Todos os anos, o Novembro Azul surge como um lembrete de que prevenir o câncer de próstata salva vidas. Mas, na prática, o desafio da saúde masculina no Brasil vai muito além dessa doença. Mesmo com campanhas de conscientização em todo o país, os homens continuam morrendo mais cedo, adoecendo mais e procurando menos ajuda médica.
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De acordo com dados do Ministério da Saúde, os homens vivem, em média, sete anos a menos que as mulheres. E o principal motivo não é biológico, mas comportamental: quase 60% dos brasileiros do sexo masculino não fazem consultas de rotina, e 70% só buscam um especialista quando os sintomas já estão avançados. Esse descuido faz com que doenças cardiovasculares sigam como a principal causa de morte entre homens, seguidas por cânceres evitáveis e transtornos mentais não diagnosticados.
🚹 Por que os homens não vão ao médico?
A resistência começa cedo. Segundo a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), em 2023 os homens representaram apenas 34% dos atendimentos nas consultas de atenção primária. Entre os adultos de 20 a 59 anos, o índice cai para 28%, conforme o Ministério da Saúde.
Uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) aponta que apenas 32% dos homens com mais de 40 anos se consideram muito preocupados com sua saúde, e 46% só procuram um médico quando sentem algo — número que chega a 58% entre os que dependem exclusivamente do SUS.
Para o urologista Ricardo Monteiro, o problema está enraizado em fatores culturais.
“Muitos homens ainda associam o cuidado com a saúde à fraqueza ou ao medo de descobrir uma doença. Há também um tabu muito grande em torno do exame de toque retal, o que atrasa o diagnóstico de várias condições. Precisamos mudar essa mentalidade e reforçar que cuidar da saúde é um ato de coragem, não de fraqueza”, relata ao Revista Cariri.
Além da resistência, metade dos entrevistados relatou sentir medo ou ansiedade ao pensar em sua própria saúde. Esse comportamento tem reflexos diretos na produtividade e na qualidade de vida. Um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) revela que o estresse e a depressão reduzem em até 4% o PIB de países emergentes, e, no Brasil, os afastamentos por transtornos mentais entre homens crescem em ritmo mais acelerado do que entre mulheres.
💬 Novo papel do Novembro Azul
Mais do que uma campanha, o Novembro Azul é um convite à autoconsciência. Procurar o médico deve ser visto como um ato de responsabilidade consigo mesmo e um passo essencial para viver mais e melhor.
O urologista André Carvalho destaca que o foco da campanha não deve se restringir ao câncer de próstata.
“O Novembro Azul é uma oportunidade para falar sobre saúde integral. Não se trata apenas do exame de toque, mas de um check-up completo. Muitos problemas — como hipertensão, diabetes e até transtornos mentais — podem ser descobertos precocemente em consultas simples”, explica.
O médico reforça ainda que o diagnóstico precoce é decisivo.
“O câncer de próstata é silencioso e, em 45% dos casos, é diagnosticado já em estágio avançado. Quando detectado no início, as chances de cura passam de 90%. Por isso, a prevenção deve ser contínua, e não apenas lembrada em novembro”, acrescenta.
📊 Dados preocupantes
Em 2022, o Brasil registrou 16.292 mortes por câncer de próstata — o equivalente a 44 óbitos por dia.
A visita ao médico durante o Novembro Azul — ou em qualquer época do ano — não se resume ao exame de toque retal. O objetivo é avaliar o estado geral de saúde, identificar riscos e prevenir doenças antes que elas avancem.
Somente se houver necessidade, o paciente é encaminhado a exames diagnósticos ou a especialistas — não apenas para o câncer de próstata, mas também para condições como diabetes, hérnia, alcoolismo, obesidade, miopia e doenças do coração.
Por Bruno Rakowsky










