O nariz é a região das vias respiratórias superiores mais suscetível a infecções. Quando isso acontece, logo vem a congestão nasal e a coriza. Esses sintomas estão na lista das queixas mais comuns nos consultórios médicos, mas além de um simples resfriado, eles também podem sinalizar a presença de outra doença, a rinite.
Definida como um processo inflamatório ou infeccioso da mucosa que reveste o nariz, ela pode ser aguda ou crônica, ou seja, ter curta ou longa duração. As principais causas da enfermidade são as infecções virais e alergias. A do tipo não alérgica tem início frequente após os 20 anos, especialmente entre as mulheres, e acomete cerca de 1/3 da população mundial. Já a rinite alérgica, a estimativa é a de que sua prevalência varie de 9% a 42% dos indivíduos. Os dados foram publicados pelo Journal of Allergy and Clinical Immunology.
Embora os sintomas da rinite possam ser toleráveis e esporádicos, eles podem desencadear inflamações repetidas e persistentes que, sem o devido tratamento, resultam em quadros graves e até levam à hospitalização.
Conheças as várias causas
O problema tem várias origens, que são classificadas da seguinte forma:
• Rinite infecciosa – é a decorrente da infecção por vírus, bactérias e fungos;
• Rinite alérgica – normalmente associada a uma reação do sistema imunológico diante de algum fator ambiental: pó, bolor, pólen, pelo ou tecido (epitélio) de animais, ácaro (presente em cobertores, bichos de pelúcia ou roupas felpudas);
• Rinite vasomotora – manifesta-se em decorrência de mudança brusca de temperatura, uso de anti-hipertensivos e uso persistente de vasoconstritores tópicos;
• Rinite irritativa – associada à exposição a produtos químicos inalantes, fumaça de cigarro ou cheiros fortes;
• Rinite gestacional – ocorre graças às mudanças hormonais e embebição gravídica (inchaço/retenção de líquidos) da mucosa nasal durante a gestação;
• Rinite idiopática – não tem causa identificada;
• Rinite mista – combina algumas das causas acima descritas.
Apesar de todas essas possibilidades, a rinite alérgica e a infecciosa são as mais comuns.
Saiba reconhecer os sintomas
Os sinais mais frequentes da rinite são nariz entupido (obstrução nasal), secreção, espirros em salvas (repetidos) e coceira nasal —cujo gesto típico é chamado pelos médicos de “saudação alérgica”. Mas você também pode observar os seguintes sinais:
• Obstrução nasal intermitente ou persistente, bilateral ou não, principalmente à noite;
• Secreção fluída clara, mas pode também ser amarelada e espessa;
• Dor facial e frontal com sensação de peso;
• Redução do olfato;
• Coceira nos olhos, vermelhidão local ou lacrimejamento;
• Fotofobia;
• Sangramento nasal, decorrente do trauma da mucosa nasal, especialmente em crianças
• Sensação de catarro que escorre atrás da garganta;
• Prurido no ouvido, palato e garganta;
• Dor de ouvido ou sensação de ouvido tampado e estalido ao deglutir.
Quem precisa ficar mais atento?
Todas as pessoas podem ter rinite, independentemente da faixa etária. Apesar disso, ela é mais comum nos grupos abaixo descritos:
• Pessoas com alergia respiratória;
• Pacientes expostos a produtos inalatórios ou irritantes;
• Tabagistas;
•Gestantes, dadas as variações hormonais e inchaço comuns durante o período de gestação.
Quando é a hora de procurar ajuda médica?
Os especialistas são unânimes: quando um sintoma se repete e afeta negativamente a qualidade de vida, ele precisa ser investigado por um médico. No caso da rinite, basta que os sintomas durem mais que 5 dias para que os efeitos maléficos comecem a se instalar pelo corpo. O otorrinolaringologista é o especialista treinado para avaliá-lo.
Fabiana Gonçalez D’Ottaviano, especialista em otorrinolaringologia pela ABORL-CCF e responsável pelo Centro Médico 13 de Outubro, em São Paulo, conta que muitos pacientes alérgicos se acostumam com os sintomas da rinite, e deixam de procurar ajuda.
“O problema é que a constância da obstrução nasal pode levar a alterações do crescimento facial em crianças, na postura da língua, na oclusão e deglutição, e até mesmo pode contribuir para a instalação de broncoespasmo (dificuldade para respirar) ou sinusite”, informa a médica.
Halitose (mau hálito), ronco e apneia são outras das possíveis consequências da falta de tratamento da rinite.
Como é feito o diagnóstico?
Inicialmente, ele sempre é clínico, isto é, durante a consulta o médico ouvirá sua história pessoal e fará um exame físico. Como a rinite tem um componente genético, o objetivo é identificar um possível caso na família e a eventual associação com outros tipos de alergia.
Quando esse relato não esclarece a possível causa da enfermidade, os especialistas podem solicitar testes alérgicos. Os mais conhecidos são os cutâneos: o Prick Test, teste de puntura ou de hipersensibilidade imediata; teste de contato e RAST (teste radioalergosorvente). Este último detecta no soro (parte sanguínea) do paciente anticorpos IgE específicos para diferentes tipos de alérgenos.
A importância destes é que eles podem revelar qual é o agente de contato habitual da pessoa que pode ser o responsável pela persistência da rinite, especialmente quando os cuidados com o ambiente e os medicamentos não reduziram os sintomas.
Saiba como é feito o tratamento
Independente do tipo de rinite, a lavagem nasal com soro fisiológico é considerada a base do tratamento —isso porque a prática é capaz de remover vírus, bactérias, secreções e agentes desencadeadores de reações alérgicas.
Além disso, os médicos têm à sua disposição medicamentos como antialérgicos sistêmicos, corticoides tópicos ou sistêmicos. Em alguns casos, a imunoterapia poderá ser uma coadjuvante: a estratégia consiste em expor o paciente a pequenas quantidades de alérgenos de forma a induzir sua tolerância.
Nos casos em que o paciente não responde a esses tratamentos e se observa o aumento de carnes esponjosas nasais (cornetos nasais), um exame de imagem (tomografia computadorizada) poderá ajudar o médico a decidir sobre a necessidade de cirurgia.
Entenda a relação entre rinite e asma
Nem todo asmático tem rinite, e nem toda rinite leva à asma. Contudo, Marcio Nakanishi, presidente da ABR (Academia Brasileira de Rinologia) esclarece que as evidências científicas indicam que a proporção de indivíduos com sintomas de rinite, entre os asmáticos, pode chegar a 100%. Por isso, seja a rinite alérgica ou não, ela está associada ao risco para o desenvolvimento de asma.
“Isso se deve à presença de fatores desencadeantes comuns e da semelhança do padrão de inflamação da mucosa nasal e pulmonar. Tais evidências favorecem a teoria de doença única da via aérea, na qual a rinite e a asma são consideradas manifestações de uma mesma doença”, completa o médico.
Dicas dos especialistas
Quem tem rinite alérgica precisa entender que essa manifestação tem um componente alérgico que se manifesta sempre que se tem contato com determinado agente. Por isso é tão importante saber o que pode desencadear uma crise para evitar, o máximo possível, esse contato.
A adesão ao tratamento, que pode incluir uma estratégia para melhorar a sua resposta imunológica, além da lavagem nasal, reduz o incômodo dos sintomas, mas tudo isso não muda sua propensão genética. Saber disso igualmente ajuda a ser mais constante nos cuidados diários e médicos. Neste último caso, eles devem ser periódicos.
Dá para prevenir?
Sim, e a melhor prática, especialmente em relação à rinite alérgica, é fazer uso continuado e diário de soro fisiológico para lavagem nasal. Além disso, cuide para ficar longe dos fatores desencadeadores da alergia. Mantenha a higiene da casa, evite ambientes poluídos ou com muito pó, aromas fortes, umidade, bem como o tabagismo.
Já as rinites virais podem ser prevenidas por meio da aderência às vacinações disponibilizadas pela rede pública.
Como fazer uma lavagem nasal eficaz
Entre as orientações médicas, está a advertência de nunca usar gotas nasais do tipo vasoconstritoras.
“Elas só devem ser utilizadas sob orientação médica, porque podem ter efeitos que prejudicam a sua saúde. A medida mais eficaz continua sendo a lavagem nasal”, adverte Marco César Jorge dos Santos, otorrinolaringologista e professor da Escola de Medicina da PUC-PR.
Veja como ela deve ser feita:
• Use sempre soro fisiológico 0,9%;
• Na falta dele, é possível utilizar solução fisiológica caseira: 1 litro de água fervida ou filtrada acrescida de 2 colheres (chá) de sal e 1 colher (chá) de bicarbonato;
• Encha uma seringa com capacidade para 20 ml com a solução – preferencialmente morna;
• Aplique-a nas narinas, uma de cada vez, de forma lenta e contínua.
Fontes consultadas: Fabiana Gonçalez D’Ottaviano, especialista em otorrinolaringologia pela ABORL-CCF (Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial), mestre em otorrinolaringologia pela Santa Casa de Misericórida de São Paulo e responsável pelo Centro Médico 13 de Outubro (SP); Marco César Jorge dos Santos, médico otorrinolaringologista e professor da Escola de Medicina da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná); Marcio Nakanishi, presidente da ABR (Academia Brasileira de Rinologia). Revisão técnica: Fabiana Gonçalez D’Ottaviano
Referências: 4º Consenso Brasileiro sobre Rinite – atualização em rinite alérgica, Braz. J. Otorhinolaryngol. vol. 84 no.1 São Paulo Jan./Feb. 2018; J. Russell May, William K. Dolen. Management of Allergic Rhinitis: A Review for the Community Pharmacist. Clinical Therapeutics. 2017; Settipane RA, Charnock DR. Epidemiology of rhinitis: allergic and nonallergic. Clin Allergy Immunol. 2007
Fonte: Viva Bem/UOL