Desde o início da pandemia, estudos indicam que homens são afetados mais gravemente pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2) do que mulheres. Recentemente, uma pesquisa brasileira mostrou que o vírus também pode afetar a saúde sexual e reprodutiva deles.
Na pesquisa realizada na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), foram avaliados pacientes na fase aguda da doença, com objetivo de tentar identificar o vírus no sêmen ejaculado
Em uma entrevista ao Jornal da USP no Ar, o professor Jorge Hallak, da FMUSP, do Grupo de Estudo em Saúde Masculina do IEA (Instituto de Estudos Avançados), afirmou que outras doenças virais, como a caxumba e o zika vírus, causam impactos significativos na saúde de homens.
“Nesse contexto, identificamos por ultrassom que uma porcentagem significativa de contaminados pelo sars-cov-2 assintomáticos tiveram uma inflamação importante no epidídimo, diferente das infecções bacterianas. Também vimos alterações das funções dos espermatozoides de maneira moderada, inclusive na qualidade deles, mas ainda não existe evidência de que o vírus possa deixar o indivíduo infértil”, explica o professor.
Na pesquisa realizada na FMUSP, foram avaliados pacientes na fase aguda da Covid-19, com objetivo de tentar identificar o vírus no sêmen ejaculado. Hallak conta que esse processo não é tão simples, uma vez que os doentes sofrem com cansaço, tornando difícil garantir a amostra necessária via masturbação.
As evidências iniciais mostraram que o Sars-CoV-2 não foi encontrado no sêmen. “Entretanto, o que tem se revelado nas pesquisas que ainda estão em andamento é que o coronavírus tem um componente que afeta não só os testículos como também o epidídimo (ducto que coleta e armazena os espermatozoides)”, diz ele.
Por meio de um ultrassom, eles identificaram que uma porcentagem significativa de contaminados assintomáticos tiveram uma inflamação importante no epidídimo, diferente das infecções bacterianas. “Também vimos alterações das funções dos espermatozoides de maneira moderada, inclusive na qualidade deles, mas ainda não existe evidência de que o vírus possa deixar o indivíduo infértil”.
Por meio de análises e testes, os pesquisadores também conseguiram verificar que o vírus pode afetar ainda mais as células responsáveis por produzir hormônios (como a testosterona) nos testículos, causando uma disfunção na quantidade deles no sangue. Já se sabe que esse é um efeito transitório e recuperável, mas ainda não foi descoberto o período necessário para que isso seja normalizado.
O que se sabe até o momento é que o vírus tem uma predileção pelo sistema reprodutivo masculino, de acordo com Hallak. Uma possível explicação é a quantidade de receptores do órgão: depois do pulmão, que é o mais afetado pela síndrome, pois a infecção ocorre por via aérea, os órgãos com mais receptores são os testículos, seguido pelo rim. “As evidências mostram que a proporção de infecção é a mesma para homens e mulheres, só que a gravidade é 50% maior em indivíduos do sexo masculino. Isso se deve a componentes biológicos, e não necessariamente socioambientais”, explica o professor.
Fonte: iG (Com informações do Jornal da USP)