O Ceará ultrapassou, ontem (11), a marca dos oito mil mortos pela Covid-19. Os números revelam a maior crise sanitária já vista e, quando comparados a outras doenças, ganham contornos ainda mais dramáticos.
A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids), patologia causada pelo vírus HIV, vitimou, em 10 anos (2009 a 2019), um total de 3.440 pessoas. O número, apesar de expressivo, é 123% menor do que o deixado pelo novo coronavírus em 5 meses.
A articuladora do Grupo de Trabalho de IST/Aids da Secretaria da Saúde (Sesa) do Ceará, Telma Martins, pontua que a experiência adquirida em momentos epidêmicos anteriores está contribuindo no combate da atual pandemia. “Alguns medicamentos usados para o tratamento da Aids têm sido testados contra a Covid-19. Tudo que a gente aprendeu com o tratamento do HIV e demais viroses tem nos ajudado”.
A especialista ressalta, no entanto, que há diferenças na gravidade entre as doenças. Por ter transmissão respiratória, o novo coronavírus possui um potencial mais devastador. “O vírus ainda é desconhecido, mas sabe-se que é mais agressivo porque compromete, em pouco tempo, todo o organismo, atingindo outros órgãos vitais além dos pulmões. Por isso, pode levar ao óbito mais facilmente”, diz.
Histórico
No primeiro semestre deste ano, foram registrados 493 casos positivos para o HIV no Ceará em adultos. Em igual período do ano passado, havia 938 registros. Questionada, a Sesa não informou quantos destes evoluíram para óbitos. Em relação a todo o ano de 2019, no entanto, foram 226 mortes, segundo Martins.
“Nos últimos 10 anos, a gente observa um decréscimo, o que significa que o diagnóstico está sendo feito precocemente”, acrescenta.
Sayonara Cidade, presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Ceará (Cosems), aponta que, “à medida que os estudos vão sendo feitos, vamos descobrindo soluções para esta situação (pandemia)”. Ela lembra que a descoberta de medicamentos e vacinas em massa acontece mediante tempo e evolução de estudos, assim como foi com a Aids. No Brasil, desde 2013, o SUS passou a garantir o tratamento para todas as pessoas vivendo com HIV. Apesar desse tratamento, a pandemia da Covid-19 redobrou a necessidade dos cuidados.
A professora de Doenças Infecciosas da Universidade Federal do Ceará (UFC), Mônica Façanha, explica que, caso o paciente com HIV esteja com CD4 (células do sistema imunológico e principal alvo do vírus) baixo, o quadro da Covid-19 pode ser agravado. “É muito importante que o paciente com HIV não deixe de tomar o medicamento. O vírus aumenta o risco de ter doenças graves”.
Em Juazeiro do Norte, Maria Zilma Ferreira, 62, que convive com o vírus há 22 anos, relata que até consegue os medicamentos para continuar o tratamento, mas tem dificuldades em seguir com as consultas de rotina. “Só temos um médico e a demanda aumentou muito. Estou há dois meses sem conseguir”, lamenta.
A reportagem tentou contato com a Prefeitura de Juazeiro, mas não houve retorno até o fechamento.
Por Rodrigo Rodrigues
Fonte: Diário do Nordeste