Após anos vivendo à margem de muitos direitos, a educadora social Jhully Carla de Sousa conseguiu, nesta terça-feira (6), a troca de nome e de gênero do seu Registro Geral (RG) por meio do Vapt Vupt de Juazeiro do Norte. “[Foi] um dia muito importante, nasci de novo para a sociedade”, relata com emoção.
“Antes da minha identidade de gênero, eu sou cidadã, sou ser humano, sou pessoa. Só quero ter a garantia e a efetivação dos mesmos direitos.”
Jhully Carla de Sousa, educadora social
A retificação da Certidão de Nascimento já havia sido realizada por Jhully, em cartório, no mês de maio. Ela contou com um ‘apadrinhamento voluntário’ para arcar com os custos do processo, que podem variar, em média, entre R$ 700 a R$ 1.000 na região do Cariri, segundo informações da Associação Beneficente Madre Maria Villac, a qual a auxiliou no procedimento.
“Desde já é muito louvável pra mim ter conseguido essa retificação de nome e gênero na minha Certidão de Nascimento. É muito gratificante. Uma vitória pra nossa população de trans e travestis. Diante de muita luta, de muita dor, [aconteceu] um grande avanço, uma grande conquista, uma grande efetivação de um direito”, comemora.
Jhully reflete ainda que a sua luta permanecerá no cenário atual brasileiro, visto que, conforme explica, o país enfrenta diversas circunstâncias de retrocesso de políticas sociais. “Tudo o que a gente [já] conseguiu, tá [enfrentando] um retrocesso… a gente consegue e eles querem tirar”.
“A gente enfrenta ainda várias barreiras de preconceito e de discriminação… muitas vezes a gente é deslegitimada, são dias de luta constantes.”
Jhully Carla de Sousa, educadora social
No entanto, a educadora social acredita que, com a mudança dos documentos, muitas situações de preconceitos que enfrentava antes vão melhorar, mas o que não poderá ser considerado algo suficiente por si só. “Vai facilitar, mas mudar o preconceito não. Você não tem como mudar o preconceito de ninguém, a maneira de ser [de uma pessoa]”.
De acordo com a assessora jurídica da Associação Beneficente Madre Maria Villac, Daniela Goulart, que auxiliou o processo de documentação de Jhully, a principal dificuldade que a população LGBTQIA+ enfrenta é, de fato, a discriminação e o não-reconhecimento da identidade de gênero.
“A mulher ou o homem trans já estão com a vestimenta [daquele gênero] e infelizmente alguns órgãos não veem a identidade deles, relutam em chamar pelo pronome correto [ela/ele]. E eu acredito que a primeira forma pra combater esse tipo de situação é a educação”, pontua.
Neste sentido, Goulart destaca que a Associação Beneficente tem realizado capacitações para os atendentes de órgãos públicos, ensinando-os a como realizar um atendimento com maior inclusão e empatia para a diversidade.
Além disso, a assessora relata que o local fornece diversos tipos de acolhimento e amparo à população LGBTQIA+, “com assistentes sociais; atendimento jurídico – para que elas sejam respaldadas, porque a gente sabe que tem muitos casos de agressões, de homofobia -; atendimento psicológico; e grupos de convivência – para que uma possa ajudar a outra”.
Kayque Ribeiro, membro do Comitê da Diversidade, explica que a instituição é formada por várias regionais responsáveis por monitorar e gerenciar as diversidades e a inclusão com ênfase diária a esses assuntos. Conforme Ribeiro, as pautas envolvem raça, religião, orientação sexual, gênero e idade.
A equipe do Comitê é treinada para tratar as pessoas com empatia, respeito e gentileza. “Nós prestamos esses atendimentos a todos os cidadãos sem nenhuma distinção, independentemente de ser uma pessoa trans ou não. Se um cidadão vir em busca do RG ele fará o seu documento, se for consultar vagas de emprego, ele será atendido, se vier renovar a sua CNH também”, destaca.
Fonte: Diário do Nordeste