Seja na galinha caipira, no baião de dois, no mungunzá ou para fazer a tradicional “pequizada”, onde é protagonista, o pequi é muito consumido na região do Cariri. Além das feiras e mercados, é facilmente encontrado às margens das rodovias que cortam a Floresta Nacional do Araripe, vendido pelos próprios extrativistas.
Além disso, o óleo de pequi é um dos produtos mais requisitados na época das romarias, em Juazeiro do Norte, ao lado da rapadura. No entanto, neste mês de janeiro, que marca o ponto alto da safra do fruto, os vendedores têm sentido uma queda de cerca de 50% na procura devido à pandemia da Covid-19.
Maxwell Ferreira da Silva, de 22 anos, se acostumou a passar o dia ao lado da CE-292, entre Crato e Nova Olinda, local que se tornou uma grande feira livre, onde além do pequi encontra-se jaca, leite de janaguba, macaúba, entre outros produtos. Porém, poucos motoristas têm parado. “Eu chegava a vender mil pequis num dia fraco”, afirma Maxwell. Esse ano, a média do vendedor é de 500. “Podemos dizer que está ruim na pandemia, porque dificilmente estão parando, com medo da doença”.
Mesmo que nesta época do ano, pela grande quantidade de pequi encontrado no topo da Chapada do Araripe, o preço seja menor, R$ 20 a centena (contra R$ 25 no mesmo período do ano passado), a procura caiu em relação a 2020, por exemplo.
“É difícil para nós, que precisamos do pequi, do ‘tempo das frutas’, porque nós sobrevivemos disso. Ano passado vendeu muito”, conta o jovem.
Poucos metros à frente da barraca de Maxwell, Audísio Sebastião da Silva, 46, observa que, apesar da baixa procura, a safra do pequi será mais duradoura. “Talvez vá até abril”, pontua. Há seis anos vivendo do comércio à beira de estrada, chega a “importar” o fruto do Maranhão, porque o local se tornou uma referência para compra. “O pequi ainda é procurado. Um dia tá melhor e outro mais fraco. Minha renda é daqui. Vivo disso”, completa.
Safra
A safra de pequi é contabilizada, anualmente, pela pesquisa da Produção da Extração Vegetal e da Silvicultura (PEVS). A supervisora estadual de Estatísticas Agropecuárias do IBGE no Ceará do IBGE, Regina Lúcia Feitosa, explica que, apesar da safra ter início a partir de dezembro, a maior quantidade se dá em janeiro e fica contabilizada para o ano seguinte. “A de 2020, só divulgaremos em outubro”, pontua. Em Crato, a última safra registrada, de 2019, soma 300 toneladas de pequi. A cidade vizinha de Barbalha lidera com 500 toneladas.
O óleo de pequi, que é usado para fins medicinais, é vendido entre R$ 90 a R$ 100. O preço, que pode parecer alto, é devido ao trabalho e custo para sua produção. A forma mais tradicional de extração é através do cozimento na lenha. O processo é demorado. Geralmente, os catadores iniciam de manhã, com o céu ainda escuro, ‘rolando’ – descascando – o pequi, colocando no tacho ou panela com água. Após aproximadamente oito horas no fogo, sempre mexendo, o óleo começa sair da polpa e se concentra no topo do recipiente. São necessárias cerca de 1 mil unidades para produzir um litro. O trabalho é cansativo e normalmente com condições precárias de higiene e segurança. Por outro lado, é o que garante renda para as comunidades.
O agricultor José Valdenor Pereira de Lima, de forma inovadora, há dois anos, resolveu comercializar, além do pequi, suas mudas. Cada uma custa R$ 20 e a procura tem sido muito boa. “Teve dia que cheguei a vender nove. O pessoal leva para plantar, para sombra. Sai bem, graças a Deus”, completa.
Por Antonio Rodrigues
Fonte: Diário do Nordeste