Os números que contabilizam a presença da Covid-19 colocam o Ceará entre os três estados mais infectados do Brasil. A ocupação média dos leitos comuns no território cearense, entre 1º e 28 de maio, foi de 70% – enquanto os de alta complexidade seguem com alta demanda, ficando em 84,8% no mesmo período. Os dados são da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa).
O Estado chegou, nessa sexta-feira (29), a 38.395 casos confirmados e 2.859 mortes pela doença. A taxa de letalidade no estado é de 7,4%. Do total de registros, 25.858 casos constam como recuperados.
Em Fortaleza, são 21.705 confirmações, 1.877 mortes e 14.317 pacientes que tiveram alta ou estão curados do novo coronavírus. Os dados foram atualizados pelo Integra SUS, plataforma da Sesa, às 17h53 dessa sexta-feira.
UTIs
Com casos ativos ainda numerosos, os leitos de alta complexidade têm sido os mais demandados. A taxa média de ocupação das UTIs públicas e privadas do estado foi de 84,8%, durante o mês de maio. Separando os dados, a ocupação média em hospitais privados e filantrópicos foi de 80,4%; e nos públicos, 88,3%, conforme dados do Integra SUS.
O pico da ocupação das vagas de UTI neste mês ocorreu no dia 22 de maio, quando mais de nove a cada dez vagas estavam ocupadas (91%). Só na rede privada, o maior índice também foi alcançado no dia 22, com 89% dos leitos preenchidos.
Nas vagas públicas, o pico foi atingido dia 24, com 94,7% das vagas ocupadas. A média geral de busca por UTIs em todo o Ceará só ficou abaixo de 80% em seis dos 28 dias observados, todos na primeira quinzena. A menor ocupação média foi registrada no dia 9 de maio: 73,7%.
Só em Fortaleza, a média de ocupação dos leitos de UTI em maio foi de 89,9%, incluindo redes pública e privada. O pico foi atingido no dia 12, com 95,4% das vagas cheias. A média geral das enfermarias foi de 84,8% de preenchimento das vagas.
Avanço necessário
A ocupação de leitos de enfermaria, por outro lado, tem apresentado redução, ainda que discreta. Após um pico registrado no dia 14 de maio, quando 76,7% das vagas públicas e privadas estavam ocupadas por pacientes de Covid-19, a média oscilou até registrar queda, chegando 62,2%, no dia 28.
Observando apenas a rede privada, o pico de lotação foi no dia 17, com 79% das vagas preenchidas. Nas enfermarias públicas, o maior número foi alcançado antes, dia 14, com 76,5% de ocupação.
Um dos quatro critérios para o retorno gradual das atividades econômicas e sociais no Ceará é a taxa de ocupação de leitos de UTI, junto ao número de internações, de óbitos e às particularidades territoriais.
O secretário da Saúde do estado, Carlos Roberto Martins Sobrinho, Dr. Cabeto, alerta que “é preciso haver redução progressiva na ocupação de leitos de UTI em 14 dias, ficando em torno de 85% pra menos de taxa de ocupação”. Serão considerados nessa conta os leitos específicos de Covid-19 – cerca de 2,3 mil, dos quais 680 são de UTI, segundo a Pasta.
Embora a demanda de pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) seja maior, a média a ser levada em consideração para o avanço da flexibilização inclui leitos tanto de unidades públicas como de privadas, porque “entende-se o sistema de saúde como um todo”.
O indicador é um dos mais importantes para monitorar o sistema e impedir um novo colapso diante da pandemia, e, para monitorá-lo, a Pasta vai “usar como parâmetro o número de atendimentos na porta de entrada dos leitos graves, que são UPAs, emergências e postos de saúde”.
‘Tratamento precoce’
A obtenção do resultado dos exames de pacientes que morreram sob suspeita de Covid-19 tem sido priorizada no estado, segundo o gestor, para que a estatística seja acompanhada de forma mais precisa. “Já sabemos que há um platô e uma tendência de redução. Na semana passada, de 100 exames, 80 davam positivo. Hoje, dos 100, 50 dão positivo. Dá pra ter ideia de que essa média está caindo”, estima Dr. Cabeto.
O infectologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC), Anastácio Queiroz, avalia que os casos do novo coronavírus “vão continuar ocorrendo”, apesar das medidas preventivas, mas aponta o atendimento precoce como chave para manter a capacidade ideal dos leitos.
“O fundamental é que a gente estabeleça uma rotina de atendimento, que se trate as pessoas cedo, para evitar que parem no hospital. Não há dúvidas de que tratamento precoce evita internamento em enfermarias, UTI e, assim, os óbitos”, pontua.
O médico cita que outro fator decisivo é a manutenção da rede criada de forma emergencial, mesmo após a pandemia. “Os leitos privados, daqui pra frente, darão conta da população que vai adoecer. A questão é que um percentual grande da população ainda não tem imunidade, vai continuar exposta. Temos que continuar orientando as pessoas. Se deixarmos os leitos que estão hoje para Covid, vai dar conta”, opina o infectologista.
Segundo Dr. Cabeto, a estrutura de novas UTIs criada no Interior do Estado, por exemplo, deve ser mantida, “era um plano já em execução para fortalecer o desenvolvimento regional, só precisamos apressar”. É preciso, porém, “otimizar o gasto público” para sustentar a rede.
Por Theyse Viana e Thatiany Nascimento
Fonte: G1 CE