Nos últimos anos, a tadalafila, medicamento amplamente utilizado para tratar disfunção erétil, tem sido adotada por frequentadores de academias como um suposto pré-treino milagroso. A crença de que o remédio pode melhorar a vascularização muscular e o desempenho físico levou muitos a utilizá-lo sem prescrição médica. No entanto, especialistas alertam para os riscos dessa prática, que pode trazer sérias consequências para a saúde.
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Por que a tadalafila está sendo usada como pré-treino?
A tadalafila pertence à classe dos inibidores da enzima fosfodiesterase tipo 5 (PDE5), cujo principal efeito é a vasodilatação, aumentando o fluxo sanguíneo. Essa propriedade faz com que muitos acreditem que o medicamento possa melhorar a irrigação muscular durante o treino, potencializando o ganho de massa e a resistência física.
Outro fator que impulsiona essa prática é a sua meia-vida longa. Diferente do sildenafil (princípio ativo do Viagra), que dura cerca de quatro horas no organismo, a tadalafila pode permanecer ativa por até 36 horas, o que faz com que alguns usuários acreditem que seu efeito pode beneficiar a performance esportiva ao longo do dia.
No entanto, a automedicação e o uso recreativo dessa substância são condenados por especialistas, que alertam sobre os riscos de efeitos colaterais e complicações graves.
Os riscos do uso indiscriminado
Médicos urologistas são unânimes ao afirmar que a tadalafila não deve ser utilizada sem prescrição médica, muito menos como um suplemento pré-treino. Segundo o Dr. Marcelo Vicentini, especialista em urologia, “a substância foi desenvolvida para tratar a disfunção erétil e a hipertensão pulmonar, não para melhorar o rendimento físico. Não há comprovação científica que justifique seu uso para ganho de desempenho em treinos”.
Além da ausência de evidências sobre benefícios no desempenho esportivo, os especialistas destacam os perigos associados ao uso inadequado do medicamento. “O maior risco é para pessoas que têm predisposição a problemas cardiovasculares, pois a tadalafila dilata os vasos sanguíneos e pode provocar quedas bruscas de pressão arterial”, alerta o cardiologista Dr. Alexandre Correia.
Entre os principais efeitos adversos relatados estão:
• Queda de pressão arterial: pode causar tontura, desmaios e até levar a complicações cardiovasculares graves;
• Dor de cabeça intensa: resultado da dilatação dos vasos sanguíneos no cérebro;
• Palpitações e taquicardia: devido ao efeito vasodilatador do medicamento;
• Dor muscular e lombar: que pode persistir por várias horas;
• Distúrbios visuais: visão turva ou alteração na percepção de cores.
A combinação da tadalafila com outros medicamentos vasodilatadores, como os nitratos (comuns no tratamento de doenças cardíacas), pode ser ainda mais perigosa, levando a quedas severas na pressão arterial e até ao risco de morte súbita.
Uso indiscriminado e a banalização do medicamento
Apesar dos alertas, a tadalafila tem sido comercializada de forma indiscriminada, muitas vezes sem a devida prescrição médica. Em redes sociais, influenciadores fitness compartilham relatos sobre seus supostos benefícios, incentivando ainda mais seu consumo descontrolado.
Para o Dr. Jorge Lordoni, urologista e andrologista, essa popularização do remédio fora de seu propósito original é preocupante. “A banalização do uso da tadalafila pode fazer com que pessoas jovens e saudáveis desenvolvam dependência psicológica para treinar ou até mesmo para manter a função erétil”, afirma.
Além disso, há relatos de usuários que utilizam a substância combinada a outros suplementos e substâncias estimulantes, como a cafeína e a creatina. “Misturar fármacos sem conhecimento dos efeitos colaterais é extremamente perigoso. O impacto no organismo pode ser imprevisível”, reforça Lordoni.
O que dizem os estudos científicos?
Embora existam pesquisas avaliando os efeitos da tadalafila no desempenho físico, os resultados são inconclusivos. Alguns estudos sugerem que a substância pode melhorar a circulação sanguínea e auxiliar na recuperação muscular em determinados casos, mas não há evidências sólidas que justifiquem seu uso como pré-treino.
“Os estudos são preliminares e, mesmo que haja algum benefício circulatório, isso não significa que a tadalafila deva ser usada indiscriminadamente por praticantes de academia”, afirma a Dra. Sandra Almeida, especialista em medicina esportiva. “Até o momento, o que se sabe com certeza são os riscos do uso sem indicação médica”.
Conclusão: riscos superam benefícios
O uso da tadalafila como pré-treino pode parecer uma tendência inofensiva, mas especialistas alertam que os riscos superam qualquer possível benefício. A substância deve ser utilizada apenas sob prescrição médica, considerando as condições individuais de cada paciente.
“Se o objetivo é melhorar o desempenho nos treinos, há formas mais seguras de fazer isso, como manter uma alimentação equilibrada, treinar com regularidade e utilizar suplementos com eficácia comprovada”, conclui o Dr. Vitor Kemura.
Diante dos perigos do uso indiscriminado da tadalafila, médicos reforçam a importância da conscientização e do acompanhamento profissional. O consumo inadequado de medicamentos pode trazer sérias consequências para a saúde, e o desejo por um melhor rendimento físico não deve se sobrepor à segurança do organismo.
Por Bruno Rakowsky