Comunidades rurais de quase um terço dos municípios do interior cearense já estão recebendo água de carros-pipa. O quadro é de alerta, uma vez que a última quadra chuvosa, apontada como a terceira melhor das últimas duas décadas, chegou ao fim a menos de quatro meses.
O curto período já é suficiente para começar a esvaziar as barragens e secar as cisternas de muitas famílias. A chuva foi até suficiente para o plantio de legumes, afirmam os sertanejos, mas nem tanto para o armazenamento de água nos açudes de várias localidades. Deste modo, os moradores precisam do auxílio da operação federal Carro-Pipa para saciar a sede.
Segundo o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), criado no início deste ano em substituição ao Ministério da Integração Nacional, atualmente 405 carros-pipa estão circulando em 54 municípios cearenses, atendendo 169.892 pessoas. Outras cinco cidades tiveram o pedido negado, contudo solicitaram revisão da análise e estão aguardam serem incluídas no programa, elevando para 59 o quantitativo de cidades assistidas por carros-pipa.
Em junho passado, antes que o fim do período de chuvas completasse um mês, eram 303 caminhões garantindo o abastecimento de cerca de 104 mil pessoas no Ceará residentes em áreas rurais. O aumento de beneficiados, em três meses, foi de 63%.
O analista de Desenvolvimento Rural, Meio Ambiente e Recursos Hídricos da Associação dos Municípios do Estado do Ceará (Aprece), Daniel Camurça, reconhece haver dificuldades hídricas para atendimento humano a partir do meio do Estado seguindo para a região dos Inhamuns. A situação só não é mais grave, avalia ele, porque as adutoras instaladas nos últimos anos, interligadas aos açudes oficiais, estão atendendo várias localidades, antes somente abastecidas por carros-pipa.
Entraves
Entretanto, as coordenadorias da Defesa Civil de muitos municípios reclamam de dificuldades em conseguirem a liberação de rotas na Operação coordenada no Estado pelo Exército Brasileiro. A cada dia o número de reclamações aumenta diante da demora no atendimento das reivindicações de abastecimento das cisternas.
O coordenador da Defesa Civil de Quixadá, Kleber Júnior, aponta como principal problema para a morosidade, a quantidade de critérios exigidos para a assistência aos povoados rurais. Para o reconhecimento federal da situação de emergência, além do Relatório de Constatação, incluindo provas fotográficas, é preciso casar ao pedido a certidão de perda de safra superior aos 50% emitida pela Ematerce.
“Este ano, graças a Deus, choveu o suficiente para boas colheitas em muitas regiões. Disso o agricultor não pode reclamar, mas esse aspecto positivo não corresponde à captação de água. Não choveu o suficiente para repor boa carga nos açudes dessas localidades. Além disso, apesar das muitas perfurações de poços, em boa parte deles a água é imprópria para o consumo. O jeito ainda é recorrer aos carros-pipa. Por isso, é preciso mais agilidade na avaliação”, pontuou o coordenador.
Soluções
Estes problemas foram debatidos em encontro realizado no início deste mês em Quixadá com representantes da Defesa Civil de Choró e de Ibaretama, da Associação dos Pipeiros, da Federação das Associações e do Sindicato dos Trabalhadores Rurais.
O gestor municipal de Quixadá, Ilário Marques, apontou como opção para o atendimento das solicitações das comunidades barradas pelo Exército, a criação de uma comissão para analisar os detalhes dos critérios exigidos. Ele sugere ainda a elaboração de um documento unificado com as propostas de adequações para entrega ao Exército. Desta forma, considera Ilário, reduziriam as dúvidas tanto dos requerentes quanto dos órgãos federais que assinalam a liberação dos carros-pipa.
O gestor municipal ainda apontou como opção recorrer à Justiça para assegurar o atendimento à população, por tratar-se de uma necessidade fundamental à sobrevivência.
Em Tauá, outro entrave. Dos 56 carros-pipa que abastecem o Município, pelo menos 26 estão impossibilitados de realizar o abastecimento de comunidades rurais da região. Segundo o coordenador da Defesa Civil Municipal, José Wilson, a empresa responsável pelo chip que faz o controle da movimentação retirou os equipamentos para manutenção. “Está havendo demora na reposição dos equipamentos de aferição. Quem mais precisa de água, os mais pobres, está sendo prejudicado”, relatou.
Por nota, o MDR explicou que todos os ítens exigidos para liberação das rotas, isto é, a inclusão de comunidades rurais a serem abastecidas por carros-pipa, são regulamentados pelas Portarias Interministeriais 1/2015 e 2/2015. A Pasta não se manifestou quanto às queixas na morosidade da inclusão das cidades no status de situação de emergência. Já o Exército pontuou que cumpre apenas o papel de fiscalização e viabiliza a operacionalização do abastecimento emergencial de água para o consumo humano.
Por Alex Pimentel
Fonte: Diário do Nordeste