É comum receber pacientes que chegam ao hospital certos de que estão infartando, mas que na verdade estão apenas passando por uma crise de pânico ou ansiedade.
O fato é que os sintomas de ambos os quadros podem ser muitos semelhantes e gerar confusão, mas alguns indícios podem ajudar a diferenciar cada um. Primeiro, vamos resumidamente entender do que se tratam ambas as condições.
Infarto ou ataque cardíaco
Um infarto ou ataque cardíaco acontece em decorrência da interrupção do fluxo de sangue necessário para que o coração funcione de forma correta. Isso ocorre quando as artérias que irrigam o órgão apresentam algum problema ou entupimento. Os músculos do coração podem aguentar a isquemia (falta de sangue) por alguns minutos. No entanto, caso o quadro não seja revertido, o tecido sofre necrose – ou seja, morre.
Entre os sintomas mais frequentes estão: dor no peito (que pode irradiar para outras regiões, como nuca, queixo, ombros e membros superiores), dor no abdômen (que pode até ser confundida com uma indigestão), mal súbito ou desmaio, sensação de falta de ar, transpiração intensa e repentina, enjoo, dormência e formigamento, palpitações, inquietação, sensação de morte iminente e desorientação.
Crise de pânico ou ansiedade
A ansiedade, até certo ponto, é uma reação normal do organismo quando submetido a algum tipo de estresse. Porém, quando muito intensa, começa a comprometer a sociabilidade e a saúde, tornando-se um transtorno que pode vir a se manifestar por meio de crises agudas, também chamadas de ataques de pânico.
Durante uma crise, a pessoa experimenta sintomas que são facilmente confundidos com os de um infarto: dores no peito, suores, sensação de engasgo, taquicardia e palpitações, sudorese, tremor, dormência e formigamento (principalmente nas mãos e pés), agitação, sensação de falta de ar, enjoo e vertigem, angústia e medo extremos (inclusive da morte).
Como muitos desses sintomas envolvem órgãos vitais, é comum pensar que há um problema relacionado a outras doenças.
Como diferenciar crises de pânico de um infarto?
1. Indícios de gatilho emocional
Em primeiro lugar, é importante checar se os sintomas surgiram do nada ou se houve um motivo para isso. A crise de pânico ou ansiedade normalmente vem precedida de um momento de estresse. Sinais prévios de depressão e alterações de humor também podem caracterizar o quadro. Assim, uma das formas de diferenciar os casos é analisar se houve algum gatilho ou alteração emocional.
No ataque cardíaco muitas vezes os sintomas começam repentinamente, refletindo um quadro agudo e mais grave. Em alguns casos, não há o bloqueio completo da artéria e o fluxo do sangue diminui aos poucos.
2. Tempo de duração
A duração e o tempo em que os sintomas alcançam seu ponto máximo também são diferentes entre as crises ansiosas e o ataque cardíaco. Crises de pânico normalmente têm seu auge entre 10 e, no máximo, 20 minutos. Aos poucos, a pessoa tende a baixar os níveis de adrenalina e recuperar o controle corporal. Quando isso ocorre, não há alterações nos exames, ou seja, não é possível encontrar um problema de saúde que justifique os sintomas.
No caso do infarto, o estado agudo dura cerca de cinco minutos, mas em alguns casos se estende por até 20 minutos – o que de fato revela que há um problema crescente nas artérias, impedindo que o sangue chegue da forma como deveria ao coração. Os sintomas são crescentes e podem piorar gradativamente por várias horas.
3. Intensidade da dor
A intensidade da dor no caso das crises de pânico ou ansiedade é muito menor que a do infarto que, normalmente, só cessa com medicamento no hospital. A dor do infarto não passa mesmo quando a pessoa fica em repouso. Em situações assim, os sintomas surgem de forma aguda, indicando que o coração está em sofrimento.
Na maior parte dos casos de infarto, a dor começa no meio do peito e pode ser sentida no braço esquerdo (gerando sensação de formigamento) e nas costas, além de irradiar para o pescoço, nuca, ombros, mandíbula, queixo e estômago. Pessoas que já sofreram um ataque cardíaco classificam, geralmente, essa dor no peito como opressiva, ou seja, uma sensação de aperto ou pressão, como se conseguisse comprimir os demais órgãos do corpo.
Já na crise de ansiedade, a dor também se concentra na área do peito, mas sem a pressão gerada nos ataques cardíacos. Além disso, ela costuma vir em ondas, seguidas de uma sensação de ardor (formigamento) que não se limita ao braço esquerdo e pode irradiar no braço direito, pernas, dedos, tórax e pescoço.
4. Respiração
De modo geral, quem sofre uma crise ansiosa sente dificuldade em respirar, ficando com a respiração ofegante, como se houvesse um sufocamento. Contudo, as vítimas de um infarto, normalmente, não apresentam essas alterações, exceto nos casos em que o ataque cardíaco provoca também uma crise de ansiedade.
5. Medos
Em alguns quadros de pânico, o problema é originado por uma desregulação cerebral que ativa o sistema autônomo simpático e prepara o corpo para algo ruim, deixando o organismo em situação de alerta. Por isso, é comum que as pessoas, durante uma crise, tenham medos irracionais, entre eles o de altura, de ficarem presas em algum lugar ou de afogamento.
Pode surgir também o sentimento de despersonalização: a pessoa se desliga do mundo exterior, não se reconhece em si mesma, e há inquietação/agitação, expressa na dificuldade de se concentrar ou de ficar parada.
6. Outros sintomas
O infarto pode levar a um acúmulo de líquido no pulmão e, consequentemente, causar tosse. Tal sintoma, entretanto, não é comum a quem sofre de crises de ansiedade.
Para distinguir os dois, é preciso levar em consideração ainda fatores que aumentam as chances de um problema no coração, como: idade, tabagismo, nível de estresse no dia a dia, histórico familiar ou doenças como diabetes, obesidade, colesterol alto e hipertensão.
Crises de ansiedade aumentam os riscos de problemas no coração
Nesta relação é igualmente importante destacar que estudos já apontam que as crises de ansiedade são atualmente reconhecidas como fatores de risco para o coração, uma vez que, quando acontecem de forma recorrente, podem levar a uma resposta inflamatória no corpo, que predispõe a problemas cardíacos.
Entre os efeitos da ansiedade sobre o corpo estão: hipercortisolemia (altos níveis de cortisol na corrente sanguínea), hiperatividade do sistema nervoso simpático, anormalidades plaquetárias (que levam a fenômenos trombóticos), ativação do sistema imunológico (estimulando a evolução da aterosclerose) e ocorrência de doença arterial coronariana e de outros eventos cardiovasculares.
E se eu não conseguir identificar o que está acontecendo?
Na dúvida, o melhor é buscar atendimento médico. Apesar de todos os sintomas descritos, uma a cada cinco pessoas que sofrem um ataque cardíaco têm apenas sintomas leves ou até mesmo nenhum sintoma.
Além disso, assim como é possível que a pessoa confunda a ansiedade com um ataque cardíaco, o contrário também pode acontecer. A pessoa pode achar que está no meio de uma crise de pânico e minimizar os sintomas, quando na verdade está com um problema cardiovascular sério.
Nestes casos, o rápido atendimento emergencial é indispensável para aumentar as chances de sobrevivência. A realização de exames de sangue (para checagem das enzimas cardíacas que sinalizam a morte das células do coração) e do eletrocardiograma ou ECG (para verificar se há isquemia cardíaca) pode confirmar o infarto agudo do miocárdio, assim sendo possível iniciar o tratamento de forma precoce com medicamentos ou pela desobstrução da artéria coronária por cateterismo.
Já no caso de uma crise de ansiedade, não buscar ajuda médica pode piorar o problema, aumentando a frequência das crises. Tratamento e acompanhamento podem atenuar os efeitos negativos sobre a qualidade de vida e, como dito, também sobre a saúde cardiovascular.
Por Paulo Chaccur, cardiologista – CRM 22868/SP
Fonte: Minha Vida