Por quase dois séculos, o discurso de “combate à seca” foi política no Sertão nordestino. Os longos períodos de estiagem representavam pouca produção no campo. A partir das políticas de convivência com o Semiárido, um novo olhar transformou o chão que, por muitos anos, foi visto como lugar de pobreza. É nessa lógica que dois projetos da Faculdade de Tecnologia do Cariri (Fatec), em Juazeiro do Norte, objetivam aproveitar ao máximo e por um longo período frutos nativos e comuns da região. Além disso, a palma forrageira, geralmente utilizada na alimentação animal, é vista como alternativa saborosa e nutritiva para o consumo humano.
O professor Erlânio Oliveira, do curso de Tecnologia de Alimentos, que coordena um projeto de extração de óleo e farinha do pequi, babaçu e macaúba, explica que quase tudo destes frutos é aproveitado. “Da polpa, a gente extrai o óleo. A partir do resíduo que resta, usa para produzir farinhas. Dela, poderá trabalhar algum produto alimentício”, explica. Com isso, foram criadas receitas de bolos e biscoitos que já passam por análise sensorial, ou seja, foram provadas pelas pessoas.
Cada farinha determina o tipo de receita que pode ser feita. Da macaúba, por exemplo, por causa da coloração, é ideal para ser usada na fabricação de pães. Já com a amêndoa da macaúba pode ser utilizada na fabricação de biscoitos. “A partir da obtenção da farinha, abre os horizontes para os produtos”, acrescenta Erlânio. O professor ressalta que a composição feita com frutos nativos possui uma variedade nutricional maior que a farinha de trigo, utilizada convencionalmente.
Além da safra
Ampliar a utilização destes frutos para o ano inteiro é uma das propostas do projeto. “A gente levantou estudos e percebeu muitos desperdícios. Não tem muita exploração. O pequi e o babaçu, por exemplo, são mais consumidos nas safras. A gente gostaria que perdurasse por mais tempo”, explica a estudante da Fatec, Raquel Vicente Paulo.
Agora, o projeto tem duas etapas: criar um plano de negócio para tentar colocar alguns produtos no mercado; e visitar comunidades da Chapada do Araripe, onde os frutos são colhidos, para ensinar como funciona o processamento destes alimentos. “Como é simples, dá para as pessoas implementarem e conseguirem uma renda extra”, completa Erlânio Oliveira.
Adaptação
Outra iniciativa do mesmo curso na Fatec, desenvolvida desde maio, está utilizando a polpa da palma forrageira em receitas de sorvetes e mousse. “Uma planta comum na região e muito rica em nutrientes, a gente escolheu a palma porque ela é utilizada, simplesmente, para o consumo animal. O objetivo é introduzi-la na alimentação humana”, explica a professora Cícera Gomes, que coordena o outro projeto. Rica em vitaminas A e C, e minerais como fósforo, ferro e cálcio, além de proteínas, a palma agrega um valor nutritivo às duas sobremesas comuns do cotidiano. As receitas são bem simples.
Por Antonio Rodrigues
Fonte: Diário do Nordeste