Paciente no Hospital Haroldo Juaçaba, referência no tratamento de pessoas com câncer no Ceará, Aline Vasconcelos, 30, teve de mudar para a casa dos pais desde quando os primeiros casos do novo coronavírus foram notificados no Estado. Acometida por um tumor na mama, a fisioterapeuta parou a quimioterapia, mas, segundo ela, os procedimentos retornam na próxima semana. O hiato, justifica, ocorreu por baixa na imunidade.
Enquanto isso, a rotina da paciente e de outras seis pessoas segue alterada para maior segurança dentro de casa. Conforme Aline, que descobriu a doença em dezembro de 2019, as visitas estão proibidas. Os residentes, caso saiam, no retorna para casa é preciso deixar os calçados fora e ir direto ao banho; depois, colocar outras vestimentas. Para reduzir as idas à rua, o estoque de alimentos também foi abastecido. A paciente também gasta maior parte do tempo dentro do quarto improvisado.
“Desde o início do tratamento, a gente tinha cuidado com os alimentos. Eu já não estava saindo tanto. Minha rotina não mudou muito. Mas a de casa, sim. Eu vim para a casa dos meus pais. Eles tiveram de ter cuidado redobrado, pra falar, pra entrar no quarto. Mas comigo, permanece a mesma coisa”, descreve a fisioterapeuta.
Apesar da turbulência na saúde pública, Aline se sente confiante e espera que toda essa situação não demore a passar. Lamenta ainda por outros indivíduos em tratamento quimioterápico. “É mais difícil. Você já vulnerável. Acaba que vem a ansiedade, o medo. Por isso, eu procuro não ver, não alimentar a ansiedade. Mas confiar em Deus e na minha equipe médica. Eles sabem o momento de dar uma pausa no tratamento e continuar”, enfatiza.
Núbia Chagas também se encontra em isolamento. Aos 66 anos, a idosa, que já venceu um mieloma múltiplo, se priva das andanças na rua. A situação se complicou nos últimos dias. “Não tô muito bem, não. Não tô saindo de casa. Mesmo assim, tô com uma dor de cabeça, uma febre, um pouco de falta de ar, uma tosse danada”, revela.
Questionada sobre ter ido a alguma unidade de saúde, a senhora afirma fugir das enfermidades. “Não tô legal pra rodar onde tenha doença.” Para ela, as consultas de rotina no Hospital Walter Cantídio foram suspensas no contexto epidemiológico pandêmico. Para completar, não sai de dentro de casa também.
Hospitais especializados no tratamento oncológico adotam medidas de segurança
Superintendente Clínico do Hospital Haroldo Juaçaba, Reginaldo Costa pontua que a busca é não suspender nenhum tipo de atendimento já programado. Ele ressalta três tipos de pacientes: quem está começando o tratamento, aqueles com intervenções em curso e os já curados da doença, mas que precisam das consultas de rotina. Para esses, o Grupo do Instituto do Câncer do Ceará (ICC) agenda as consultas para 60 dias após o previsto. A estratégia pretende evitar exposição ao novo coronavírus.
“O volume de cirurgias e de quimioterapias é mantido. A gente teve de fazer adaptações para organizar horário de chegada, justo para evitar aglomeração de pessoas”, complementa Costa. Por outro lado, o porta-voz entende que há possibilidade de adiar alguns procedimentos.
“De fato, no dia a dia, existem as particularidades, que na visão do médico pode postergar em 30 dias. Isso se define dentro do consultório”, relata. Reginaldo cita ainda triagens feitas nas recepções do equipamento de saúde. “ Quem tem consulta, os imunodeprimidos, os acompanhantes são abordados e questionados se há sinais da Covid-19 ou aparente problema respiratório”
Além disso, algumas políticas foram implantadas dentro do instituição para restringir visitas a um horário e apenas um só visitante. Os pacientes instalados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) não recebem ninguém. “Os tratamentos continuam, mas caso alguém tenha problemas respiratórios tem de entrar em contato com o hospital e sinalizar na recepção”, alerta.
O Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce) também adotou medidas preventivas. Desde 23 de março, a Instituição entrega entregar os medicamentos e fator de coagulação nas residências dos pacientes portadores de hemofilia e hemoglobinopatias. A entrega em domicílio atende aos moradores de Fortaleza e região metropolitana.
A entrega em casa do fator VIII e fator IX atende aos indivíduos que fazem profilaxia e uso de hidroxiureia. Exjade e ácido fólico serão entregues aos portadores de hemoglobinopatias que já usam as medicações e realizam tratamento no Hemoce. Quem não faz profilaxia e precisa receber o fator, deve agendar horário de atendimento, através do telefone (85) 3101-2310.
Fernando Barroso, chefe de Serviço de Oncohematologia do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC), destaca o contato com todas as pessoas que precisam de medicamentos, bem como os necessitados de quimioterapia, os internados por leucemia para garantir o abastecimento dos remédios e a manutenção das consultas. Segundo ele, 40 mil indivíduos são atendidos na instituição.
Barroso afirma ainda que há remarcação de consulta aos pacientes com doenças crônicas. Além daqueles com consultas de rotinas. “Apesar das dificuldades, a gente está funcionando de maneira corretíssima. Há conscientização dos profissionais, enfermeiros, técnicos em enfermagem, e dos auxiliares”, relata. Em média, o HUWC atende 3,5 mil pessoas por mês.
“De uma maneira geral, só faz qualquer procedimento se tiver bem. Se tiver doente, não faz. No caso das internação, se o paciente tem insuficiência respiratórios, não se interna. Estamos tomando cuidados redobrados. No caso dos transplantes, só estão considerados os urgentes. Quem pode aguardar, não está sendo realizados. Além disso, só fazemos se tiver negativo para o teste da Covid-19. Se for positivo, não pode.” Apesar disso, Fernando Barroso pontua que nenhum indivíduo apresentou com teste positivo para a doença no hospital.
Fonte: O Povo