Benigna Cardoso da Silva, apesar do pouco tempo de vida, foi uma católica dedicada na cidade de Santana do Cariri. Aos 13 anos, perdeu a vida com golpes de faca ao resistir a uma tentativa de estupro – fato que a colocou como “Heroína da Castidade”. Ao completar 81 anos de morte, no dia 24 de outubro de 2022, a cearense será beatificada.
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Esse é o reconhecimento da religião em relação às virtudes cristãs, espirituais e humanas. Benigna será a primeira cearense beata. E a beatificação faz parte do processo de canonização, quando é dado o atributo de santidade.
Para a Menina Benigna, essa etapa começou quando a Diocese do Crato solicitou a análise em 2011. Dois anos depois, foi dado o ‘Nihil obstat’ (nada obsta), que é o documento emitido pelo Vaticano permitindo a abertura da causa de beatificação.
A história da cearense comove fiéis desde então e católicos pedem a intercessão de Benigna para alcançar graças como a recuperação da saúde. Histórias de milagres e homenagens em romarias mobilizam fé no Estado.
Como aconteceu a morte
A pequena Benigna Cardoso alertou para a família e ao padre Cristiano Coelho que um garoto a estava perseguindo e mandava cartas com frequência. A menina foi retirada da escola em Inhumas e levada para uma unidade na sede de Santana do Cariri.
Seu irmão Cirineu passou a esperá-la na saída do colégio para acompanhá-la até em casa, por segurança. Mas Raimundo Alves Ribeiro, o “Raul”, na época com 17 anos, conseguiu encontrá-la.
Benigna cultivava plantas medicinais e flores. Com autorização da família, buscava água na cacimba, diariamente, a poucos metros de casa. Foi assim que Raul, escondido na vegetação, tentou agarrar a vítima. Ele a feriu com um facão nas mãos, cabeça, rins e pescoço.
“Ele acabou com nossa infância. Nós nunca mais brincamos. Em noite de lua, não gosto nem de olhar pro céu”, relatou Iranir Oliveira, irmã de criação de Benigna.
Milagres atribuídos
A devoção na Menina Benigna registra histórias de milagres atribuídos à cearense, como é o caso do mecânico aposentado Tarcisio Linard, que fraturou a mão e teve tétano durante o trabalho.
Com o risco de perder a mão, o mecânico rogou a santa popular de sua cidade natal, de quem ouvia falar desde a infância. “Minha mãe a conheceu e cresci rezando por ela”, contou.
Dois médicos apontaram a necessidade de intervenção cirúrgica para conter a infecção. No dia de sua alta hospitalar, Tarcísio foi preencher a documentação e agradecer aos médicos responsáveis pela cirurgia.
Mas os funcionários do hospital afirmaram que não houve nenhuma operação. “Me falaram que tinham apenas engessado meu braço”, narra.
O próprio mecânico tirou o gesso e mostrou a suturação na sua mão, cicatriz que carrega até os dias de hoje. “Aí ficaram sem saber, mas a atendente disse: ‘Aqui é que não foi [a cirurgia]’”.
A situação“Logo entendi que recebi um milagre e não pensei duas vezes em voltar para Santana”, lembra emocionado.
Homenagens em romarias
A memória de Benigna move a fé dos católicos e a data da morte da cearense acontece com homenagens. Em Santana do Cariri, cerca de 30 mil pessoas são recebidas na cidade, segundo estimativa da Secretaria de Turismo do Município.
Essas visitas à cidade são feitas em romarias desde 2003 e muitas mulheres e crianças vão até o Sítio Oitis, onde vivia Benigna, a 2 quilômetros da sede do município de Santana do Cariri.
Algumas meninas usam vestido vermelho com bolinhas brancas, como o que supostamente a mártir vestia ao ser assassinada. Os fiéis vão a pé até a Igreja Matriz de Santa’Ana, onde Benigna foi sepultada.
Fonte: Diário do Nordeste