Os primeiros meses do ano no Ceará são marcados pelo aumento do volume de chuva. Junto a este período, surgem doenças quase inerentes à quadra chuvosa, dentre elas, a “virose da mosca” que, embora tenha essa termologia tornando-se popular, não é apenas transmitida pelo inseto.
Curta e siga nossas redes sociais:
Sugira uma reportagem. Mande uma mensagem para o nosso WhatsApp.
Somente nas primeiras sete semanas deste ano, o Estado já registra mais de 28 mil casos da Doença Diarreica Aguda (DDA) ou Gastroenterite Aguda, com predominância da “virose da mosca”. Os dados são da Secretaria da Saúde (Sesa) do Ceará.
Embora o número seja significativo, a titular da Coordenadoria de Vigilância Epidemiológica (Covep) da Sesa, Vilani Matos, diz que “trata-se de um índice dentro da normalidade”. Em igual período do ano passado, os números se assemelharam. Pico, contudo, fora registrado em 2020, com mais de 73 mil casos nas primeiras 8 semanas do ano.
“Está dentro da média. E, apesar de alto, não podemos dizer que está havendo um surto”, detalha Vilani. As cidades com maior incidência, ainda segundo ela, são as da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), “com destaque para a Capital cearense”. Este perfil, contudo, justifica-se pelo alto número de habitante e densa concentração populacional.
Mas, de fato, quais sintomas dessa doença e como ela pode ser prevenida? E quais são os impactos do crescente número de infecções para o sistema hospitalar?
Especialistas alertam sobre os cuidados necessários a serem adotados para que não haja um surto da doença neste momento de pandemia.
“É um importante problema de saúde pública”, adverte a médica coordenadora clínica das Unidades de Terapia Intensiva do Hospital São Lucas, Bruna Ximenes Sabóia.
A médica explica que o período chuvoso “propicia ambientes favoráveis à proliferação de moscas, visto que, esta adapta-se bem aos ambientes e utiliza-se de locais úmidos e com material orgânico pra deposição dos seus ovos”.
Consequentemente, acrescenta Bruna, “podem transmitir centenas de patógenos para o homem e animais”, dentre estas a gastroenterite aguda.
“As moscas são importantes vetores por carrear de ambientes contaminados (lixões, matéria orgânica em decomposição) microrganismos responsáveis pelo desenvolvimento de doenças. Os principais agentes etiológicos responsáveis pelas tão famosas gastroenterites ou ‘viroses da mosca’, são os vírus.”
Bruna Ximenes, médica
Atribuir, diretamente, os casos às moscas, é errado, complementa a médica pediátrica Luana Barbosa. Mas, ela explica o porquê de esses insetos terem sido, popularmente, ligados a esta virose.
“Nesse período de chuva, onde há acumulo de lixo e proliferação das moscas, elas pousam, por exemplo, em fezes e a bactéria ali existente fica nas patas daquele inseto”, detalha a médica.
Quando a mosca pousa em comidas ou superfícies, ela está automaticamente contaminando o local. “A bactéria se multiplica, produzi toxinas e estas causam gastroenterite aguda”, ilustra Luana.
Outras formas de contágio
No entanto, segundo os especialistas, esses insetos não são os únicos responsáveis. A transmissão ocorre, sobretudo, por meio da contaminação de alimentos e água.
Como o contágio da virose pode acontecer pelo contato interpessoal, seja ele direto ou indireto, a titular da Coordenadoria de Vigilância Epidemiológica da Sesa, Vilani Matos, recomenda redobrar os cuidados com a higiene, principalmente neste período chuvoso.
Como forma de prevenção, Bruna Ximenes aponta para a importância da adequada higienização das mãos, utensílios e superfícies, armazenamento apropriado dos alimentos, limpeza e organização periódica das áreas externas e imediações da casa, correto armazenamento do lixo até a coleta, e, se possível, aplicação de telas protetoras em portas e janelas.
Sintomas e tratamento
Dentre os 28 mil casos registrados no Ceará da Doença Diarreica Aguda (DDA), a maioria apresentou sintomas leves. A médica Bruna Ximenes explica que, majoritariamente, o vírus que causa a ‘virose da mosca’ não desenvolve graves complicações.
“Em sua maioria com sintomas de náusea, vômito, dor abdominal, evacuações diarreicas e por vezes, febre, com duração média de 3 a 5 dias”, detalha a médica.
• Sonolência ou cansaço;
• Diminuição da produção de urina;
• Diarreia;
• Dor de cabeça;
• Febre;
• Prisão de ventre;
• Tonturas ou vertigens;
• Cólicas abdominais.
“Partindo-se do princípio que a maioria dos casos trata-se de quadros de etiologia viral, o tratamento consiste em sua maioria em hidratação, uso de analgésicos e repouso”, explica a Bruna Ximenes.
No entanto, ela reforça que cada caso deverá ser individualizado e o “profissional médico deverá ser consultado para melhores esclarecimentos e condução clínica”.
A titular da Covep, Vilani Matos, acrescenta ai que, ao observar alguns dos sintomas acima listados, o paciente deve reforçar a hidratação e, em persistindo os sinais, procurar médico para a adequada orientação. “Em alguns casos pode durar até 14 dias, portanto, é interessante o acompanhamento médico”.
Esse acompanhamento, o que representa ida às unidades de saúde, pode sobrecarregar o sistema de saúde, já bastante demanda devido aos casos da Covid-19 e outras doenças, como o vírus influenza H3N2.
“É uma das causas mais comuns de hospitalização e importante problema de saúde pública. Os pacientes ao não realizarem o tratamento no tempo e de forma adequada, evoluem com desidratação severa e graves processos infecciosos, que contribuem para desfechos desfavoráveis”, alerta Bruna Sabóia.
Por André Costa
Fonte: Diário do Nordeste