Endêmico do Cariri, o soldadinho-do-araripe foi responsável por colocar o Sul do Ceará na rota dos observadores de aves, uma atividade que tem crescido, nos últimos anos no Brasil, atraindo mais de 30 mil pessoas. No mundo, é ainda maior: apenas os Estados Unidos têm registrado 45 milhões de praticantes.
Com a demanda dos últimos anos, o Sítio Pau Preto, em Potengi, se tornou ponto de parada obrigatória de estrangeiros que visitam o Sul do Ceará para admirar a avifauna da Caatinga. Lá, há uma casinha que, no fim do ano passado, se tornou o Museu Casa dos Pássaros do Sertão, incluída no projeto de museus orgânicos do Serviço Social do Comércio (Sesc), como um espaço de observação e fotografias de pássaros, sob o comando do biólogo Jefferson Bob.
De hobby para profissão, Bob sempre foi apaixonado pela natureza e cresceu no próprio Sítio Pau Preto nos arredores da casa de suas avós, Josefina Zizi da Conceição, a Dona Zizi, e Mário Gonçalves de Lima, herança dos bisavôs Abraão e Ana Gonçalves, que chegaram ali em 1937. Em 2016, o biólogo, que já trabalhava com turismo de observação de aves, reformou a casa e iniciou um trabalho com hospedagem domiciliar.
Da própria varanda, rapidamente se juntam dezenas de espécies ao redor do comedouro, montado especialmente para a fotografia. A água, neste período mais seco, atrai as aves com mais facilidade. “Em horários mais quentes, ficam fotografando. Foi planejado para isso. É focado tanto no observador iniciante, como o experiente. Muitas pessoas da cidade perguntam: ‘Por que vem gente de todo mundo para lá? O que tem lá’. Todos vêm por conta das aves”, reforça o biólogo.
Adaptado para recebê-las, o Sítio Pau Preto recebe turistas de países como Estados Unidos, Inglaterra, Holanda, China, África do Sul, entre outros. Lá, já foram cadastradas 2012 espécies no eBird, entre residentes e visitantes (aves migratórias que passam com frequência no período chuvoso). “O sítio está num local estratégico. Um pouco afastado da cidade e concentra espécies comum da caatinga e estamos próximos da parte alta da Chapada. Acontece que muitas espécies ocorrem mais em nossa região que em outros lugares, como o pompeu, casaca de couro, cardial do nordeste, o galo de campina”, esclarece Bob.
Crescimento
Também biólogo, Ciro Albano foi um dos pioneiros no turismo de observação de aves na região do Cariri, que se impulsionou, principalmente, a partir da primeira avistagem do soldadinho-do-araripe por ornitólogos, em Barbalha, em 1996. Dois anos depois, a espécie endêmica do Cariri seria descrita e, em 2000, já estava na lista vermelha internacional de animais ameaçados.
“O observador de aves é um observador de natureza. O Cariri se tornou parte de uma rota antiga. Todos os observadores do planeta tem sonho de ver o soldadinho-do-araripe, porque ele é muito restrito e muito ameaçado. É a única endêmica do Ceará”, diz Bob.
Em 2006, começaram a aparecer turistas com interesse em observação de aves no Cariri, mas não tinha guias qualificados na região. Com a demanda, Ciro iniciou este trabalho com o roteiro nordestino, que passa pelo Maciço do Baturité, o Sertão Central, o Cariri e estados vizinhos como Bahia, Alagoas e Pernambuco. Até que o próprio Bob, em 2013, se juntou a este trabalho. “O sítio supriu. É montado para quem gosta. Tem hotéis na região, mas lá é outra história, está na mata”, diz.
Por Antonio Rodrigues
Fonte: Diário do Nordeste