O café, uma das bebidas mais consumidas pelos brasileiros, tem sido alvo de adulterações que preocupam tanto especialistas quanto órgãos de fiscalização. O chamado “café fake” é um produto que, em vez de ser 100% composto por grãos moídos, contém misturas indevidas, como cascas, milho, cevada, amido e até madeira. Essa prática fraudulenta não só reduz a qualidade do café, mas também pode oferecer riscos à saúde dos consumidores.
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Riscos para a saúde
De acordo com um estudo do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL), em amostras analisadas de cafés disponíveis no mercado, foram encontradas impurezas como cascas e paus, que, quando torrados e moídos, se misturam ao pó de café sem que o consumidor perceba. Outras análises identificaram presença de milho, cevada e até produtos químicos que mascaram o sabor inferior da mistura.
O problema vai além do sabor. Segundo a nutricionista funcional Aline Ribeiro, o consumo de café adulterado pode gerar irritações gástricas, alergias e até intoxicações leves, dependendo da substância adicionada.
“Quando um café contém impurezas como amido e cevada, pode afetar diretamente quem tem intolerância ao glúten, por exemplo. Além disso, a ingestão de resíduos de madeira e outras impurezas pode levar a complicações gastrointestinais, além da redução dos benefícios do café puro, como a ação antioxidante”, explica a nutricionista.
Fiscalização e dificuldades no controle
O Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) é o órgão responsável pela fiscalização do café comercializado no Brasil. No entanto, especialistas afirmam que a fiscalização ainda não é suficiente para impedir a venda de produtos adulterados.
Para o engenheiro de alimentos Marcelo Tavares, a grande oferta de cafés de baixa qualidade em mercados populares e em embalagens que não seguem normas de certificação facilita a disseminação do “café fake”.
“A legislação determina que o café seja composto apenas por grãos moídos, sem qualquer outro componente. Mas, muitas vezes, marcas menores e de baixo custo burlam essas regras, especialmente quando o controle da produção é mais difícil. Isso prejudica tanto o consumidor quanto os produtores que trabalham corretamente”, ressalta Tavares.
O engenheiro destaca que o Selo de Pureza ABIC (Associação Brasileira da Indústria de Café) pode ser um diferencial na hora da compra, pois indica que o produto passou por análises laboratoriais e não contém fraudes.
Como identificar e evitar o café adulterado
Especialistas apontam algumas dicas para os consumidores se protegerem de cafés adulterados:
Desconfie de preços muito baixos – Cafés extremamente baratos podem conter misturas indevidas para reduzir custos de produção.
Observe a rotulagem – Prefira marcas que tenham certificação da ABIC e que informem detalhes sobre a origem do produto.
Sinta o aroma e o sabor – O café puro tem um aroma forte e característico, enquanto cafés falsificados podem ter um cheiro estranho ou um gosto residual de queimado.
Teste com água – Um método caseiro para verificar a pureza do café é dissolver um pouco do pó em um copo d’água. O café puro tende a flutuar, enquanto impurezas como amido e farinha de milho se depositam rapidamente no fundo.
O que dizem os produtores de café?
Produtores de café de alta qualidade também se preocupam com o impacto das fraudes no setor. Para Carlos Mendes, produtor de café especial em Minas Gerais, o café adulterado prejudica a imagem do produto nacional.
“O Brasil é um dos maiores exportadores de café do mundo, mas quando esses cafés falsificados circulam no mercado interno, os consumidores perdem a confiança no produto. Isso afeta toda a cadeia produtiva e desvaloriza o trabalho dos cafeicultores que investem em qualidade”, afirma Mendes.
Diante desse cenário, a recomendação dos especialistas é clara: os consumidores devem estar atentos à procedência do café, buscar produtos certificados e, sempre que possível, optar por marcas de confiança para garantir que estão consumindo café de verdade.
Por Heloísa Mendelshon