A introdução do celular no ambiente escolar tem gerado debates calorosos entre educadores, pais e pesquisadores. Se por um lado, o celular facilita o acesso à informação e à comunicação, por outro, sua presença constante entre jovens está associada a riscos que vão além do rendimento escolar: os impactos na saúde mental são uma preocupação crescente.
Pesquisas mostram que o uso excessivo de dispositivos móveis pode afetar negativamente a saúde mental dos adolescentes, sobretudo em aspectos como autoestima, capacidade de atenção, regulação emocional e qualidade do sono. Em sala de aula, a distração provocada pelo celular é um ponto de atenção. A alternância constante entre atividades, característica dos usos das redes sociais, prejudica a habilidade de se concentrar em uma única tarefa, um fator essencial para a construção do conhecimento profundo e crítico.
A era digital trouxe também a intensificação de uma cultura de comparação. Em redes sociais, os jovens são expostos a conteúdos idealizados e muitas vezes irreais, que podem gerar ansiedade, sentimentos de inadequação e baixa autoestima. No ambiente escolar, essa dinâmica não desaparece; ao contrário, é amplificada, pois a presença do celular leva essa “pressão social virtual” para dentro das salas de aula. As interações virtuais, que poderiam se limitar ao tempo fora da escola, passam a interferir diretamente no espaço e no tempo de aprendizado.
A longo prazo, o excesso de exposição às redes sociais e ao uso de dispositivos digitais pode prejudicar a saúde emocional dos adolescentes. Estudos associam esse uso intenso a um aumento nos sintomas de ansiedade, depressão e estresse, além de redução nos níveis de empatia.
A resposta para essa questão não é simples. Proibir o uso dos celulares nas escolas pode parecer uma solução óbvia, mas talvez simplista. Em vez disso, propomos a mediação e a educação digital como caminhos alternativos. Ensinar aos jovens sobre o uso consciente dos celulares, promover pausas para desconectar e trazer discussões sobre o impacto das redes sociais na autoimagem são estratégias que podem reduzir os riscos e promover uma relação mais saudável com a tecnologia.
Em resumo, o celular na escola é um fenômeno inevitável e, se bem direcionado, pode ser uma ferramenta poderosa de aprendizado e conexão. No entanto, o equilíbrio é fundamental. Cuidar da saúde mental dos jovens é uma responsabilidade coletiva – da escola, da família e da sociedade. É hora de construirmos, juntos, ambientes que respeitem e promovam o bem-estar emocional das novas gerações.
Por Mirta Lourenço. Médica e colunista do Revista Cariri