Mesmo ainda faltando exatamente uma semana para o fim de novembro, o mês já entrou para a história como o mais chuvoso dos últimos dez anos na região do Cariri. O levantamento foi realizado pelo Diário do Nordeste com base nos dados do monitoramento diário da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme).
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Segundo o órgão, a média histórica para o mês no Cariri é de 22,5 milímetros, contudo, até esta terça-feira (23), a Funceme já havia contabilizado o acumulado de 65,3 mm, uma variação positiva de 190.3%. O índice só fica atrás para o registrado em 2011, quando a região teve média pluviométrica de 66 mm.
Na última década, em seis oportunidades as chuvas de novembro, na região, estiveram abaixo da normal climatológica. O pior ano foi o de 2015, quando a Funceme registrou o acumulado de apenas 0.2 mm.
No entanto, ainda faltando sete dias para o fim de novembro, essa marca pode ser ultrapassada. Caso isso aconteça, as chuvas registradas no Cariri serão as mais expressivas dos últimos 25 anos. Em 1996, a região fechou o mês com impressionantes 100,7 milímetros acumulados em média, uma variação de 347,2%.
Outra região que também está se destacando neste novembro é o Litoral Norte. A região tem média para esse mês de apenas 1,2 mm, mas, até agora, a Funceme já registrou o acumulado de 13,3 milímetros, um desvio positivo de 776,5%. O volume é o melhor dos últimos 22 anos. Em 1999 o acumulado registrado na região foi de 21,8 mm, o que significa uma variação superior a 1.300%.
Neste ano de 2021, até agora, todas as macrorregiões possuem acumulados acima da média histórica. Além do Cariri e Litoral Norte, se destacam as regiões do Maciço do Baturité (375,3%) e Ibiapaba (275,1 mm).
Bons volumes no Sul do Estado
Nas últimas 24 horas, o Ceará registrou chuvas em 15 cidades. Dos oito maiores volumes pluviométricos, quatro foram no Cariri. Os dados são parciais e podem sofrer atualização ao longo do dia.
• Campos Sales – 64,3 mm
• Salitre – 28,3 mm
• Missão Velha – 20,2 mm
• Crato – 10 mm
• Araripe – 8,4 mm
• Farias Brito – 8 mm
• Santana do Cariri – 7 mm
O bom volume acumulado deste mês também foi impulsionado pelas chuvas ocorridas há dez dias. No último dia 14, o Cariri registrou pluviometria de mais de 100 milímetros em três cidades (Icó, Umari e Cariús) e, na segunda (15), o cenário se repetiu, com 111 mm registrados na cidade de Crato.
A previsão para amanhã (24), conforme a Funceme, é de céu variando de parcialmente nublado a sem nuvens em todas as macrorregiões com “baixa possibilidade de chuva no Litoral de Fortaleza, no Litoral do Pecém, na Ibiapaba, no Maciço de Baturité, no oeste do Sertão Central e Inhamuns e no Cariri”.
Na quinta, dia 25, a previsão também é de baixa possibilidade de chuva na faixa litorânea e no Cariri.
Importância das chuvas
O gerente regional da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), em Crato, Alberto Medeiros, explica que apesar de volumosa, essas chuvas não causaram relevante recarga aos reservatórios da região. No entanto, ele destaca que a importância da chuva vai além do aporte conferido aos açudes.
“Para um aporte significativo, é necessário chover mais dias seguidos. Porém, só em estarmos recebendo essas pluviometrias e com o tempo nublado, já evitamos a perda por evaporação. Cada açude perde, em média, 1 cm de lâmina de água em dias de forte calor”, detalha.
Sem essa evaporação, os açudes tendem a permanecer mais dias com o volume pouco alterado, o que beneficia o abastecimento humano.
“Nossa bacia [a do Salgado] está em relativa tranquilidade. Na pior das hipóteses, como é o caso do açude dos Carneiros, que abastece a cidade de Caririaçu, temos água suficiente para abastecer o Município até o fim do próximo ano, isso se não chovesse mais nada a partir de então. Em outros, temos recarga suficiente para abastecimendo até 2026”, revela Alberto.
Apesar dessa aparente segurança, Medeiros ressalta para a importância de a população manter o uso consciente da água. Dos últimos 5 anos, dezembro de 2020 foi o que apresentou maior consumo médio familiar de água, chegando a 8,95 m³. Em dezembro de 2016, o consumo médio foi de 8,81 m³.
Os dados são uma média referente ao consumo familiar do Interior do Estado e foram levantados pela Cagece, a pedido do Diário do Nordeste. “Vivemos uma região cuja incidência de chuva é incerta. Então, ter cautela é sempre o mais importante”, frisa Medeiros.
A gerente de meteorologia da Funceme, Meiry Sakamoto, destaca ainda, que quando as chuvas chegam de forma antecipada em algumas localidades, áreas como a da agricultura, por exemplo, se beneficiam.
“A água vai molhando o chão e isso já é um preparativo para o plantio. Outra importância do chão molhado é para a própria recarga dos açudes. O solo úmido favorece o transporte, já que a água não será totalmente absorvida pelo solo”.
Além disso, as chuvas ajudam a diminuir as dificuldades no abastecimento humano. Atualmente 35 cidades estão em estado de emergência devido a escassez de água. Treze desses municípios tem prazo vigente até o próximo mês de dezembro.
Relação com a pré-estação
As chuvas no Ceará são predominantes em dois momentos: pré-estação, nos meses de dezembro e janeiro, e a estação, entre fevereiro e maio. No entanto, as precipitações de novembro, neste ano, já estão sendo consideradas ligadas à pré-estação, conforme destacou o meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), Flaviano Fernandes.
Para a pré-estação, que começa oficialmente em 8 dias, o prognóstico é positivo. Flaviano diz que as análises apontam chuvas dentro da média para o período. Em dezembro, a normal climatológica é de 31,6 mm e, em janeiro, de 98,7 milímetros. O último ano que isso aconteceu foi entre 2018 e 2019.
Em dezembro do ano passado, por exemplo, o acumulado foi de apenas 8,1 mm, ficando 74,3% abaixo da média. Em janeiro deste ano, a Funceme registrou o acumulado de 45,4 mm, menos de metade da normal climatológica.
Atuação da La Niña
O especialista do Inmet detalha que essa previsão advém da atuação da La Ninã, fenômeno relacionado ao resfriamento das águas do Oceano Pacífico Equatorial (0,5°C ou menos, abaixo da média). Flaviano explica que essa condição é um dos indicadores à ocorrência de boas chuvas no Nordeste brasileiro.
“Para os próximos três meses [dezembro/janeiro/fevereiro] a previsão é de chuva dentro da média”, destaca. Mas, o prognóstico pode ser alterado, para melhor, à medida que a La Niña ganhe força. “Ele [o fenômeno] está ganhando força ainda e deve ter seu auge entre janeiro e fevereiro”, acrescenta Flaviano.
Caso essa análise se confirme, o meteorologista diz que “podemos ter chuvas até acima da normal climatológica na quadra chuvosa”. A Funceme não divulga previsão para a pré-estação e, o prognóstico para a próxima quadra só será publicizado no início de 2022.
A gerente de meteorologia da Funceme, Meiry Sakamoto, alerta, contudo, não existir relação dessas chuvas de novembro com a quadra chuvosa. “Chover agora não significa que teremos uma boa quadra chuvosa”, pontua. Ela explica que os sistemas meteorológicos de ambos os períodos são distintos.
“Agora, são áreas de instabilidades. Uma combinação de fatores como umidade relativa do ar, altas temperaturas e regiões montanhosas ou serranas em que o ar acaba subindo, formam as nuvens de chuva. Na quadra chuvosa o fenômeno é a Zona de Convergência Intertropical que atualmente está bem distante daqui”, conclui Sakamoto.
Por André Costa
Fonte: Diário do Nordeste