Produto que já foi considerado o “ouro branco” do Nordeste e que, a partir da década de 80, entrou em declínio na região semiárida brasileira, encontra, hoje, no Ceará, um novo lugar ao sol. Clima e solo adequados oferecem condições necessárias para desenvolver a cotonicultura no Cariri. A retomada se deu em 2018, quando um grupo de produtores decidiu apostar na cultura. Este ano, já houve um aumento na área cultivada e, para 2020, a perspectiva é expandir mais.
O algodão que, inicialmente, era cultivado de maneira rústica, ganha, agora, um modelo baseado no cultivo mecanizado de base empresarial. Ou seja, todas as operações, do plantio à colheita, são mecanizadas.
Segundo o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Fábio Aquino, com este modelo, em 2018, “os custos de produção ficaram muito abaixo da média nacional, que está em torno de R$ 8 mil por hectare”. No Cariri, o custo foi de R$ 2 mil a R$ 2,5 mil.
O pesquisador conta que o cultivo foi implementado buscando maior rentabilidade e sustentabilidade. “Produtores da região se organizaram e resolveram plantar uma área para teste. O sucesso do cultivo foi tanto que, em 2019, foram cultivados algo próximo a 800 hectares”, enfatiza o pesquisador. No ano passado, eram apenas 30 hectares.
Pioneirismo
Marcos Landim, produtor do Cariri, foi o primeiro da região a apostar na retomada do então chamado ‘ouro branco’. “Esta é a minha segunda roça de algodão. Em 2017, perdi uma plantação toda de milho transgênico, aí, despertei para o novo cultivo em 2018”, lembra o produtor que colheu dois mil quilos de algodão por hectare. Ele recebeu orientação técnica da equipe do Campo Experimental da Embrapa Algodão, em Barbalha.
O cultivo, apesar de recente, tende a aumentar. “Incentivei para que todo mundo plantasse na região. Este ano foram 800 hectares”, relata o produtor que aposta que “o plantio com certeza despertou interesse no Cariri”.
Positivo
A condição climática é muito parecida com o restante do semiárido, mas as chuvas no Cariri são mais previsíveis e dificilmente apresentam grandes estiagens. Na região chove, em média, de 400 a 800 milímetros por ano. Os fatores beneficiam o cultivo da planta, que se adapta bem a estas condições. “Tem uma altitude excelente, um sol radiante, tudo que o algodão necessita. Outra coisa: até agora não apresentou nenhuma praga”, relata Landim.
O preço do quilo do caroço (coproduto que, comercialmente, pode ser encontrado na forma bruta ou na forma de torta de algodão ou farelo) vale, em média, R$ 2. Landim lembra que, em 2018, colheu 60 mil Kg, e apurou um total de R$ 120 mil. Com os gastos – em torno de R$ 30 mil, conseguiu R$ 90 mil de lucro.
O principal ponto no processo de comercialização é, no entanto, o direcionamento desta produção que é vendida integralmente no Ceará. “Estes fatores têm servido de estímulo aos produtores. Estão adquirindo máquinas e insumos, tudo para que a produção do algodão alcance patamares nunca vistos no Estado”, pontua Aquino.
Fonte: Diário do Nordeste