Acompanhar a pressão arterial colabora na diminuição do risco das doenças cardiovasculares que respondem por um terço do total de óbitos do país, fazendo duas vezes mais vítimas do que todos os tipos de câncer e 2,5 vezes mais que acidentes e mortes decorrentes de violência.
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Segundo a Socesp (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo), a hipertensão está associada a 45% das mortes por doenças cardiovasculares, cerca de 400 mil por ano no Brasil. A estimativa é que 25% dos brasileiros sejam hipertensos. Após os 60 anos, esse percentual é em torno de 65%, tendo o predomínio entre as mulheres.
A hipertensão é silenciosa, assintomática e leva a consequências muito graves ao organismo, como riscos de problemas cardio e cerebrovasculares, infarto do miocárdio, insuficiências cardíaca e renal, doença vascular periférica e todas as complicações da aterosclerose. Sua origem é multifatorial —não há uma causa bem definida, além disso, há interação entre fatores genéticos e ambientais.
“É a moléstia mais prevalente no mundo. Um terço da população mundial é hipertensa. A única forma de diagnosticá-la é por meio da conferência sistemática da pressão arterial”, afirma Audes Feitosa, médico cardiologista, coordenador do departamento de cardiologia do Hospital São José, no Recife, preceptor do serviço de Mapa (Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial) e MRPA (Monitorização Residencial da Pressão Arterial) do Procape/UPE (Pronto-Socorro Cardiológico Universitário de Pernambuco).
Por isso, é importante verificar a pressão arterial anualmente para a obtenção de um diagnóstico precoce; já o hipertenso que controla de maneira correta a pressão reduz o risco de ser acometido por outras enfermidades cardiovasculares, causa principal de morte e de comprometimento de capacidade funcional em toda a população adulta no mundo.
O que é a pressão arterial
A pressão arterial é medida em milímetros de mercúrio (mmHg) e representa o resultado da força (ou pressão) que o sangue, bombeado a partir do coração, faz ao percorrer as paredes das artérias. A pressão sistólica ou máxima é a que ocorre entre as batidas do coração e a diastólica ou mínima é a pressão presente durante o relaxamento do órgão.
Em 2020, a DBHA (Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial) da SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia) atualizou os valores de referência para o diagnóstico da hipertensão, passando a considerar alta ao ficar igual ou maior que 130/80 mmHg— nas conferências feitas em casa por MRPA (Monitorização Residencial da Pressão Arterial). Em consultório, o parâmetro é 140/90 mmHg.
Para a pré-hipertensão, os números são: máxima entre 130 e 139 mmHg e mínima entre 85 e 89 mmHg, aferidas em consultório. Quando a medição fica abaixo de 120/80 mmHg é considerada normal ótima. Ao ficar entre 120 e 129 mmHg e 80 e 84 mmHg é chamada normal, mas não ótima, e deve ser acompanhada.
Tipos de monitoramento
Um percentual significativo de pessoas, em torno de um terço, apresenta a pressão no consultório diferente da de casa: é a chamada hipertensão do avental branco. Outra parcela, cerca de 15%, tem a hipertensão mascarada que é o oposto, ou seja, a pessoa está com a pressão bem controlada no consultório, porém alta em casa.
“À medida que se reconhece uma falha na medição de consultório, o monitoramento fora dele é fundamental”, ensina Roberto Dischinger Miranda, médico cardiologista e geriatra da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e do Instituto Longevità.
Entre os métodos disponíveis estão a Mapa (Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial), que consiste no uso de um aparelho no braço ligado a um equipamento preso à cintura, durante 24 horas, que mede a pressão, automaticamente, em horários pré-determinados e programados, sem alterar a rotina da pessoa.
A MRPA (Monitorização Residencial da Pressão Arterial) é outro método padronizado com um número exato de verificações em horários estabelecidos pelo médico, utilizando aparelho do laboratório ou clínica médica, com dispositivo de memória, para que o profissional faça a posterior leitura dos dados.
O terceiro é a Ampa (Automonitorização da Pressão Arterial) com o uso de equipamento próprio da pessoa hipertensa, seguindo as orientações médicas. “Como a pressão arterial flutua e algumas pessoas apresentam uma variação maior, assim será preciso mais medições para se obter uma média real. A automedição é importante para trazer uma representatividade mais expressiva da pressão arterial, refletindo atividades desempenhadas e períodos de maior ou menor estresse, épocas do ano e temperaturas”, explica Miranda.
Ao fazer seu próprio controle, o indivíduo se engaja no tratamento, apresenta melhor evolução e prevenção dos efeitos da doença, que incluem declínio cognitivo e quadros demenciais.
“O controle em casa colabora no acompanhamento médico e avaliação periódica para que seja possível uma conduta adequada de manutenção e ajustes do tratamento terapêutico, dieta e atividade física regular, e o farmacológico, como troca e correções de dosagem”, avalia Leandro Costa, médico cardiologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (SP).
Como medir?
Acompanhe as principais recomendações médicas para a medição correta:
Rotina: devem ser regulares, principalmente por quem faz uso de medicação específica a fim de se confirmar se está, ou não, controlada, pois existe a possibilidade de ainda estar alta ou muito baixa.
Aparelho correto: dar preferência ao aparelho digital e automático, validado pelos órgãos competentes. Só é necessário apertar o botão para dar início após prender a braçadeira ao braço. Prefira os com memória, para ficar mais fácil o histórico ou o registro futuro. Miranda conta que alguns pacientes levam o próprio aparelho para ele conferir nas consultas.
É importante observar a circunferência correta da braçadeira, proporcional a do braço. Há opções que atendem tamanhos diferentes de constituição física, já com validação.
Os dispositivos manuais com estetoscópio são de uso exclusivo dos profissionais habilitados de saúde. O de pulso não é recomendado, pois apresenta margem de erro maior porque o sistema arterial do pulso é diferente. Se for usado, mais no caso de viagens ou impossibilidade de medir com o de braço, deve ter sensores de altura e movimento.
Padronização: a conferência necessita ser feita antes das refeições e de tomar a medicação anti-hipertensiva. A bexiga deve estar vazia.
Orienta-se ficar em repouso por pelo menos cinco minutos. Permaneça sentado com os pés apoiados no chão, o braço em que está o aparelho —posicionado na altura do coração—, fica relaxado sobre a mesa, a palma da mão voltada para cima, sem movimentar o corpo ou falar. Os especialistas explicam que conversar altera a pressão e os batimentos cardíacos. As roupas também não devem apertar o braço.
Atenção: não pode ter praticado atividades físicas há pelo menos 60 minutos, não ter ingerido bebidas alcoólicas, café ou alimentos e que, se fumante, não tenha fumado nos 30 minutos anteriores.
Anotação: É sempre bom anotar para ter referências quando for às consultas. É preciso registrar os números inteiros que aparecem no visor –pressão máxima, mínima e batimentos–, sem fazer arredondamentos. Se a pessoa não tiver condições de adquirir os aparelhos, é indicado que se dirija aos postos de saúde para aferição da pressão.
Aplicativo: o aplicado gratuito Ampa (Automedida da Pressão Arterial), disponível para Android e iOS, foi desenvolvido por médicos brasileiros para auxiliar no controle da hipertensão. A pessoa anota sete medidas de pressão arterial em um intervalo máximo de três dias. O próprio aplicativo calcula a média.
É possível enviar esses números aos médicos se houver discrepância de valores, além disso, de acordo com as condições de cada um, os médicos já orientam quantas vezes em um mês, uma ou duas vezes, ou por semana, por exemplo, é preciso verificar.
Fique de olho
A tarefa não deve ser isolada, pois pode estar alterada por conta de estresse e ansiedade. “A aferição isolada é o principal equívoco na averiguação da pressão em casa. Outra questão é fazer quando se está estressado, aborrecido, sentindo dor de cabeça, alguma angústia, mal-estar ou desconforto. A pressão alterada nesse momento de nervosismo é, exatamente, muito normal; já que é a resposta fisiológica”, orienta Feitosa.
Se estiver alta e o paciente sentir desconforto, é preciso procurar orientação médica. A medicação é de uso constante: não se deve tomar apenas quando mede e está alta. Outro alerta é não fazer ajustes na medicação por conta própria.
Perigo: abandono do tratamento
A falta de adesão às terapias medicamentosas tem se provado uma atitude perigosa entre as pessoas que precisam tratar ou controlar problemas cardiovasculares. Segundo a Socesp, a cada três receitas prescritas por cardiologistas, pelo menos uma é abandonada. Entre as razões está a não compreensão da importância do problema e da gravidade do quadro.
O estudo conduzido por Evandro José Cesarino, cardiologista e diretor científico do Departamento de Farmacologia da Socesp, aponta que 29,8% dos pesquisados não compreendem adequadamente a receita médica.
“Se a cada consulta, um novo profissional se apresenta —o que é muito comum na rede pública— não há como estabelecer uma boa relação médico-paciente, dificultando a confiança necessária para seguir a recomendação correta.”
Para Cesarino, conscientizar os pacientes a seguir as recomendações médicas, reduzindo riscos cardiovasculares é o melhor remédio para mudar o cenário de não engajamento a fim de diminuir os riscos de desfechos trágicos para eles e seus familiares com incapacitações precoces.
“Além disso, a família tem papel fundamental para o cumprimento da conduta médica. É importante que todos se conscientizem, abracem a causa e acompanhem o paciente de perto, inclusive nas consultas”.
Fonte: VivaBem/UOL