O último levantamento do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-CE), de agosto deste ano, mostrou que a frota de Juazeiro do Norte, na região do Cariri, alcançou 124.842 veículos, o que representa aumento superior a 10 mil em apenas dois anos, já que em 2017, este número estava em 114.800. Além disso, se comparado com a última estimativa populacional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a terra do Padre Cícero possui média de um veículo para cada 2,19 habitantes, superando Fortaleza, que possui uma unidade para cada 2,31 habitantes.
O professor da Universidade Federal do Cariri (UFCA), Marcos Timbó, doutor em Engenharia de Transportes, acredita que um dos principais fatores para o aumento da frota é a baixa atratividade e deficiência do sistema de transporte público no Município. “A opção do usuário que mora em bairros que não são atendidos pelo sistema de transporte público ou que são atendidos de forma ineficiente, pois apresentam uma frequência baixa, é adquirir uma motocicleta e realizar mais facilmente seus deslocamentos diários”, justifica Timbó.
Foi com este pensamento que o técnico de informática Lucas Sobreira juntou dinheiro para comprar uma moto para ir ao trabalho. O longo tempo de espera para chegada do ônibus no bairro Leandro Bezerra, onde mora, foi o principal motivo. “Agora, chego em até 10 minutos ao trabalho. Antes chegava em meia hora. Até mesmo o preço da passagem não é muito diferente do que gasto com gasolina”, justifica.
Isto corrobora com um dado curioso: a maior parte da frota de Juazeiro do Norte é de motocicletas (56.649), seguida por automóveis (40.355), e, por último, as motonetas, que alcançam 10.653. Além destes três, outros veículos entram na contagem do IBGE, como ônibus, caminhões, camionetas, entre outros. Já na Capital cearense, por exemplo, os automóveis são maioria (615.433), enquanto as motocicletas são menos da metade (301.303) e, em terceiro, vem as caminhonetes (73.743).
Preocupação
Com população estimada de 274 mil habitantes e território acima de 96% urbanizado, o aumento de veículos traz outras preocupações para a qualidade de vida da população. “O uso de transporte individual em áreas urbanas já adensadas gera uma série de problemas, como aumento dos congestionamentos e dos tempos de viagem; problemas respiratórios; aumento de conflitos entre veículos e pedestres; e crescente no número de acidentes”, enumera o professor Marcos Timbó.
Além de ser a segunda maior frota do Ceará, à frente até do Município de Caucaia, que possui população maior, a terra do Padre Cícero tem uma grande quantidade de população flutuante. O Departamento Municipal de Trânsito calcula que cerca de 10 mil veículos visitam Juazeiro do Norte, diariamente, oriundos de cidades vizinhas, seja pelo comércio, trabalho, educação ou turismo religioso.
“Esse aumento de frota, se não vier acompanhado de uma política pública para a conscientização e fiscalização dos usuários pode gerar muitos problemas para a segurança viária”, alerta Timbó. O professor observa que os acidentes de trânsito também geram elevados custos que a sociedade paga, mas não percebe, como por exemplo resgate das vítimas, atendimento médico/hospitalar, reabilitação, danos aos veículos ou equipamentos urbanos, previdenciários, entre outros.
O médico João Ananias, que atende no Hospital Santo Antônio, em Barbalha, unidade referência em neurocirurgia para 45 municípios, incluindo Juazeiro do Norte, trata o alto número de acidentes de trânsito, principalmente com motociclistas, como um “distúrbio social” na região do Cariri. “É um problema sério e evitável. Muitas vezes deixei de operar um tumor cerebral, um aneurisma cerebral, tive que adiar cirurgias, porque a UTI estava ocupada e não tinha mais vaga”, enfatiza.
Redução
No entanto, essa teoria do aumento de acidentes não tem se concretizado na prática. Segundo o Departamento Municipal de Trânsito (Demutran), ocorreram 785 acidentes em 2016, já no ano seguinte, caiu para 619, enquanto 2018 fechou com 528. Este ano, até novembro, aconteceram 526 acidentes. Os bairros que mais concentram estes episódios são o Centro e Pirajá, áreas comerciais da cidade.
Segundo o diretor do Demutran, Pedro Cipriano, a queda de acidentes aconteceu porque o Município, no passado, contava com pouca sinalização. “Asfaltava as ruas e não sinalizava. Não colocava eixo, linha de bordo, placas”, conta. O efetivo de agentes de trânsito foi expandido (85) e, como consequência, o Município passou a realizar mais blitze. Além disso, o órgão expandiu suas ações de conscientização. Dez pessoas são responsáveis pela equipe de Educação, que visita fábricas, escolas e realizam ações de informação e formação.
Por Antonio Rodrigues
Fonte: Diário do Nordeste