De acordo com dados publicados pela Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), anualmente o Brasil produz cerca de 37 milhões de toneladas de lixo orgânico. Esse resíduo tem potencial econômico para virar adubo, gás combustível e até mesmo energia, porém, só 1% disso é reaproveitado.
Como a maior quantidade do lixo orgânico não tem tratamento, ela é descartada em aterros sanitários, onde se torna um problema, pois a decomposição desse material gera gás metano, nocivo à atmosfera. Um dos processos mais tradicionais de recuperação desse material seria a compostagem, que é como se fosse uma reciclagem, na qual fungos e bactérias transformam lixo orgânico em adubo.
Resíduos orgânicos são constituídos por restos de animais ou vegetais descartados. Sejam de origem doméstica, comunitária ou institucional, os resíduos orgânicos representam metade dos resíduos sólidos urbanos gerados no Brasil. Se os resíduos orgânicos descartados em um ano no Brasil fossem submetidos a processos de tratamento, as emissões de gases nocivos seriam reduzidas ao equivalente à retirada de sete milhões de automóveis das ruas.
Projeto Horta Orgânica
Dentre os projetos da Universidade Federal do Cariri (UFCA) que buscam modificar o quadro de desperdício de lixo orgânico, o projeto Horta Orgânica, vinculado à Pró-reitoria de Extensão (Proex), teve início no ano de 2018, a partir da ideia do estudante do oitavo semestre do curso de Engenharia de Materiais da UFCA, Weverton Frankly Araújo. Weverton conta que em um final de semana, na casa da avó, percebeu que todos os restos de alimentos da residência eram reaproveitados como adubo orgânico, mas se deu conta que havia o desperdício de alimento na universidade e decidiu propor a iniciativa de fazer na instituição o mesmo que na casa de sua avó.
Atualmente o projeto é composto por, além de Weverton, Magno de Lima e Jasiel Araújo, também estudantes do curso de Engenharia de Materiais, e é coordenado pela professora de química orgânica, Allana Kellen Santos. A ação foi mapeada pelo segundo Catálogo de Sustentabilidade da UFCA e se aplica em três dos dezessete objetivos do catálogo: Fome zero; Cidades e comunidades de extensão e Consumo e produção responsável.
Segundo Magno, para dar início à horta foi preciso avaliar a fertilidade do solo, tendo em vista que o solo do local escolhido, nos arredores do estacionamento do campus Juazeiro do Norte, era pobre. Com isso, foram feitas análises químicas, como análise de pH, que mede a acidez e alcalinidade do solo. Com base nessas análises foi possível observar a real qualidade do solo e determinar a viabilidade de adubação orgânica, como também o uso de fertilizantes naturais. Já para o preparo do adubo orgânico, foi feito o revolvimento do solo com pá de corte e a incorporação de esterco de gado, juntamente com sobras de alimentos (talos, cascas) e folhas secas.
Hoje a horta conta com hortaliças, verduras, vegetais, que tanto servem para consumo como também são medicinais, tais como coentro, cebolinha, quiabo, rúcula, salsinha, tomilho, pimenta-de-cheiro, hortelã, manjericão, alecrim, orégano, erva-cidreira, capim santo, malva e mastruz. Contando com os bons resultados, segundo Weverton, o projeto tem a intenção de doar boa parte da colheita para instituições de caridade, no entanto, como a colheita ainda é pequena, os produtos têm sido doados para os cuidadores da horta. O projeto também fornece produtos para estudos científicos.
Conscientização
Além da produção de alimentos orgânicos, o outro intuito da ação é conscientizar as pessoas sobre como uma horta orgânica pode melhorar a qualidade de vida, uma vez que fornece alimentos livres de resíduos químicos, e também sobre a necessidade de praticar uma agricultura integrada com a natureza que preserve os recursos naturais. Desse modo, o projeto já apresentou dez palestras de variados temas, atingindo um público de cerca de 1.710 pessoas. A primeira apresentação foi uma oficina, com duração de dois dias, sobre hortas verticais utilizando garrafas pets, no primeiro UFCA Itinerante Global, em 2018, contando com sessenta estudantes de escolas públicas da cidade de Salitre.
Nos últimos dias 22 e 23 de novembro, a equipe do projeto participou do segundo UFCA Itinerante Global e ministrou duas oficinas no Centro Educacional de Mauriti. No primeiro dia, a oficina foi sobre “Elaboração de biodefensivos e aplicação de cultivos orgânicos”, na qual foram abordados os malefícios dos pesticidas sintéticos, o combate com inseticidas naturais e os inseticidas naturais mais utilizados no combate às pragas numa horta orgânica. Por fim, foi realizada uma prática de preparo de um biodefensivo à base das folhas do nim indiano.
Já no segundo dia do UFCA Itinerante Global, a oficina trabalhou o tema “Agregando saúde e segurança à sua horta com biofertilizantes”, onde foi apresentada uma introdução sobre os biofertilizantes e sua aplicação; uma exposição dos ingredientes e seus respectivos nutrientes; uma abordagem sobre técnicas de preparo para obter um bom biofertilizante; e ainda uma prática utilizando a borra de café como fertilizante.