Criado em 1985 pelo então prefeito Plácido Cidade Nuvens, ex-reitor da Universidade Regional do Cariri (URCA), falecido em 2016, o Museu de Paleontologia de Santana do Cariri se tornou uma das maiores coleções do período Cretáceo das Américas. São mais de 10 mil fósseis de vários grupos: troncos petrificados, impressões de samambaias, pinheiros e plantas com frutos; moluscos, artrópodes, peixes, anfíbios e répteis. Porém, só agora receberá seu primeiro fóssil de dinossauro – e o mais antigo da Bacia do Araripe -, o Aratasaurus museunacionali, que foi apresentado ontem por pesquisadores.
“No campo da paleontologia este é, sem dúvida, a mais importante descoberta do Museu Nacional após o incêndio em 2018”, definiu o diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner, que também participou da descoberta do Aratasaurus museunacionali, ao lado de paleontólogos da Universidade Federal do Pernambuco (UFPE) e Universidade Regional do Cariri (Urca). Apesar de guardar este material desde 2016, o fóssil será trazido do Rio de Janeiro. “O Museu Plácido Cidade Nuvens, em Santana do Cariri, reúne as condições cuidá-lo”, garantiu Kellner.
A guarda deste fóssil demonstra a evolução que o Museu teve ao longo dos anos, se tornando um importante espaço de preservação, educação e produção científica do Nordeste. Ano passado, foi visitado por 27.156 pessoas. “Temos uma boa reserva técnica, especialistas nas mais diversas áreas, uma produção científica razoável. Publicamos nas principais revistas científicas do mundo. Não somos mais uma coisa pequena, primária”, enfatiza o paleontólogo Álamo Feitosa, da Urca.
O museu surgiu para tentar “parar a sangria”, como Plácido definia a saída clandestina de fósseis da Bacia do Araripe. Em uma pequena casa, com apoio de pesquisadores cariocas e pernambucanos, entregou o museu para a Urca em 1988. De lá para cá, passou por três ampliações em 1997, 2001 e 2009.
A partir de 2005, a Urca qualificou seus profissionais, em mestrado e doutorado, e desde este período criou um núcleo de pesquisa, escavações paleontológicas e divulgação deste trabalho. São cinco pesquisadores vinculados ao Museu de Paleontologia e mais de 30 colaboradores entre técnicos, setor administrativo, segurança, limpeza e os guias. O prédio também conta com uma biblioteca temática com mais de 5 mil títulos e laboratório moderno de preparação e descrição das peças.
Seu atual diretor, o professor Allysson Pinheiro, reforça que além de ter condições de abrigar materiais importantes com segurança, lá, podem ser abrigados pesquisadores de qualquer parte do país e do mundo. “A gente passa por um bom momento em pessoal. Antes, chegou a ficar apenas o Álamo como curador e diretor. Hoje tem várias pessoas capazes, inclusive formadas no Cariri”, explica. Além disso, a instituição conta com três técnicos, um deles dedicado apenas a preparação de fósseis, enquanto os outros dois são responsáveis pela formação e paleoarte.
Neste cenário mais favorável, será entregue o fóssil do Aratasaurus museunacionali, que não deve ficar exposto por questão de segurança, mas será exibido em caráter especial para a população de Santana do Cariri, onde foi extraído. “Mas estará disponível para pesquisas”, reforça Allyson. A ideia é que uma réplica em tamanho natural com a reconstituição da espécie seja exibida.
Tráfico
Com a estrutura atual, o Museu se tornou o principal aliado de pesquisadores locais para manter os fósseis, que costumam ser traficados para fora do país, dentro da região do Cariri. Hoje, a URCA trava uma batalha judicial com a Universidade de São Paulo (USP) para trazer quase 2 mil peças de origem da Bacia do Araripe, que foram apreendidos, em 2014, pela Polícia Federal. Entre o material está um esqueleto completo de pterossauro.
Álamo Feitosa rechaça a ideia que o Cariri não tem condições de preservar este material e, pelo contrário, reforça a importância cultural e econômica dos fósseis para a região. “Estamos fazendo paleontologia como em qualquer centro do Brasil. Somos referência para o Nordeste. Recebemos estagiários de universidades do Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Mato Grosso. Contamos com apoio de pesquisadores da China e Portugal”, enumera.
Por Antonio Rodrigues
Fonte: Diário do Nordeste