A raiva é uma emoção fundamental, portanto, não há como evitar a sua manifestação. Nem mesmo um monge tibetano consegue evitá-la. Mas, provavelmente, uma pessoa mais equilibrada tem mais condições de gerenciar esse sentimento para que ele não traga perdas e prejuízos. Afinal, no momento que a raiva aparece é essencial contar até dez para não falar demais ou fazer alguma besteira.
Isso não significa que a raiva deve ser eliminada, porém contida. “Somos educados para entender que a expressão de raiva é inadequada, como se fosse um comportamento errado e perigoso e devêssemos ignorar ou proibir essa emoção”, diz a psicóloga comportamental Denise Pará Diniz, coordenadora do setor de gerenciamento de estresse e qualidade de vida da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Mas não, essa emoção que dura cerca de dois minutos, pode ser sentida sem culpa. E a maneira como cada pessoa lida e expressa essa raiva é que pode trazer consequências negativas. Por isso, identificá-la é uma lição importante de autocontrole.
Qual é a sua raiva?
Essa emoção pode se manifestar de maneiras diferentes e a dica é sempre buscar uma autorregulação para que o sentimento não prejudique a saúde mental e física. Afinal dependendo de sua intensidade e frequência ela pode trazer muitos desequilíbrios. “O gerenciamento da raiva é um assunto em potencial, mas ainda tem pouca repercussão no Brasil. E o momento atual faz qualquer um ter manifestações despropositadas de raiva”, comenta o psiquiatra Rodrigo Leite, coordenador dos ambulatórios do IPq do HC-FMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).
Por isso, dar uma atenção a mais para essa emoção pode ser um desafio. E para facilitar, listamos quatro tipos de raivas: justificável, aborrecimento, agressiva e birra. Entenda cada uma delas:
1. Justificável
É a raiva motivada pela indignação moral diante das injustiças sociais, ambientais ou étnicas.
Causa: ela é desencadeada porque falta autonomia para resolver as questões que, de acordo com os valores pessoais, não são corretas
Gerenciamento: “A melhor forma em lidar com essa emoção é não se resignar, ou seja, não adotar uma postura submissa diante daquilo que incomoda”, sugere Diniz. E essa emoção pode ser facilmente controlada quando a pessoa transforma isso numa luta, canalizando a emoção que vai sendo apaziguada no decorrer da situação.
2. Aborrecimento
É um dos tipos de raiva mais recorrentes, porque é inevitável ter de lidar com as situações externas. E algumas pessoas se chateiam, pois concentra-se no negativo e acredita que os outros estão tentando prejudicá-la.
Causa: esse tipo de emoção surge quando a pessoa leva o acontecimento para o lado pessoal.
Gerenciamento: “Ao perceber que está sendo reativo a determinadas situações, a pessoa pode identificar esses gatilhos que provocam raiva para não ser pega de surpresa”, ensina Silvio José Lemos Vasconcellos, professor adjunto no setor de Psicologia e coordenador do grupo de pesquisa PAACS (Pesquisa e Avaliação de Alterações da Cognição Social), ambos da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria), no Rio Grande do Sul. Ou seja, é possível já se preparar para aquela reunião chata ou a festinha em família com comentários inadequados, lembrando que nem tudo é falado ou feito para aborrecê-la.
3. Agressiva
Esta é a raiva mais combativa, que faz o indivíduo perder a cabeça devido a sua intensidade naquele determinado momento.
Causa: surge quando é aceita a provocação ou intimidação e a pessoa entra na dinâmica do outro.
Gerenciamento: não revidar automaticamente, respirar fundo e processar o que aconteceu para resolver de forma mais equilibrada. “Melhor ganhar tempo na reação, para que ela venha mais qualificada e menos violenta”, fala Leite.
4. Birra
São explosões de raiva quando os desejos e necessidades de um indivíduo não são cumpridos, não importa o quão irracionais e inapropriados possam ser.
Causa: ocorre geralmente com pessoas em crise, ou indivíduos mimados e sem limite. Vasconcellos explica que, neste caso, não é uma situação momentânea, mas aponta para um traço de personalidade. “São pessoas mais intolerantes, com dificuldade em ser empático”, completa.
Gerenciamento: aqui pode exigir um processo mais longo, pois a pessoa terá de aprender a enxergar o outro a partir de outra perspectiva. “A pessoa precisa aceitar o problema para compreender que a emoção é inapropriada, pois tende a acreditar que está sempre certa e os demais, errados”, considera Vasconcellos.
Apaziguar essa emoção
Independente da situação que motivou a raiva, é fundamental aceitá-la e procurar apaziguar essa emoção. E um dos principais moduladores da expressão da raiva, que pode atenuar ou exacerbar a emoção, é o estresse. Portanto, gerenciar o estresse pode ser uma maneira de prevenir ataques de raiva.
“Sentir raiva de forma recorrente pode gerar uma alteração permanente no humor, transformando isso em um transtorno”, alerta Leite. Por isso, o gerenciamento do estresse e da raiva exige um treino contínuo que, com o passar do tempo, vai deixando a pessoa mais ponderada.
O psiquiatra reforça ainda que não é saudável alimentar extremos, ou seja, guardar ressentimento por não expressar a raiva ou perder o controle por não conseguir levar desaforo para casa. Portanto, aprender a encarar a emoção, entendê-la e então expressá-la é uma maneira saudável de vivenciá-la.
Fonte: Viva Bem/UOL