Hoje sabemos muito mais sobre como os exercícios físicos podem ajudar no tratamento de doenças como obesidade, diabetes ou hipertensão do que em relação ao câncer. Entretanto, isso vem mudando. Nos últimos 20 anos, especialistas de todo o mundo têm se dedicado a estudar o papel do exercício diante do desenvolvimento do problema, bem como na taxa de crescimento do tumor, uma vez que a doença tenha se instalado.
Segundo dados de uma revisão publicada pelo American College of Sports Medicine, que analisou centenas de estudos epidemiológicos sobre a relação entre atividade física e diferentes tipos de câncer, praticantes de exercícios chegam a ter uma probabilidade até 20% menor de desenvolver diversos tumores. A redução na mortalidade também foi estudada: no caso do câncer de mama, o percentual chegou a 48% menos risco de mortalidade por diferentes causas e 38% pela doença especificamente.
Por qual motivo o exercício é um aliado tão importante no combate e na sobrevivência à doença? Uma das razões é que a contração muscular ocasionada pelo esforço físico produz proteínas que têm função anti-inflamatória e atuam em vários órgãos do corpo. Essa ação colabora com a prevenção e o enfrentamento de um câncer.
Na fase de tratamento da doença, por sua vez, ocorre uma redução na capacidade de transporte de oxigênio, assim como mais fadiga e risco cardiovascular, o que significa menos autonomia funcional e, portanto, mais sedentarismo, perda de massa muscular e maior suscetibilidade a outros problemas. Nesse caso, o exercício vai cumprir o papel de fortalecer o organismo para responder aos impactos da doença e aos efeitos colaterais do tratamento. Pacientes que continuam treinando no pós-tratamento também têm mais chances de sobrevida.
Por outro lado, há um gargalo nesse cenário. Poucos profissionais de educação física têm conhecimento específico sobre prescrição de exercícios para pacientes com doenças crônicas e, principalmente, com câncer. Neste caso, há até um agravante. Um treinamento incorreto poderá interferir no tratamento ou mesmo favorecer o tumor. Daí ser crucial que o profissional tenha domínio em prescrição para cada etapa da terapia. Cada uma possui objetivos e requer sobrecargas diferentes.
No pré-tratamento, que abrange desde a fase de diagnóstico até o começo do tratamento, deve-se buscar no exercício o preparo do corpo para estar em um nível superior de condicionamento. Na etapa do tratamento em si, o foco será atenuar os efeitos colaterais, como inchaços, e a toxicidade dos medicamentos. O ideal é que a carga e a frequência de treino sejam diminuídas, uma vez que os fármacos afetam a capacidade de autorregeneração dos músculos.
No pós-tratamento, quando o paciente recebe alta médica e tem pelo menos cinco anos para ser acompanhado até se declarar a ausência de uma reincidência da doença, o treino será fundamental no processo de recuperação.
Nesse percurso, é importante manter o médico informado sobre o treino prescrito. Fundamental também será mostrar os exames de sangue (mesmo os de controle) para o profissional de educação física. Se o nível de plaquetas estiver muito baixo, o aluno é suscetível a hemorragia e não pode treinar, por exemplo.
Outro ponto é observar sinais de intolerância ao esforço. Havendo tontura, náusea, dor óssea, fadiga e fraqueza muscular, deve-se parar imediatamente. São sinais de que os exercícios podem estar afetando negativamente o tratamento.
Com esses e outros cuidados, é possível continuar a prática de exercício físico durante todo o tratamento e com significativas chances de vitória contra a doença.
Por Fabio Ceschini. Profissional de educação física e especialista em fisiologia do exercício, mestre em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da USP e doutor em Educação Física pela Universidade São Judas Tadeu. É também fundador da plataforma de ensino Viajando pela Fisiologia, que capacita profissionais de saúde e educação física na prescrições de treinos, sobretudo para pacientes com doenças crônicas
Fonte: Saúde é Vital!