Ela é dezoito vezes menor do que o diâmetro de um fio de cabelo. Trata-se de uma nanopartícula, ferramenta em estudo e, em alguns casos, já usada em diversas áreas. Na saúde, por exemplo, promete ser um recurso eficiente na administração de medicamentos ao permitir a entrega de doses de fármacos reduzidas, porém melhor absorvidas.
Agora, um trabalho desenvolvido na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) demonstra seu potencial na redução de taxas elevadas de LDL, o tipo nocivo de colesterol. Em excesso na circulação sanguínea, a gordura contribui para a ocorrência de eventos cardiovasculares como o infarto, a principal causa de morte no país, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia – estima-se que sejam mais de mil óbitos por dia.
Em seu doutorado na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), a química de alimentos Valeria da Silva Santos desenvolveu nanopartículas de fitoesteróis, substância gordurosa produzida por plantas e encontrada em grãos e óleos vegetais como o de soja, porém em pequenas quantidades. A tecnologia possibilita sua maior funcionalidade na redução de colesterol.
A razão é simples. O fitoesterol é, por assim dizer, parente, do colesterol. Como o nome entrega, o colesterol também é um esterol, mas de origem animal. No intestino, acontece uma espécie de competição entre eles na hora da absorção. “O organismo entende que são a mesma coisa”, explica Valeria. Daí, o LDL, a lipoproteína de baixa densidade, passa a transportar o fitoesterol em vez do colesterol, que acaba sendo eliminado.
A especialista é uma das cofundadoras da startup Cognita Technology, formada por alunos e ex-alunos da Unicamp com o objetivo de usar a nanotecnologia para aumentar a oferta de alimentos funcionais que ajudem na luta contra o colesterol alto. No Brasil, só existe uma margarina no mercado com essa propriedade. As partículas usadas para carregar o fitoesterol têm entre 100 e 200 nanômetros – em uma escala menor do que 80 nanômetros, há risco de o produto causar danos a célulsa. Essa medida de segurança precisa ser comprovada e um licença para comercialização vai ser pedida para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Para isso, foram realizados testes com células em laboratório e com animais. “As nanopartículas não apresentaram toxicidade a nível celular”, conta Valeria. Nas cobaias, também não foram registrados problemas. Isso garante que não há perigo para o consumo. A obtenção das nanoestruturas é feita por meio de emulsão de óleo em água e o composto bioativo, no caso o fitoesterol livre, que é cerca de dez vezes mais eficiente para diminuir o colesterol. Por meio de alta pressão, a substância é atraída para dentro da partícula. Não são empregados solventes, sendo uma tecnologia amiga do meio ambiente.
*Com informações da Agência Einstein
Fonte: UOL