Alguns estudos científicos apontam que a exposição prolongada à radiação eletromagnética não ionizante, emitida pela fiação elétrica e por smartphones, telefones sem fio ou eletrodomésticos, que não tenham como objetivo a telecomunicação, como micro-ondas, por exemplo, pode favorecer o surgimento ou agravamento de doenças. Mas os dados são inconsistentes, especialmente porque os resultados de estudos em humanos são limitados.
É normal a comunidade científica contestar e revisar a questão a todo momento, a tecnologia está em constante evolução e seu método de uso também. Para se ter ideia, globalmente, mais de 5 bilhões utilizam celulares e o número de chamadas de celulares por dia, a duração de cada chamada e a quantidade de tempo que se gasta com celulares só vem crescendo.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) já advertiu que o uso de telefones celulares seria “possivelmente cancerígeno para humanos” e atualmente não reconhece a “hipersensibilidade eletromagnética” como um diagnóstico médico, diferente de alguns países. É o caso da Suécia.
Por lá, milhares se identificam como “eletrossensíveis” e são apoiados, mesmo não havendo conclusões científicas para a causa que apontam para seus problemas de saúde.
A Associação Sueca para Eletrossensíveis acredita que por viverem no extremo norte do globo, os suecos estariam mais suscetíveis aos efeitos da radiação eletromagnética, sobretudo no inverno, quando ficam mais confinados e usam em excesso aparelhos, inclusive para se aquecer.
No Brasil, o que dizem os médicos?
Por aqui, consultamos especialistas de diferentes áreas para saber se a exposição à radiação eletromagnética do dia a dia faz mesmo mal à saúde. Veja só o que eles dizem.
Sobre o uso de celulares, Fábio Porto, neurologista do HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) afirma que até o momento não há base científica para associar problemas de saúde sérios, como câncer da região de cabeça e pescoço, à exposição a campos eletromagnéticos desses aparelhos e cita dados atualizados do National Cancer Institute, dos Estados Unidos, e que se baseiam na OMS.
“Há muito mais especulação do que perigo real. Os melhores estudos sobre esses efeitos nunca obtiveram dados concretos. In vitro, testes de laboratório, há várias teorias que apontam mudanças e estresse em células, mas in vivo os dados são insuficientes para demonstrar algum efeito deletério”, diz Porto.
“A chance é muito pequena. Não acho que é algo para se preocupar como ter câncer no cérebro por conta de usar celular, por exemplo”.
Estudos mais antigos avaliaram a exposição à radiação de radiofrequência de celulares analógicos. Hoje, os celulares usam tecnologia digital, que opera em uma frequência diferente e um nível de energia mais baixo do que os modelos antigos.
Além disso, o uso de tecnologia viva-voz, como fones de ouvido com e sem fio, está aumentando e isso reduz a exposição ao corpo.
Micro-ondas só em bom estado
Isabella Drumond Figueiredo, oncologista com passagem por várias instituições científicas que estudam e tratam câncer no mundo, tais como Tom Baker Cancer Centre (Canadá), Sylvester Comprehensive Cancer Center e MD Anderson Cancer Center (ambas nos Estados Unidos) explica que a radiação que engloba ondas de rádio, TV e micro-ondas está na categoria de baixa energia do espectro eletromagnético, por isso sem energia suficiente para causar câncer.
No entanto, ela explica que se essa radiação for absorvida pelo corpo em grandes quantidades, pode produzir calor e, consequentemente, causar queimaduras e danos aos tecidos do corpo.
“Em relação aos micro-ondas, eles usam níveis muito altos de uma certa frequência de radiação para aquecer alimentos, mas não emitem raios-X ou gama e não tornam os alimentos radioativos. Os fornos são projetados de forma que as ondas de radiofrequência fiquem retidas dentro deles. Usar esses aparelhos íntegros não oferece danos. Entretanto, fornos danificados podem vazar micro-ondas, causando risco de queimaduras”, explica a oncologista.
Laptop requer uso correto
Alex Meller, urologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e do Hospital Israelita Albert Einstein (SP), também concorda que ainda não há evidências científicas de que ondas eletromagnéticas de aparelhos eletrônicos causem problemas, diferentemente das ondas de radiação ionizante, que têm efeito direto sobre a saúde e alteram inclusive a fertilidade.
“Sobre laptop, o que prejudica a reprodução humana não é o eletromagnetismo em si, mas o aquecimento do aparelho e que se for colocado com muita frequência sobre o colo pode afetar a produção dos espermatozoides pela alta temperatura”, explica Meller.
A fala do urologista corrobora um estudo aceito e publicado pela Universidade do Estado de Nova York na revista Fertility and Sterility. Nele, cientistas usaram termômetros para aferir a temperatura dos testículos de 29 participantes que tinham por hábito usar laptops sobre o colo.
Mesmo com um suporte sobre as pernas, o que se observou foi que entre 10 a 15 minutos os escrotos superaqueceram e depois de uma hora estavam 2,5 graus mais quentes.
Fonte: VivaBem/UOL