A carne de frango brasileira rejeitada no Reino Unido entre abril de 2017 e novembro de 2018 por contaminação de salmonela voltou ao Brasil e foi revendida no mercado nacional, de acordo com investigação feita pela Repórter Brasil em parceira com o jornal britânico The Guardian e o Bureau of Investigative Journalism.
Segundo a reportagem, cerca de 1 milhão de aves congeladas foram vetadas nos portos do reino Unido por não atenderem os padrões de segurança alimentar europeu, que tolera 3,3% de carne de frango contaminada. No Brasil, a regulamentação tolera até 20% de contaminação.
De acordo com o Ministério da Agricultura e a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), ouvidos pela matéria, o produto vetado que volta ao Brasil pode seguir dois caminhos. Se o tipo de salmonela presente apresentar risco potencial à saúde humana, o frango contaminado é cozido e a carne é processada em subprodutos, como nuggets, salsicha, linguiça e mortadela de frango. Mas se as bactérias não forem perigosas, o produto é colocado no mercado interno “in natura”.
Galinhas são hospedeiros naturais
A salmonela tem diversos subtipos, com uma variedade de patogenicidade, ou melhor, a capacidade do agente invasor em causar doença. De acordo com Cynthia Kunigk, professora do curso de Engenharia de Alimentos do Instituto Mauá de Tecnologia, essa bactéria faz parte da microbiota do intestino do frango, mas nem todos tipos que vivem lá causarão uma doença no ser humano. “Isso depende da patogenicidade e da pessoa. Um sistema imunológico debilitado também favorece a contaminação”, explica.
Por estar presente no intestino dos animais, a salmonela também sai nas fezes e contamina o pé da galinha e as penas. Se não forem tomados os devidos cuidados no ambiente do abate e no processamento, pode ter contaminação. “A indústria deve usar produtos antimicrobianos no ambiente para evitar que isso ocorra e tomar cuidado com a ração”, diz Kunigk.
Além das carnes de frango e vaca, outros alimentos de origem animal também já foram responsáveis por surtos de salmonela, como queijos frescos, leite e ovos.
Como evitar a contaminação
Segundo a engenheira de alimentos, entretanto, a salmonela é facilmente destruída pelo calor, o que torna as medidas adotadas pelo Brasil com os produtos que voltam do veto europeu relativamente seguras. “Uma temperatura de 65°C já é suficiente para destruir a bactéria, ou seja, basta cozinhar o alimento”, diz ela. Mas se o consumidor deseja garantir que não seja contaminado após adquirir a carne no mercado, ele deve, além de cozinhar o alimento, tomar cuidado na hora de manipulá-lo em casa.
Se o frango contaminado é cortado em uma tábua, a bactéria também pode ser passada para o objeto. O mesmo ocorre com a faca usada no corte. Dessa forma, o ideal é não usar esses mesmos objetos para produtos prontos para consumo, como uma salada ou um tomate.
E não pense que basta higienizar a tábua e a faca com água e sabão ou jogar água quente. Para eliminar de vezo risco de contaminação, invista em utensílios diferentes para manusear carnes cruas e alimentos prontos para consumo. “Não se deve misturar, mesmo que eles estejam higienizados. A bactéria pode escapar de alguma forma”, alerta Kunigk. Ela ainda indica o uso de hipoclorito nos utensílios.
Na hora do preparo, também evite lavar a carne crua na pia, já que isso pode espalhar os organismos nocivos pelo ambiente.
Salmonela é perigosa?
A bactéria atua sobre o intestino das pessoas, onde se multiplica e pode entrar na corrente sanguínea, atingindo outros órgãos do corpo. Em casos raros, ela pode provocar graves infecções e até mesmo a morte.
Os sintomas costumam ser vômito, dores abdominais, febre e diarreia, mas desaparecem após uma semana. As infecções mais graves acontecem em pessoas idosas e em crianças, devido à sensibilidade do sistema imunológico.
Fonte: Viva Bem/UOL