As demandas por internação de pessoas com Covid-19 começam a crescer no Ceará, sobretudo, em Fortaleza. De acordo com o secretário estadual da Saúde, Dr. Cabeto, há uma projeção de necessidade de mil leitos de UTI em três meses somente para tratar a doença. O Ceará, segundo ele, tem conseguido estruturar leitos exclusivos para essa finalidade e, até junho, terá 800 ao todo.
Até o dia 1º, o estado tinha 51 pessoas internadas em decorrência do novo coronavírus, sendo 30 em leitos de enfermarias e 21 em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O secretário afirma que, antes mesmo dos casos serem registrados no estado, o governo já estava fazendo cálculos do que seria necessário. A perspectiva é de que o pico ocorra até maio.
“Tudo o que definimos é em cima de estudos, pesquisadores que estão analisando diariamente para que a gente conheça qual vai ser nosso ponto de saturação. Para que a gente consiga esse achatamento da curva e não tenha saturação do sistema como aconteceu na Itália, Espanha e Estados Unidos, que negligenciaram o controle inicial”, explica.
O movimento de internações, segundo o secretário, ocorreu principalmente na rede particular da Capital. E por isso, a situação também não tem sido tão grave, pois, garante ele, os hospitais privados também já tinham destinados leitos exclusivos para essa finalidade.
“Tínhamos feito um cálculo que entre o dia 14 e 20 de abril dependendo, se nós fôssemos ser uma China ou uma Itália, nós teríamos um esgotamento disso. O que a gente fez em janeiro? Começamos a mudar o perfil assistencial da rede hospitalar. Por esse motivo que vocês não estão vendo aquela sobrecarga de gente nas unidades”, garante.
A requisição do Hospital Leonardo da Vinci foi uma das ações iniciais para tentar ampliar os leitos de UTI no Estado, de acordo com Cabeto. A unidade tem 230 leitos, sendo 30 de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), apenas para os casos confirmados de infecção pela Covid-19. O equipamento é particular, mas foi cedido à administração do Governo do Estado nesse momento de pandemia.
“Quando destinamos o Leonardo da Vinci para essa finalidade foi sabendo que no dia 4 de abril precisávamos estar preparados. Em três meses, vamos precisar de mil novos leitos de UTI. Não tudo de uma vez. Mas se isso acontecer, vamos estar preparados”, garante o secretário da Saúde.
A capacidade de instalação de UTIs na unidade pode chegar a 130. Além disso, foram separados 50 leitos de UTI no Hospital César Cals, 30 no Hospital de Messejana, 16 no Hospital Geral de Fortaleza (HGF), 10 no Hospital Regional Norte, 10 no Hospital Regional do Sertão Central e 10 no Hospital César Cals. O secretário explica que além das vagas já separadas, até junho de 2020, deverão sem implantados 100 novos leitos de UTI nos Hospitais Polos e 100 novos leitos de UTI nos Regionais.
Cabeto esclarece, ainda, que o Governo não descarta a ideia de utilizar a capacidade da estrutura privada. “O Estado pode e vai requisitar, se assim for necessário, em acordo com os diretores de hospitais”, acrescenta.
Pesquisa
As estimativas do secretário apontam justamente o que um estudo feito por pesquisadores da Universidade de Harvard e do Brasil, a pedido do Ministério da Saúde, detectou.
A pesquisa, que conta com a colaboração do secretário de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, Wanderson de Oliveira aponta que hospitais brasileiros, incluindo a rede de saúde de Fortaleza, em abril deveriam ter gargalos na disponibilidade de leitos de hospitais e aparelhos respiradores e, sobretudo, ter problemas imediatos nas vagas em UTIs.
Na pesquisa são consideradas as situações de 12 capitais: São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Fortaleza, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Salvador e Manaus. O estudo, projeta 12 cenários distintos de vivência da epidemia em cada uma das cidades.
Para embasar a pesquisa, foram utilizados dados sobre a disponibilidade de leitos comuns, de UTI e respiradores até dezembro do ano passado, extraídos do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), de acordo com os pesquisadores. A simulação dos cenários foi feita também a partir de informações sobre a ocupação hospitalar média em 2019, fornecidas pelo Sistema de Informações Hospitalares Descentralizado (SIHD) do Datasus. A pesquisa não encontrou dados sobre a média de ocupação em hospitais particulares, e, por isso, foi utilizada a mesma média do sistema público de saúde.
Por Thatiany Nascimento e Barbara Câmara
Fonte: G1 CE