Estresse, ansiedade e privação de sono são alguns gatilhos que, às vezes, podem provocar pesadelos. Ter sonhos perturbadores recorrentes durante a meia-idade ou a velhice, no entanto, pode ser um sinal precoce de demência, sugere um novo estudo publicado na revista científica EClinicalMedicine, do grupo The Lancet, na última quarta-feira (21).
Curta e siga nossas redes sociais:
Sugira uma reportagem. Mande uma mensagem para o nosso WhatsApp.
Entre no canal do Revista Cariri no Telegram e veja as principais notícias do dia.
A pesquisa, conduzida por cientistas da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, descobriu que pessoas entre 35 a 64 anos que tinham pesadelos pelo menos uma vez por semana eram quatro vezes mais propensas a sofrer declínio cognitivo na década seguinte do que aquelas que raramente tinham pesadelos.
Estudos anteriores em pessoas com doença de Parkinson já tinham demonstrado que existe uma relação entre sonhos angustiantes frequentes e risco aumentado de desenvolver demência no futuro, mas a pesquisa recente sugere que essa associação não está restrita a esse grupo e pode ser extrapolada para a população em geral.
“Este estudo fornece, pela primeira vez, evidências de que uma maior frequência de sonhos angustiantes em adultos sem comprometimento cognitivo ou DP [Doença de Parkinson] está positivamente associada a um declínio cognitivo mais rápido na meia-idade e ao aumento do risco de desenvolver demência na velhice”, diz o estudo.
A pesquisa analisou dados de três grandes estudos norte-americanos que examinaram a qualidade do sono de adultos e idosos entre os anos 2002 e 2012. A análise incluiu mais de 600 adultos entre 35 a 64 anos e 2.600 pessoas com 79 anos ou mais.
Entre os participantes idosos, aqueles que frequentemente relataram ter sonhos perturbadores também tinham um risco maior de sofrer declínio cognitivo: a prevalência de serem diagnosticados com demência nos anos seguintes era duas vezes maior em relação àqueles que não tinham pesadelos com frequência.
Curiosamente, os pesquisadores também constataram que a associação entre pesadelos e risco de demência era mais forte para os homens do que para as mulheres. Homens mais velhos que tinham pesadelos semanalmente eram cinco vezes mais propensos a desenvolver demência do que homens mais velhos que não tinham pesadelos. Nas mulheres, contudo, o aumento do risco foi de apenas 41%.
Os resultados sugerem que pesadelos recorrentes podem ser um dos primeiros sinais de demência, mesmo quando ocorrem décadas antes da doença se instalar, especialmente entre homens.

Mas qual é a relação entre pesadelos e declínio cognitivo?
Uma das hipóteses é de que as pessoas que têm pesadelos frequentes têm um sono de má qualidade, o que, gradualmente, pode levar a um acúmulo de proteínas no cérebro associadas à demência. Outra possibilidade é a existência de algum fator genético que esteja por trás de ambos os fenômenos.
Além disso, os pesquisadores também suspeitam de que os sonhos angustiantes possam ser provocados pela neurodegeneração no lobo frontal direito do cérebro, o que tornaria mais difícil para as pessoas controlarem as próprias emoções durante os sonhos, resultando em pesadelos. Essa teoria, segundo o estudo, estaria alinhada com o chamado “modelo neurocognitivo dos pesadelos”.
Segundo a pesquisa, ainda é necessário realizar mais estudos para confirmar se haveria uma ligação entre pesadelos e declínio cognitivo na população em geral, mas os resultados são importantes porque, atualmente, existem poucos indicadores de risco para demência que podem ser identificados já na meia-idade.
O estudo sugere que a triagem de sonhos angustiantes na população em geral pode ajudar a identificar indivíduos na fase pré-clínica da demência, ou seja, antes de suas manifestações mais conhecidas, como a confusão mental e os problemas de coordenação motora. O tratamento para a redução de pesadelos recorrentes, afirma a pesquisa, pode ser um caminho para retardar o declínio cognitivo e prevenir a demência.
Fonte: VivaBem/UOL










