Um estudo publicado no último dia 8, apresenta uma nova espécie de réptil fóssil brasileiro, encontrado na Formação Sanga do Cabral, localizada na Bacia do Paraná, no Rio Grande do Sul. Batizado de Elessaurus gondwanoccidens, o animal pertenceu ao período Triássico inferior, data 20 milhões de anos antes do surgimento dos primeiros dinossauros. A pesquisa foi liderada pela paleontóloga Tiane de Olivera, com participação do paleontólogo cearense Felipe Pinheiro.
O fóssil foi encontrado há 10 anos. Na época, os pesquisadores desenterraram parte de uma perna, o começo da cauda e a cintura pélvica. “Este achado passou muito tempo engavetado. Foi levado a laboratório, limpo, e só depois desse processo, que a gente chama de preparação, pôde ser estudado. Há três anos iniciamos a pesquisa”, explica Felipe.
Com afinidade com répteis, incluindo o grupo tanistrofeídeos da qual a nova espécie pertence, Felipe foi convidado a orientar Tiane nesta pesquisa. “Essa espécie é de um grupo muito pouco conhecido, principalmente no nosso continente. São animais muito conhecidos na Europa, mas não tinha registro seguro na América do Sul”, ressalta.
Importância
A descoberta do Elessaurus gondwanoccidens, traz um contexto muito interessante, segundo Felipe, que além da extinção em massa dos dinossauros, houve uma ainda maior, há 250 milhões de anos, que praticamente dizimou toda a vida na Terra. “Esse animal e tantos outros mostram como foi a recuperação da fauna, que deu origem a uma série de animais, como dinossauros, mamíferos. Ele faz parte da recuperação pós-destruição, tendo um panorama completo de como foi a extinção”, justifica.
Trajetória
Nascido em Fortaleza, Felipe, 31, é formado em Biologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), tem mestrado e doutorado em Geociências – Paleontologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS) e é professor de Paleontologia na Universidade Federal do Pampa (Unipampa). Porém, sua trajetória com este campo de pesquisa começou no Sul do Ceará, na Chapada do Araripe.
Sua paixão por dinossauros começou ainda criança, quando assistiu, pela primeira vez, Jurassic Park (1993), no cinema. “Eu decidi desde criança ser paleontólogo. Fui ao Araripe aos seis anos. Desde aquele tempo”, conta. Aos 21, mudou-se para o Rio Grande do Sul, onde fez seu mestrado e doutorado estudando pterossauros da Bacia do Araripe. “Até hoje vou ao Cariri com frequência. Vou uma vez por ano e passo um bom tempo. É meu lugar favorito no mundo. A região tem uma riqueza que extrapola a paleontologia”, acredita.
Em 2019, ele liderou junto com o paleontólogo Gustavo Prado uma pesquisa que encontrou uma molécula de melanina na crista de um fóssil de pterossauro de 110 milhões de anos, na Chapada do Araripe. “Normalmente, essas moléculas biológicas se degradam com rapidez. Lá, é comum ver tecidos moles preservados. É um exemplo de preservação excepcional. Prova que o Cariri é um dos melhores lugares do mundo em preservação”, exalta.
Em comparação a Formação onde foi encontrada o Elessaurus gondwanoccidens, Felipe detalha que é comum encontrar apenas os ossos. “Aqueles com potencial de ficar preservado por um tempo muito maior. Isso é o que encontra aqui e na maior partes das regiões do mundo”, explica. Na Bacia Sedimentar do Araripe, para o pesquisador, é diferente, pois, em poucos minutos é fácil de encontrar vários fósseis de peixes, insetos. “É muito melhor por conta dos tecidos moles. Se a gente comparar a preservação dos fósseis do Rio Grande do Sul, o Araripe dá de dez a zero”, compara o paleontólogo.
Por outro lado, o pesquisador lamenta que no Ceará não tenha uma fiscalização mais rigorosa em cima do seu patrimônio arqueológico como próprio território gaúcho. “É uma coisa que agrava é a precarização da região do Araripe. Até melhorou bastante nos últimos 10 anos, mas sempre foi muito saqueado pelo tráfico de fósseis. Tem que pensar isso como um patrimônio nosso”, finaliza.
Por Antonio Rodrigues
Fonte: Diário do Nordeste