O longo período de estiagem no Ceará deixa consequências que vão além da dificuldade no abastecimento hídrico. O setor produtivo, como um todo, é duramente afetado. Nos últimos seis anos, a produção de mel de abelha no Ceará caiu de sete mil toneladas para duas mil toneladas anuais.
Os técnicos estimam que a região Nordeste perdeu, nos últimos quatro anos, 80% dos enxames por falta de alimentação e água. Mas, mesmo diante de um cenário desafiador, o presidente da Federação da Apicultura do Ceará (Face), Irineu Fonseca, adverte que é possível retomar o crescimento na produção mesmo que as chuvas futuras não sejam tão significativas.
“Podemos dar um salto, mas para isso precisamos de manejo correto, conhecimento e conscientização dos apicultores”, avaliou. “É preciso saber produzir no período seco”. A análise do representante da Face pode ser corroborada por dois exemplos no interior cearense de produtores que conseguem bons resultados ao longo do ano.
O primeiro deles, em Limoeiro do Norte, iniciou na apicultura há 36 anos com apenas duas colmeias enquanto ainda era acadêmico de agronomia. Hoje, Odério Lima tem 3.600 colmeias e produz 180 toneladas de mel por ano. O êxito, segundo ele, advém da dedicação e do conhecimento. “Estudei a melhor forma de manejar a colmeia”, diz, referindo-se à garantia hídrica que ele fornece às abelhas.
O mesmo aprendizado é compartilhado por José Almir Oliveira, pequeno produtor da cidade de Acopiara. Com 56 colmeias, cada uma produzindo 45 quilos por mês, José conta que, no período em que a chuva cessa, ele alimenta manualmente os enxames com flor, pólen e mel. “Tenho dedicação exclusiva à atividade”, pontuou.
Essa postura de “profissionalismo” pode ser, para Irineu Fonseca, a grande aliada na retomada da produção do mel. Ele adverte que, atualmente, a atividade é feita em sua maioria por apicultores de base familiar e de forma secundária. “Com apicultores exclusivos e produtividade adequada, a atividade pode ser rentável mesmo com os atuais preços de mercado”, disse, referindo-se à queda no valor de exportação, que caiu de R$ 12, em 2018, para R$ 5 o quilo, neste ano.
Ensinamentos
No intuito de disseminar o conhecimento entre os apicultores, a Federação da Apicultura do Ceará promoveu, nos últimos 17 meses, 65 seminários e 180 palestras com mais de seis mil produtores. Os resultados já são visíveis em algumas regiões cujo índice de perda está abaixo da média (20%). No Vale do Jaguaribe, segundo a Face, a perda ficou em torno de 5%.
“Ensinamos a melhorarem a higienização e manipulação. É importante que eles tenham conhecimento de que o nosso mel é o melhor do mundo, natural, sem traços de agrotóxicos e esse status pode garantir lucro ao apicultor”. A média do lucro líquido é de 48% do valor investido.
O Sebrae aconselha que o apicultor, mesmo diante dos períodos de seca, garanta a alimentação das abelhas, pois é uma forma de garantir que elas não abandonem a colmeia. Outra dica é trocar as rainhas a cada ano por rainhas selecionadas e não ultrapassar a quantidade de colmeias por apiário, que varia de 20 a 50, de acordo com a flora apícola da região.
Dicas simples, mas valiosas que podem ser vitais para reversão de uma cenário de queda na produção. “Quando passei a adotar todas essas medidas sugeridas pela Face e Sebrae o resultado foi positivo. Mesmo com pouca chuva, consegui manter uma boa produção. Apicultores vizinhos, sem o conhecimento técnico, amargaram prejuízos”, finaliza José Almir.
Dicas para uma produção adequada
• Preparar as colmeias antes do início das floradas
• Manter apiários com um número de colmeias adequado para alta produção
• Iniciar a alimentação suplementar de estimulação 50 dias antes da florada
• Durante o manejo, para estimular o crescimento das colmeias, atentar-se à Importância de ampliar o espaço das caixas sempre que necessário para que as colmeias não enxameiem
• Durante a florada, revisar as colmeias a cada sete dias de forma rápida e cuidadosa
Fonte: Diário do Nordeste