Ainda era maio quando o número de casos de novo coronavírus no Brasil começou a galopar e Jair Bolsonaro sugeriu, até com parcial correição, que fossem consideradas as taxas de infecção por milhão de habitantes. À época, o País mal figurava entre os 50 com mais confirmações ajustadas pelo tamanho da população, apesar de já estar em sexto em número absolutos de casos.
Passados dois meses e as razões ficam claras. A pandemia chegou primeiro a Ásia e Europa, daí as taxas altas dos países de tais continentes. A população do Brasil é enorme e bem distribuída num território grande, o que faz com que a disseminação do vírus seja mais lenta. E os governos, federal, estaduais e municipais, faziam pouco esforço para testar a população. Ou seja, sempre foi uma questão de tempo até a Nação entrar no top-10 de países com mais casos de Covid-19 no mundo.
Hoje, se desconsiderados os territórios de população muito pequena, como San Marino, Andorra e Vaticano — que acabam extrapolando o dado —, o Brasil é o 10º país com mais casos de novo coronavírus por milhão de habitantes. Acima, apenas Catar, Bahrein, Chile, Kuwait, Oman, Panamá, Armênia, Estados Unidos e Peru. Todos, absolutamente todos, têm índices de testes por milhão de habitantes maior que o do Brasil, o que indica que, entre estes, o País é aquele com maior subnotificação.
Quanto maior a população, mais difícil é esse dado subir. Hoje, a Índia é a terceira com mais casos absolutos, mas por conta da população de 1,38 bilhão de habitantes, não fica nem entre os 100 países com mais casos. São mais de 900 mil casos. Ao mesmo tempo, territórios pequenos têm dados deturpados. O Vaticano, por exemplo, é o sexto com maior taxa de confirmações por milhão, apesar de ter apenas 12 casos. A explicação está no tamanho da população: são só 801 pessoas. Extrapolando o dado de um pelo de outro, se indianos tivessem o mesmo índice de contágio proporcional que os da cidade papal, seriam mais de 20 milhões de casos.
E o que é mais grave? Os 12 casos no Vaticano ou os 907.645 da Índia? Ou os 1.884.967 do Brasil? São vidas, cada um desses números.
Quando defendeu a taxa por milhão, assim, descontextualizada, o presidente da República queria varrer o lixo para baixo do tapete. Tanto que, na mesma entrevista, ele citava a Suécia como caso de sucesso com o famigerado “isolamento vertical”, quando os escandinavos tinham um dos maiores índices de infecção proporcional. Brasileiros, com a população estimada em 209 milhões, já superaram até os suecos, cuja população é de pouco mais de 10 milhões.
Comparação por estados e países
Segundo dados do site Worldometers (https://www.worldometers.info/coronavirus/), a taxa por milhão do Brasil é hoje de 8.880 casos — o Ministério da Saúde considera 8.970. O Brasil é atualmente o 12º, excluindo países pequenos, e 15º se não excluir. A maior é a do Catar, com 37.045. Entre os estados brasileiros, o maior índice é o de Roraima, com 37.353 casos por milhão. Seria o maior do mundo. A população roraimense, porém, não chega a 1 milhão, portante, o dado fica alarmista. Bem como a do Amapá, que também seria líder no mundo.
Com tais exceções, a liderança vai para o Distrito Federal, sede dos Três Poderes. São 23.973 casos por milhão, o que deixaria o território na segunda colocação, bem acima do Bahrein, 19.660 confirmações proporcionais.
Apesar de ainda liderar em números absolutos, atualmente o Ceará (15.025) caiu para terceiro em casos proporcionais no Nordeste, tendo sido superado por Paraíba (15.208) e Sergipe (16.627). No mapa global, as terras alencarinas ficariam na quarta colocação, atrás de Catar, Bahrain e Chile.
Claro que a densidade populacional afeta cada um dos números. Bem como a testagem, a qualidade do isolamento, a disseminação de informações verdadeiras. Mas minimizar os dados do Brasil é uma irresponsabilidade que afeta 209 milhões de pessoas.
Por André Bloc
Fonte: O Povo