Você já deve ter tocado a pele e percebido um caroço em alguma parte do corpo. Virilha, axila e pescoço estão entre os locais mais comuns de aparecimento de íngua, como são coloquialmente conhecidos os linfonodos (gânglios linfáticos), que são estruturas que integram o sistema linfático, que é o responsável por defender o organismo de doenças.
De acordo com Sumire Sakabe, infectologista do Hospital 9 de Julho (SP), a linfa, um líquido que circula através dos vasos linfáticos, carrega células de defesa e drena os linfonodos espalhados pelo corpo. Eles funcionam como um filtro, eliminando substâncias e agentes nocivos, como vírus e bactérias.
“Quando nos referimos à íngua, nos referimos a um linfonodo que está aumentado de tamanho. [Isso acontece] quando eles estão mais ativos, em geral, na vigência de um processo inflamatório ou infeccioso”, conta a infectologista.
Tal condição é chamada de linfonodomegalia. Após o término da infecção, os nódulos sob a pele podem demorar algumas semanas para diminuir de tamanho, geralmente até 30 dias. Um linfonodo é considerado aumentado quando é maior do que um centímetro.
A resposta do organismo para combater algum processo infeccioso é a causa mais comum do crescimento dos linfonodos, que como parte do sistema imune trabalham para combater os germes que são transportados pelo líquido linfático.
“Ocorre quando algumas células que atuam como vigilantes, chamadas dendríticas, detectam o agente invasor e, então, sinalizam a presença para as principais células do sistema imunológico, chamadas linfócitos, que serão as responsáveis por comandar a defesa”, explica Regis Mariano de Andrade, infectologista do Hospital Copa D’Or (RJ).
“Os linfócitos específicos, presentes em grande quantidade nos linfonodos, são ativados e se proliferam intensamente para reagir à infecção, provocando o aumento do linfonodo”, completa Andrade.
Doença localizada
As ínguas decorrentes de processos inflamatórios agudos surgem rapidamente e, normalmente, provocam dor. Na maior parte das vezes, a resposta adaptativa ao estímulo imunológico surge no local de drenagem do sistema linfático.
Segundo Rodolfo Santana, cirurgião e urologista do Cejam (Centro de Estudos e Pesquisas Dr. João Amorim), o aparecimento de gânglios linfáticos nas axilas, por exemplo, se dá por processos que acometem os membros superiores ou as mamas.
“Já na área inguinal está associado a alterações que envolvem os membros inferiores e região do pênis e vagina. É bom atentar-se que algumas infecções sexualmente transmissíveis podem causar um grande aumento de linfonodos próximo à virilha”, alerta Santana.
Portanto, o local do aparecimento da íngua também define a provável doença decorrente. Veja alguns exemplos:
Pescoço
Caroços no pescoço, geralmente, significam que linfonodos estão ativos e combatendo infecção na garganta, amigdalite ou resfriado.
Orelha
Nesta região, o aparecimento de gânglios linfáticos é uma consequência de conjuntivite, infecções virais ou no couro cabeludo.
Virilha
A linfa dos pés e pernas drena para linfonodos na virilha. A ativação na área inguinal pode ser ocasionada por uma simples batida do pé na porta, ou até mesmo após uma depilação. Por isso, o surgimento de gânglios linfáticos neste local é comum. No entanto, está muito associado a doenças sexualmente transmissíveis ou a ferimentos nos membros inferiores.
Axilas
Linfonodomegalia nas axilas está relacionada à rede linfática das mamas (atenção, pode ser indicação de câncer). Ou a lesões nas mãos e nos braços. Neste último caso, pode ser confundida com hidradenite, que é caracterizada por nódulos dolorosos, vermelhos e quentes que, diferentemente da íngua, são pontos de infecção local (glândulas sudoríparas) de origem bacteriana.
Cotovelo
Você encontrará um caroço aumentado junto ao cotovelo, provavelmente, após ter sido acometido por uma infecção de mão.
Cervical e mandíbula
Infecções virais, bucais e dentária, faringite e toxoplasmose são os prováveis motivos de íngua abaixo da mandíbula ou na região cervical.
Gravidade
Vale ressaltar que a presença de íngua pode, também, ser o indício de graves causas inflamatórias, autoimunes, medicamentosas ou neoplásicas (cânceres). É o caso de linfonodomegalia com poucos sinais inflamatórios (diferentemente da localizada), consistência mais endurecida e maior de dois centímetros, permanência por mais de 30 dias e presença de febre.
Estas características sugerem que os linfonodos aumentados são decorrentes de neoplasia, que pode ser maligna ou benigna. Se encontrados dentro do abdome, por exemplo, após a realização de exames de imagem, indica doenças de alta gravidade, como tumores pélvicos, gastrointestinais e renais, além de linfoma.
A linfonodomegalia também pode ser uma manifestação de patologia grave quando detectada na axila. Neste caso, provavelmente, está associada a doenças neoplásicas, como câncer de mama com metástase.
Abaixo da mandíbula e na cervical, a suspeita é de tumores de tireoide ou de nasofaringe, enquanto acima da clavícula, cânceres abdominal, gastrointestinal, pulmonar e linfoma. Na região inguinal, a hipótese é de uma possível metástase de neoplasia pélvica ou anal.
Já o surgimento de ínguas de forma generalizada, em diversos locais do corpo, é um sintoma de que duas ou mais cadeias de linfonodo, que não estão em contiguidade, estão ativas. Entre as causas estão infecções virais, tuberculose, tipos de linfomas, doenças fúngicas e autoimunes ou até a fase aguda da infecção pelo HIV. No caso de toxoplasmose e mononucleose, geralmente é acompanhado de febre e fadiga.
Análise clínica
O urologista do Cejam explica que são utilizados na prática clínica os seguintes critérios para analisar a gravidade ou não do linfonodo, que vão desde a análise das características dos gânglios linfáticos até o contexto clínico do paciente.
a) Duração: Infecções bacterianas e virais agudas, geralmente, causam aumento dos linfonodos durante uma ou duas semanas. Já nos casos de cânceres e tuberculose pode durar por mais tempo;
b) Faixa etária: Quanto maior a idade, maior a chance de o aumento do linfonodo ser causado por câncer;
c) Associação com sintomas gerais: Perda de peso, queda do estado geral e febre persistente podem estar relacionadas a maior chance de doença grave, como a tuberculose e as neoplasias malignas;
d) Tratamento: Uso de algumas medicações;
e) Características do linfonodo: Tamanho, dureza e adesão aos tecidos vizinhos;
f) História clínica: Tabagismo e etilismo aumentam o risco de neoplasias.
Fonte: VivaBem/UOL