A nimesulida é um dos anti-inflamatórios mais consumidos no Brasil, sendo amplamente utilizada para tratar dores, febre e inflamações. Segundo dados da Close-Up International, apenas em 2024, mais de 102 milhões de caixas do medicamento foram vendidas no país, tornando-o um dos fármacos mais populares, atrás apenas da losartana e da metformina, indicadas para hipertensão e diabetes.
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Apesar de sua alta demanda, a nimesulida está no centro de um debate internacional devido ao seu potencial de causar danos severos ao fígado. O medicamento foi proibido ou nunca chegou a ser aprovado em diversos países, como Estados Unidos, Canadá, Japão, Reino Unido e Alemanha. Em outras nações europeias, como Espanha e Irlanda, a comercialização foi suspensa após relatos de hepatotoxicidade grave.
O caso mais emblemático ocorreu na Irlanda, onde, em 2007, o governo proibiu o medicamento após 53 registros de danos hepáticos severos. A repercussão levou a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) a revisar sua segurança. Embora tenha concluído que os benefícios podem superar os riscos em determinadas situações, a EMA restringiu seu uso a casos específicos, como dores agudas e cólicas menstruais, e apenas como segunda opção de tratamento.
Risco hepático: o que dizem os especialistas?
O principal motivo da proibição da nimesulida em vários países está relacionado ao seu potencial de causar hepatotoxicidade, mesmo quando utilizada por períodos curtos. Segundo o hepatologista Marcos Oliveira, o fígado pode sofrer lesões devido ao metabolismo da substância, levando a quadros que variam de inflamações leves a falência hepática fulminante.
“Diferentemente de outros anti-inflamatórios, a nimesulida apresenta um mecanismo de toxicidade idiossincrática, ou seja, algumas pessoas desenvolvem danos hepáticos mesmo com doses consideradas seguras. Por isso, seu uso prolongado ou sem acompanhamento médico é extremamente arriscado”, explica o especialista.
Já Carolina Mendes, doutora em Biociências e Biotecnologia, destaca que o perfil de risco do medicamento é bem conhecido na literatura científica e que a falta de restrições mais severas no Brasil expõe a população a perigos desnecessários.
“Os estudos apontam que a nimesulida pode gerar metabólitos tóxicos que comprometem a função hepática. Em países que proíbem a substância, há alternativas mais seguras disponíveis para as mesmas indicações, como o ibuprofeno e o paracetamol, que apresentam menos risco de toxicidade hepática quando usados corretamente”, esclarece a pesquisadora.
Por que a nimesulida segue disponível no Brasil?
A bula do medicamento já adverte sobre contraindicações importantes, incluindo pacientes com histórico de problemas hepáticos, úlceras gástricas, insuficiência renal ou cardíaca grave. Além disso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) reforça que o uso deve ser feito exclusivamente sob prescrição médica e alerta que reações adversas no fígado podem ocorrer mesmo com o uso por poucos dias.
Contudo, especialistas defendem que os protocolos brasileiros para venda de anti-inflamatórios precisam ser revistos. “O que vemos na prática é que a nimesulida é vendida com pouca ou nenhuma restrição em farmácias, muitas vezes sem receita médica. Isso faz com que muitas pessoas a utilizem indiscriminadamente, sem controle sobre dose e frequência, elevando o risco de complicações”, alerta Oliveira.
Para Carolina, o Brasil deveria seguir o exemplo de outros países e reavaliar a permanência da nimesulida no mercado. “Se há evidências de que o medicamento apresenta um risco considerável e já foi banido em diversos países, por que ainda é permitido aqui? É essencial que as autoridades sanitárias revisem suas diretrizes com base em dados científicos atualizados para garantir mais segurança à população”, conclui.
Enquanto isso, médicos recomendam que os pacientes evitem a automedicação e busquem orientação profissional antes de utilizar qualquer anti-inflamatório, especialmente aqueles com histórico de problemas hepáticos.
Por Heloísa Mendelshon