O Brasil atingiu um marco histórico na área da oncologia ao desenvolver, produzir e aplicar, pela primeira vez, uma terapia celular CAR-T inteiramente em território nacional. O tratamento, realizado no Hospital Israelita Albert Einstein, apresentou resultados expressivos em pacientes com cânceres hematológicos avançados e refratários a todas as terapias anteriores.
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🚨 O avanço inédito da CAR-T no Brasil
O estudo CARTHIAE, financiado pelo Ministério da Saúde por meio do PROADI-SUS e aprovado pela Anvisa, é o primeiro ensaio clínico fase I de CAR-T produzido dentro de um hospital brasileiro.
A novidade também representa a primeira manufatura point-of-care da América Latina — quando a tecnologia é fabricada no mesmo local em que será aplicada.
Segundo o hematologista Nelson Hamerschlak, coordenador do estudo, o feito demonstra a capacidade de um país de renda média em produzir uma terapia de alta complexidade com segurança e eficácia. Ele destaca:
“Mostra que um país de renda média pode produzir CAR-T com segurança, eficácia e custo potencialmente reduzido.”
🔬 O que é a CAR-T e por que ela é tão esperada
A terapia CAR-T é uma imunoterapia personalizada:
• células T do próprio paciente são coletadas;
• passam por modificação genética para reconhecer células tumorais;
• retornam ao organismo para destruir o câncer.
A tecnologia já revolucionou o tratamento de linfomas e leucemias em países ricos, mas o acesso sempre foi limitado no Brasil devido ao alto custo — que chega a R$ 2 milhões a R$ 3 milhões quando importada — e à dependência de laboratórios estrangeiros.
Estudos, como o da Universidade Federal do Paraná (Journal of Medical Economics), apontam que a logística internacional é um dos fatores que mais encarecem o tratamento.
🧪 Como foi conduzido o estudo brasileiro
O CARTHIAE tratou 11 pacientes entre 9 e 69 anos, todos em condição grave, refratários a diversas terapias (mediana de quatro tratamentos prévios).
Distribuição dos diagnósticos:
• Linfomas de células B
• Leucemia linfóide aguda (LLA)
• Leucemia linfocítica crônica (LLC/CLL)
A produção ocorreu no próprio Einstein, com a plataforma CliniMACS Prodigy, garantindo autonomia e reduzindo o tempo de logística.
O tempo médio entre coleta e infusão foi de 22 dias, com 100% de sucesso de manufatura, dado raro mesmo em grandes centros internacionais.
📈 Resultados: alta taxa de remissão e segurança controlada
Os números apresentados impressionam:
• 81% de resposta global
• 72% de remissão completa
• 71% de sobrevida livre de progressão
• 80% de sobrevida global após 11 meses de acompanhamento
As células CAR-T permaneceram no organismo por até um ano, demonstrando persistência da terapia.
Os efeitos adversos — febre, inflamação e alterações neurológicas temporárias — foram manejáveis e já esperados para esse tipo de tratamento, desaparecendo após intervenção médica.
💰 Por que a produção nacional pode mudar o acesso
A fabricação brasileira reduz custos e elimina o atraso crítico da importação.
Segundo Hamerschlak, abre-se caminho para:
• modelos de acesso ampliado, inclusive no SUS;
• criação de uma rede nacional de centros produtores e infusores, como Einstein, USP Ribeirão Preto, Fiocruz/INCA, Butantan e Mandacaru.
🏛️ O papel do Ministério da Saúde
O estudo recebeu R$ 31,9 milhões em financiamento.
O hematologista destaca que o apoio permitiu viabilizar a fase inicial, mas não resolve o debate sobre futura incorporação ao SUS.
O Ministério da Saúde reforça que qualquer inclusão no sistema público depende:
• do registro na Anvisa;
• da avaliação da Conitec, responsável por analisar eficácia, segurança e custo-efetividade.
🔮 Próximos passos
A fase II do estudo deve iniciar entre 2026 e 2027, com ampliação da produção nacional.
Outra frente de inovação inclui o desenvolvimento de um vetor viral 100% brasileiro, aprovado no Pronon, para uma futura CAR-T contra o mieloma múltiplo.
Essa iniciativa, liderada pela hematologista Lucila Kerbauy, pode abrir caminho para terapias produzidas integralmente no país em padrão GMP.
Por Nágela Cosme








