Nesta quarta-feira (31), é o dia que você vai decidir parar de fumar. No Dia Mundial Sem Tabaco, — data criada pela Organização Mundial de Saúde em 1987 para alertar sobre as doenças relacionadas ao tabagismo –, conversamos com vários especialistas de diferentes áreas para saber quais são os benefícios sentidos a curto e médio prazo na saúde e na estética.
“No primeiro mês, já é possível sentir mudanças no seu padrão respiratório, na quantidade de secreções dos brônquios e também maior facilidade para atividade física. A nicotina começa a ser eliminada em até 48 horas após parar de fumar”, afirma o cardiologista e nutrólogo Edmo Gabriel Atique.
E o que acontece com o cabelo, a pele e as unhas no primeiro mês sem nicotina? O hálito melhora? E como fica a fertilidade do homem e da mulher? Tudo o que você deseja saber — e um pouco mais — para eleger o dia de hoje como um ponto de partida para a sua nova vida. Confira tudo a seguir!
1) Os benefícios para os cabelos
O que acontece com o cabelo ao parar de fumar após seis meses?
Parar de fumar melhora o aspecto dos cabelos já nos primeiros 3 e 6 meses, afirma a dermatologista e tricologista Joana D’Arc Diniz: “O couro cabeludo também é pele e a redução do fumo melhora o fluxo sanguíneo para o folículo piloso, estrutura responsável pela produção dos fios de cabelo. O sangue traz um maior aporte de nutrientes.”
O fumo encurta as fases do ciclo do fio, fazendo com que eles cresçam mais finos e por menos tempo. “Isso faz com que o couro cabeludo apresente mais áreas de falhas. Com o crescimento do aporte de nutrientes no bulbo capilar há uma menor rarefação deles e o aumento da espessura”, esclarece.
A tricologista explica que os benefícios tendem a aumentar com o passar dos meses: “Em geral, pensamos em 3 ciclos capilares para observar melhores resultados, crescimento e aumento de espessura. O fumo também acelera a morte das células responsáveis pela cor dos cabelos, podendo ocorrer aparecimento precoce dos cabelos brancos.”
É possível reverter a queda de cabelo causada pelo cigarro?
“Sim, se as alterações não tiverem sido muito profundas e não estiverem associadas a outros distúrbios capilares complexos e sérios. Isso porque, entre os fatores de risco, o fumo pode levar à alopecia androgenética (calvície)”, afirma a tricologista. As carências nutricionais e a baixa de vitaminas no sangue de fumantes comprometem a nutrição adequada dos folículos, prolongando os quadros de queda: “Mas, em média, nos casos comuns é possível recuperar o volume e diminuir ou eliminar a queda”.
Seis meses sem fumar: recuperação da vitalidade e brilho dos cabelos
No primeiro mês, já é retomada a regularidade e o equilíbrio da circulação sanguínea, garantindo mais hidratação e a volta do brilho natural dos fios: “Boa parte das substâncias tóxicas são eliminadas, apesar de o cigarro ter mais de 4 mil, sobretudo a nicotina, que em questão de horas sem fumar já é extinta e é um dos elementos que mais afeta a chegada de nutrientes essenciais à raiz.” O monóxido de carbono presente na fumaça do cigarro também afeta o brilho dos fios e até a mudança da cor e textura, acrescenta ela.
Em 6 meses, caso não haja comprometimento devido a demais fatores, o brilho e a vitalidade natural são completamente reparados, assim como a espessura e velocidade de crescimento. Mas o tipo de cabelo exerce influência nesta etapa: “Cabelos originalmente secos ou que não recebam cuidados, terão resultados mais tardios.”
Um check up sanguíneo vai ajudar a investigar carências de nutrientes, vitaminas e minerais. “Tabagistas apresentam deficiências de vitaminas importantes para manutenção do sistema imunológico. Formulações com antioxidantes e antiinflamatórios podem otimizar as fases do ciclo capilar e a qualidade dos fios.”
2) Os benefícios para a pele
Como fica a pele de quem para de fumar nos primeiros três meses?
Os benefícios são sentidos após um mês sem cigarro, quando a pele apresenta uma evolução contínua de melhora na textura, na tonalidade e no brilho. “Os efeitos são rápidos no organismo, menos de 12h depois da suspensão do fumo, já ocorre o aumento do nível de oxigênio no sangue, trazendo mais aporte na absorção de nutrientes essenciais à pele.”
De um a três meses, a circulação sanguínea demonstra significativas melhoras. “Os níveis de nutrientes são restituídos e os danos causados pela oxidação (inflamação das células, já que o fumo estimula a produção de radicais livres responsáveis pelo envelhecimento dos órgãos) são contidos. Tudo isso se reflete gradualmente na pele”, explica a médica.
• Aspecto mais viçoso e saudável após se livrar da fumaça, que resseca a pele
• O tecido cutâneo não permanece tão fino e vai perdendo a palidez e opacidade
• Redução do escurecimento das olheiras devido ao aumento do fluxo de sangue
• A coloração amarelada e o ressecamento, características frequentes da pele dos fumantes, são eliminadas entre 4 e 12 semanas
• Mais luminosidade e lubrificação
• Melanoses (manchas) e vermelhidão podem diminuir já no primeiro mês
Parar de fumar reduz uma média de 13 anos na idade biológica
Nos primeiros 6 meses, os efeitos da reação orgânica se tornam bastante visíveis. A dermatologista cita a redução da concentração de radicais livres e o reforço da produção de antioxidantes naturais: “O corpo retoma a ajuda fornecida pelos nutrientes que protegem e reparam os danos do tecido. Isso significa redução nos sinais de envelhecimento da pele, como diminuição de linhas finas, rugas e manchas.” Um estudo realizado em 2010 constatou que parar de fumar leva a uma redução média de 13 anos na idade biológica, aponta ela.
Os produtos químicos presentes no cigarro aumentam a perda de água através da camada mais superficial da pele, além de promover degeneração do colágeno e das fibras elásticas, responsáveis pela sustentação. “Isso faz com que a pele caia e fique flácida. A desidratação provocada pelo cigarro provoca ressecamento, envelhecimento precoce, entre outros males.”
A produção de colágeno é restaurada depois de parar de fumar?
Há uma melhora acentuada. “O corpo irá restaurar a produção de colágeno. Além disso, reduz a atividade da enzima elastase, que degrada as fibras elásticas e que o tabaco acelera substancialmente”, afirma a especialista, destacando que a faixa etária da pessoa tem forte influência neste aspecto já que a produção de colágeno decai naturalmente com o decorrer dos anos.
“Nos primeiros 6 meses, já será possível perceber uma pele com mais brilho e mais lisa, decorrente da melhora da circulação e do nível reduzido de monóxido de carbono no sangue.”
Saiba por que parar de fumar melhora a acne e reduz as crises da rosácea
A presença da nicotina no organismo piora a acne e a oleosidade, aponta a dermatologista. Ao parar de fumar, isso muda: “A melhora da acne acontece porque a pele vai receber mais irrigação sanguínea e reduzir os radicais livres, o que favorece para que os poros retenham menos toxinas, fiquem menos dilatados e facilite a desobstrução.”
Sem a nicotina, que ativa as glândulas sebáceas e produz mais oleosidade e sebo, a pele reduz o surgimento de cravos e acne. “O tabaco é outro fator agravante que piora a cicatrização dos tecidos e sem ele, a cútis fica menos vulnerável a doenças como dermatites, câncer de pele e psoríase”, aponta. Sobre a rosácea, o tabaco causa danos à vascularização: “Um dos fatores que desencadeia e piora a doença. Quem tem rosácea é muito suscetível à ação das substâncias tóxicas do cigarro. Ao eliminar o fumo, em um ano já se observa a redução da inflamação e crises da doença.”
É possível reduzir a flacidez e celulite após parar de fumar?
A dermatologista lembra que a celulite é multifatorial, mas o fumo colabora bastante para o seu aparecimento e para a piora dos graus da celulite que a pessoa possui: “Com a ativação do fluxo sanguíneo normalizada, incide em menos acúmulo de toxinas e líquidos.” Veja as transformações na pele corporal já nos primeiros meses.
1. Ganho gradual de massa muscular, que está associada ao agravamento da flacidez, porque se amplia a síntese de proteínas e da manutenção celular. Isso contribui para o tônus e hipertrofia dos músculos. Fumantes produzem em maior quantidade um hormônio que limita o crescimento muscular.
2. Entre 2 e 12 semanas a melhora da circulação e função pulmonar aumentam e o organismo se beneficia, principalmente, para melhor execução e desempenho das atividades físicas.
3. A flacidez cutânea ou dérmica apresenta melhora com o aumento da síntese de fibroblastos (células da pele que produzem o colágeno), com efeitos positivos para elasticidade.
4. O processo de regeneração da pele que engloba a produção de colágeno acontece a partir de 21 dias, quando o ciclo de cicatrização se restabelece para os prazos normais.
3) Os benefícios para as unhas
As unhas ficam mais fortes e menos quebradiças ao parar de fumar?
Parar de fumar também impacta na saúde das unhas. E o fortalecimento já é sentido nos primeiros meses. “O aspecto e os danos causados pelo tabaco são restabelecidos. A fumaça do cigarro é um dos maiores fatores que causam dedos e unhas amarelados e sem brilho. Estudos científicos mostram que fumantes têm fluxo sanguíneo diminuído em seus dedos, mas essa coloração pode melhorar assim que se para de fumar”, destaca a dermatologista.
A percepção do crescimento das unhas leva cerca de 2 meses. “A média é de cerca de 3 milímetros por mês. O crescimento das unhas é mais lento e por isso a recuperação completa é um processo mais lento. Dentro de 4 a 6 meses as unhas estarão recuperadas e saudáveis”, afirma. Se as unhas continuarem fracas e quebradiças, vale investigar. “Deficiências nutricionais ou até mesmo algumas doenças são indicadores de outras alterações nas unhas”, alerta.
4) Os benefícios para o organismo
Como o organismo reage nos primeiros meses sem fumar?
Entre 6 meses e 1 ano, o organismo já sente os primeiros efeitos positivos após a interrupção do cigarro. “Do ponto de vista pulmonar, melhora significativamente. As trocas gasosas ficam muito eficientes e a disposição física, cada vez maior. Nesse período já dá para destacar uma redução importante do risco de doenças cardiovasculares e de câncer”, aponta o cardiologista Edmo Gabriel Atique.
O médico afirma que pessoas que fumaram por muitos anos podem apresentar algumas alterações irreversíveis, no caso de enfisema pulmonar: “Condição que pode deixar certo grau de limitação física de forma definitiva. No entanto, algumas alterações podem ser atenuadas ao parar de fumar, como as crises de bronquite, o acúmulo excessivo de catarro e a indisposição física.” Os benefícios no dia a dia são expressivos: “É possível retomar um fôlego mais amplo e conseguir maior vigor para as atividades do cotidiano.”
Os riscos de fumar cigarro eletrônico são os mesmos do cigarro comum?
Os cigarros eletrônicos são tão prejudiciais quanto o cigarro comum, afirma o cardiologista. “São fontes de toxinas e detritos que podem causar dependência, doenças cerebrais, doenças cardiovasculares e câncer. Não devem ser usados como uma suposta opção saudável, seria um grande erro e um enorme risco para saúde”, alerta ele.
Segundo dados compartilhados pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, o uso do cigarro eletrônico é preocupante: o dispositivo aumenta em 4 vezes o risco do usuário se tornar fumante de cigarro convencional. “Os pneumologistas enfatizam que apesar de não haver combustão, alcatrão ou monóxido de carbono, há liberação de quase 2 mil substâncias tóxicas, muitas delas cancerígenas, além de riscos específicos desses produtos, como a inalação de metais pesados provenientes do filamento aquecido desses dispositivos.”
É necessário mudar a alimentação ao parar de fumar?
De acordo com o Dr. Edmo Gabriel Atique, especialista em nutrologia, as pessoas que param de fumar tendem a sentir mais fome no dia a dia. “Orientações como manter uma hidratação vigorosa, de 2 a 3 litros de água ao dia e a ingestão de grande quantidade de fibras, como frutas, legumes e verduras, são primordiais”, aponta. Com relação à suplementação, ele indica algumas vitaminas importantes, como C e D, minerais como magnésio e cálcio e alguns micronutrientes como zinco e selênio: “Em geral, deve-se também reduzir o consumo do açúcar simples e das gorduras saturadas.”
5) Os benefícios para a saúde bucal
Quais são os efeitos nocivos do cigarro para os dentes?
Recuperar o sorriso bonito e saudável são alguns pontos que valem a pena considerar ao largar o cigarro. Os efeitos nocivos na boca e nos dentes são variados. “A nicotina causa importantes alterações no organismo. O fumante sempre será mais suscetível às bactérias, vírus e fungos na boca, isso se explica quando pensamos nas alterações nas células de defesa locais geradas pelo cigarro. O uso crônico do tabaco pode predispor doenças periodontais graves”, explica a dentista Natália Liuzzi, listando alguns efeitos negativos.
• Alteração da cicatrização e do paladar
• Halitose
• Câncer bucal
• Escurecimentos com manchas generalizadas
• Presença do tártaro
• Alteração da cor original dos dentes
Especialista em implantodontista e endodontista, ela afirma que os dentistas têm um papel importante nesse processo. “Todos os profissionais de saúde devem estar atentos à importância de orientar. Como dentista, carregamos uma responsabilidade dobrada, pois muitas alterações estão na boca.”
Dentista lista benefícios na saúde e estética bucal após parar de fumar
De acordo com a dentista, nos primeiros meses sem cigarro já é possível perceber os efeitos positivos na boca. “Melhora as sensações gustativas através do restabelecimento das papilas presentes no dorso da língua, além de praticamente eliminar a halitose somado ao ato da limpeza periodontal e hábitos corretos de higiene bucal”, aponta ela.
A consulta no dentista é essencial para a realização de uma limpeza e um resultado mais efetivo: “As manchas que tanto incomodam os pacientes, uma vez removidas, não retornam, e o clareamento torna-se mais eficaz.” Ela ressalta a diminuição do risco de câncer bucal e mais problemas. “Casos agudos de periodontite passam a responder ao tratamento e acompanhamento odontológico, e o paciente passa a contar 100% com suas células de defesa, antes alteradas com a presença da nicotina.”
Cirurgias odontológicas com segurança e sem temer a cicatrização
A dentista tem uma boa notícia: “Dá para eliminar definitivamente todas as manchas que envelhecem a estética do sorriso e o clareamento pode, sem contraindicação, fornecer cores mais claras.” Segundo ela, a longo prazo os pacientes periodontais conseguem uma resposta positiva ou até o controle total da doença, além de os riscos de vírus, fungos e de câncer bucal serem cada vez menores. “Quem necessita passar por cirurgias, seja de siso ou de reposição de dentes perdidos com implantes dentários, pode se submeter ao procedimento com segurança e não se preocupar com a cicatrização.”
6) Os benefícios para a saúde da mulher e fertilidade
Como o cigarro afeta a fertilidade?
“O fumo acelera a perda da função reprodutiva nas mulheres e nos homens”, aponta o ginecologista Marcelo Marinho de Souza, especialista em reprodução humana. O efeito do cigarro na fertilidade das mulheres afeta a dinâmica do crescimento folicular. “Mulheres podem ter dificuldade no crescimento folicular e no processo ovulatório. O fumo pode impactar também a reserva folicular ovariana. Esse dano, na medida da intensidade do tempo de exposição ao fumo, vai se tornando mais irreversível”, explica o especialista.
“Existe uma boa evidência na literatura de que o fumo em mulheres é associado também ao aumento dos riscos de aborto espontâneo. É outro ponto de prejuízo”. O médico acrescenta que nos homens o fumo também tem capacidade de interferir nos parâmetros seminais: “Ou seja, o fumo impacta na fertilidade de homens e de mulheres.”
Os prejuízos causados na fertilidade podem ser revertidos
Com base em estudos recentes, o Dr. Marcelo Marinho afirma que os riscos reprodutivos associados ao fumo e à redução da fertilidade podem ser revertidos após a cessação do fumo e à exposição ao tabaco: “Esse é um ponto que não é tão fácil de ser aferido, mas existem trabalhos consistentes hoje em dia que dizem que esse prejuízo pode ser revertido já após o primeiro ano de parada do consumo de cigarro.”
Por este motivo, o ginecologista reforça a importância de se alertar sobre a necessidade de se parar de fumar como melhora da recuperação dessa função prejudicada durante o tempo da exposição ao cigarro.
Fumar durante a gravidez
Para mulheres grávidas com dificuldades de largar o cigarro, a ginecologista Camila Pinheiro, especialista em saúde da mulher, alerta para um dos perigos de se fumar durante a gravidez: “Fumar nunca é bom, mas o maior risco é o crescimento restrito intrauterino, que é uma diminuição do crescimento fetal. Todo o processo inflamatório gerado pelo cigarro não deixa essa criança crescer da mesma forma.” O perigo de um parto prematuro também está relacionado ao fumo durante a gestação.
A médica reforça sobre os principais benefícios do abandono do cigarro para a saúde da mulher: “Com a melhora da resistência, a imunidade dela melhora. A gente tem a melhora do metabolismo, da função respiratória e da função cardiovascular.”
Agora é a sua vez! Ciente de todos os benefícios que parar de fumar vão trazer ao seu organismo, que tal escolher a data de hoje como oficial para abandonar o cigarro?
Fonte: gshow