observados com vacinas contra gripe ou pneumonia, reforçando que o estímulo é específico da tecnologia de mRNA.
💉 Como a vacina ajuda o sistema imune
Os cientistas também testaram o imunizante em camundongos, reproduzindo a fórmula da vacina da Pfizer. Nesses experimentos, observaram que a aplicação provoca uma forte produção de interferon, molécula que ativa e reprograma o sistema imunológico para reconhecer e atacar células tumorais.
Essa resposta inflamatória estimula o aumento da proteína PD-L1, que funciona como um “alvo” para as drogas de imunoterapia. Segundo o oncologista Stephen Stefani, da Oncoclínicas e da Americas Health Foundation, “o PD-L1 é como uma capa de invisibilidade: ele camufla a célula tumoral. As drogas anti-PD-L1 retiram essa capa. Quando há mais PD-L1, o alvo da imunoterapia fica mais claro e o tratamento se torna mais eficaz”.
🧠 Um resultado promissor, mas ainda inicial
O pneumologista Rodolfo Bacelar, da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), destacou à Veja que os casos analisados eram complexos, o que torna o achado ainda mais relevante. “Ter o dobro de chance de estar vivo após três anos é um resultado animador”, afirmou.
Apesar dos resultados positivos, os cientistas alertam que o estudo se baseia em dados retrospectivos, o que significa que outros fatores podem ter influenciado os desfechos. Novos testes clínicos controlados são necessários para confirmar se a aplicação da vacina pode ser integrada de forma segura e eficaz aos protocolos de imunoterapia.
⚠️ Vacina não trata o câncer
Os pesquisadores ressaltam que as vacinas contra a Covid-19 não tratam o câncer diretamente. No entanto, sua tecnologia pode representar uma ferramenta auxiliar promissora para potencializar os efeitos da imunoterapia em pacientes oncológicos.
A descoberta reforça o papel das vacinas de mRNA como uma das maiores inovações médicas do século — com potencial que vai muito além do combate à pandemia.
Por Fernando Átila










