Também conhecida como síndrome do esgotamento profissional, a síndrome de burnout consiste em uma espécie de estresse crônico e de maior gravidade relativa ao contexto de trabalho. Ela se caracteriza por três dimensões: exaustão emocional, despersonalização e baixo sentimento de realização.
Desde sua primeira descrição na década de 1970, o entendimento sobre o tema evoluiu. A OMS (Organização Mundial da Saúde), por meio da Classificação Internacional das Doenças, já reconhece a síndrome de burnout como um problema grave na sociedade contemporânea.
A seguir, vamos falar de cada um deles e também de outros sinais que podem indicar que você está com essa condição que atinge pessoas de todo o mundo e cerca de 32% dos mais de 100 milhões de trabalhadores brasileiros, segundo estimativa da International Stress Management Association.
1. Exaustão emocional
Se você experimenta constantemente sentimentos de fadiga e a sensação de que faltam recursos emocionais, é bom ficar atento. A exaustão é uma das características mais importantes para a identificação do burnout e acontece quando o profissional sente que não tem energia para lidar com situações estressoras e com as exigências comuns do trabalho, além da perda do entusiasmo.
2. Despersonalização
A despersonalização é uma característica que se manifesta entre as pessoas com a síndrome. Ela é importante de ser observada uma vez que é categórica para diferenciar o burnout do estresse. Também denominada cinismo, ela ocorre quando as pessoas passam a agir com indiferença, a ter comportamentos de hostilidade e uma atitude negativa em relação à profissão e às pessoas envolvidas no ambiente de trabalho, como colegas, chefes e, no caso de profissionais que lidam com o público, pacientes e clientes, por exemplo. A despersonalização é chamada assim devido ao distanciamento emocional com as outras pessoas.
3. Baixo sentimento de realização
Trabalhadores com burnout tendem a apresentar menores índices de realização do que aqueles sem a síndrome. Eles se sentem frustrados, desmotivados, constantemente insatisfeitos com suas habilidades profissionais, pensam que suas habilidades são aquém daquelas necessárias, que eles não têm a devida competência e estão descontentes com o ambiente de trabalho. Tudo no trabalho se torna motivo de insatisfação e desprazer.
Assim como um jogador de futebol com a perna machucada terá dificuldade em fazer um bom jogo, o trabalhador com burnout não estará na plenitude de suas habilidades cognitivas, o que pode impactar negativamente no seu desempenho, levando a uma menor realização. Esse problema é ainda mais preocupante pois, em vez de se ausentar do ambiente profissional, a pessoa com burnout, muitas vezes, desconhece o quadro e continua trabalhando. Ela invalida sua própria dificuldade por achar que é “normal” esse processo.
4. Ansiedade
A ansiedade prolongada ou em níveis mais intensos pode resultar em um sofrimento psicológico que afeta o funcionamento diário de um indivíduo, gerando sintomas tanto cognitivos quanto físicos como, por exemplo, insônia, irritabilidade, dificuldade de concentração, dores musculares etc. Pesquisas demonstraram que o burnout possui uma correlação com sintomas de ansiedade. Uma meta-análise (Maske et al. 2016) identificou que 59% dos indivíduos com diagnóstico de burnout também foram diagnosticados com transtorno de ansiedade.
5. Isolamento
O burnout é multifatorial, isto é, existem questões orgânicas, sociais e psicológicas envolvidas. Por essa razão, esses indivíduos tendem a apresentar também sintomas depressivos, ideias de inutilidade, fracasso, alta irritabilidade, e dificilmente irão se inserir socialmente. Manter o contato com outras pessoas, ser empático, interagir, ponderar e comunicar são funções do cérebro que ficam acometidas quando se tem burnout. Com esse desbalanço do funcionamento cerebral normal é inevitável uma busca por maior isolamento e diminuição da interação social, já que esses eventos demandariam do cérebro uma atividade que transitoriamente para ele são mais complexas.
6. Insônia
A insônia é um sintoma comum no quadro de burnout. Ela surge como um efeito de todo o acometimento psicológico, físico e social. Ela também é intensificada porque esses indivíduos tendem a se engajar em autocobranças relacionadas ao trabalho e em um estilo de vida nada saudável. A sobrecarga de trabalho, que surge como uma estratégia compensatória para o constante sentimento de fracasso, na qual podem se envolver eventualmente, pode prejudicar as medidas necessárias para um sono reparador, como encontrar um horário para descansar, ter hora para ir para a cama, dormir em ambiente tranquilo sem iluminação e ruído, entre outros.
7. Sintomas físicos
Quando estamos passando por uma fase de desequilíbrio emocional, seja por qual motivo for, é comum que o corpo, devido a reações neurobiológicas e hormonais, também apresente sintomas físicos. No caso do burnout, pesquisas sinalizam que ele está relacionado a uma série de desordens físicas, como: síndromes metabólicas, imunidade prejudicada e doença cardiovascular. Também é possível que surjam sintomas como dores musculares, cefaleias e enxaqueca, problemas gastrointestinais, disfunções sexuais, fadiga, falta de ar, taquicardia, tontura, vertigem, sensação de formigamento, entre outros.
8. Alterações no apetite
Nosso organismo tende a modificar em parte seu funcionamento para lidar com as adversidades, por meio da mediação de hormônios, como o cortisol. Entre essas modificações fisiológicas pode ocorrer a redução do apetite em quadros de burnout ou mesmo na depressão. No entanto, é importante dizer que o contrário também pode acontecer e haver um aumento do apetite em decorrência do predomínio da ação de outras substâncias e sistemas, como o sistema da recompensa cerebral, modulado pela dopamina.
9. Irritabilidade
Nossa habilidade de ponderar e mediar conflitos decorre de ativações específicas no córtex pré-frontal. Em resumo, ele é o grande moderador entre nossos impulsos e o ambiente externo. No burnout, essa região apresenta redução da atividade inibitória, e outras áreas são mais ativadas, o que deixa o indivíduo vulnerável a responder de maneira mais impulsiva, irritável e imediatista.
10. Dificuldade de concentração/ esquecimento
É comum termos prejuízo de memória e falha de concentração em quadros da síndrome de esgotamento profissional. Dada as dificuldades de sono, cansaço e sintomas emocionais, como ansiedade, paramos de prestar atenção ao ambiente que nos cerca, algo que na psiquiatria é chamado de hipotenacidade.
11. Sentimentos de derrota/incompetência
O trabalhador sente uma redução da sua eficácia profissional, o que significa que ele experimenta constantemente frustração, apresenta baixas expectativas em relação ao seu próprio desempenho e cognições relacionadas a fracasso.
12. Depressão
O burnout acomete o funcionamento do cérebro saudável, afetando o funcionamento de diferentes vias cerebrais, como o córtex pré-frontal, que em sua porção mais lateral é responsável pela presença de sintomas depressivos como tristeza excessiva, falta de prazer em atividades que a pessoa gostava, falta de concentração.
Burnout e depressão possuem uma elevada correlação. Um estudo, inclusive, apontou que 53% dos pacientes com burnout grave também foram diagnosticados com depressão. No entanto, é importante ressaltar que apesar de compartilharem características em comum, tratam-se de condições diferentes. Enquanto a síndrome do esgotamento profissional está relacionada ao contexto do trabalho, a depressão acontece de modo mais abrangente em diferentes áreas.
Fontes consultadas: Pedro Shiozawa, médico psiquiatra, professor do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, co-fundador e COO da Jungle, startup de saúde mental voltada para o ambiente organizacional, e um dos autores do livro “Desvendando o Burn-out: Uma Análise Interdisciplinar da Síndrome do esgotamento profissional”; Leonardo Baldaçara, médico psiquiatra, diretor regional centro-oeste da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), e professor da Universidade Federal do Tocantins; Anelisa Vaz de Carvalho, doutora e mestre em psicologia pela USP (Universidade de São Paulo), especialista em terapia cognitivo-comportamental, autora do livro “Terapia Cognitivo Comportamental na Síndrome de Burnout”, docente de psicologia e fundadora dos projetos @dra.anevaz e @anevaz.clinic)
Fonte: VivaBem/UOL