A Embrapa Agroindústria Tropical, com sede em Fortaleza, criou um novo método de extração de óleo de pequi – um dos produtos mais tradicionais da região do Cariri. Em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Agrário do Crato, o projeto será implementado na Unidade de Beneficiamento do Pequi, na comunidade de Baixa do Maracujá, onde o fruto nativo é uma das principais fontes de renda para os moradores.
Extração artesanal
A forma mais tradicional da extração é através do cozimento na lenha. O processo é longo. Geralmente, os catadores iniciam a atividade de manhã bem cedo, com o céu ainda escuro, ‘rolando’ – descascando – o pequi, colocando no tacho ou panela com água. Após, aproximadamente, oito horas no fogo, sempre mexendo, o óleo começa a sair da polpa e se concentra no topo do recipiente. São necessárias cerca de mil unidades para produzir um litro.
Renda
O trabalho é longo, cansativo e, normalmente, com condições precárias de higiene e segurança. Por outro lado, é o que garante renda para as comunidades, já que o litro costuma ser vendido entre R$ 90 e R$ 100. Alguns também fazem o óleo da amêndoa do pequi, que fica no interior do caroço espinhoso. Mesmo raro, ainda é possível encontrar o produto nas comunidades próximas à Floresta Nacional (Flona) do Araripe.
Novo método
Já na metodologia proposta pela Embrapa, a extração do óleo acontece por centrifugação, mais segura, rápida e com rendimento maior que o tradicional.
O método, que foi apresentado no fim do ano passado aos catadores, consiste na retirada da polpa com aquecimento em banho-maria a 45ºC, seguida pela aplicação de força centrífuga com equipamentos próprios para pequenas agroindústrias. O processo se dá em 20 minutos. “É muito bom porque não leva quentura”, aprovou o agricultor Antônio da Hora.
O engenheiro agrônomo da Embrapa, Antônio Calixto, que também é doutor em Tecnologia de Alimentos, explica que a pesquisa com o pequi acontece há quatro anos. A princípio, o projeto funcionava na produção de pasta, já que dá uma durabilidade maior à polpa, sem precisar de congelamento. Foi deste trabalho que surgiu a ideia de extrair o óleo.
“Toda vez que mexia a pasta, via que o óleo saia muito facilmente”, conta. Uma pesquisa com a amêndoa da castanha-de-caju foi precursora na centrifugação.
Outro fator que motivou o grupo de pesquisadores, além do rendimento e da facilidade do processo, foi que através da centrifugação há uma menor perda de componentes, como vitaminas e oxidantes, diferente do cozimento em altas temperaturas.
“A tecnologia é muito fácil. No treinamento, no dia de campo, utilizamos a centrífuga do Instituto Federal do Ceará. Ela teve capacidade para produzir 300 ml, mas no mercado tem equipamento com capacidade bem maior”, garante Calixto.
Piloto
Esta tecnologia será adotada na Unidade de Beneficiamento do Pequi, no Sítio Baixa do Maracujá. A ordem de serviço para construção foi assinada na última semana. Com 90,8 metros quadrados de área construída, erguidos com quase R$ 110 mil, investidos pela própria Prefeitura, a expectativa é que o galpão seja entregue em até cinco meses.
Já os equipamentos devem ser adquiridos com apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Toda implementação deve custar cerca de R$ 750 mil.
O titular da Secretaria de Desenvolvimento Agrário do Crato, Carlos Freire, explica que foi feito um mapeamento com comunidades que possuem catadores até escolher a Baixa do Maracujá para sediar o projeto. Lá há, aproximadamente, 40 famílias de extrativistas.
Comunidades vizinhas
A ideia é também interligar a iniciativa com as comunidades vizinhas, como o Cruzeiro, onde está instalado um maquinário para beneficiamento do fruto e câmara fria para conservação, e São José, que possui estrutura para fabricar produtos derivados, como bolos. “A gente de fato tem uma cadeia de beneficiamento do pequi”, destaca o secretário.
Importância
“Bronquite, asma, cicatrizante. Hoje em dia, até para cosmético usa-se”, enumera os benefícios do pequi o agricultor Antônio da Hora, 69.
Morador do Sítio Baixa do Maracujá há 53 anos, ele reforça a importância que o fruto tem para o sustento da comunidade. “Antes, a miséria era maior. Tirou muita gente do sufoco. O pequi é uma ‘mãe de família’ para qualquer um que se criou aqui”, enfatiza Antônio da Hora.
Seja na galinha caipira, no baião de dois, no mungunzá ou na pequizada, o fruto é muito consumido na região do Cariri. Além das feiras e mercados, é facilmente encontrado nas margens das rodovias que cortam a Flona Araripe, vendido pelos próprios extrativistas.
Afora isso, o óleo de pequi é um dos produtos mais requisitados na época das romarias, em Juazeiro do Norte, ao lado da rapadura.
A safra acontece, normalmente, de janeiro a março. Nestes três meses, os extrativistas costumam tirar boa parte da renda para o restante do ano. O cento, hoje, custa cerca de R$ 25.
“Está mais caro, porque aqui foram desmatando. Também, teve uma queimada em 2018 que prejudicou e ainda tem uma turma que tira o pequi verde. Isso mata a planta”, justifica Antônio.
Diminuição
O agricultor Severino Alexandre dos Santos, do Sítio Cruzeiro, é outro que acredita que a safra de pequi tem diminuído nos últimos anos. “Em 2002, cheguei a fazer 90 litros e minha esposa, 45. Ganhamos muito dinheiro nessa época”, lembra Severino.
Para ele, a venda tem diminuído pela falta de comerciantes que visitam as comunidades tradicionais. “Antigamente, a produção era carregada em caminhão. Eram de dois a três cheios. Era do Crato, Exu, Juazeiro, Juazeiro da Bahia, Ouricuri. Comprava tudo”, lembra Severino Alexandre.
Por Antonio Rodrigues
Fonte: Diário do Nordeste